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Durante muito tempo a humanidade ponderou se o holocausto nuclear realmente seria algo real. Durante a época da Guerra Fria houve até mesmo a criação de um relógio do Juízo Final. Fallout 76 é o MMORPG da Bethesda que funciona como se fosse um prequel, trazendo a primeira visão na ordem cronológica desse mundo devastado pelas armas nucleares e o que podemos fazer para tentar restabelecer a sociedade ao que era antes.

Fallout é uma série de jogos distópicos que abordam como seria viver em um mundo assolado por um apocalipse nuclear. Nesse universo alternativo, os EUA vivem em 2077 numa espécie de versão futurística da década de 50. Com a escassez de recursos tais como o petróleo, o mundo se viu obrigado a investir pesadamente em fontes alternativas de energia e uma delas foi a nuclear. Com o avanço mundial da energia nuclear, também houve avanço no campo bélico, resultando no início da Grande Guerra entre EUA e China e, durante o conflito, ambas as nações e suas aliadas dispararam ao mesmo tempo bombas nucleares, fazendo com que a população se refugiasse no subterrâneo por anos a fio e transformando a superfície em um inferno radioativo.

Eu me tornei a morte, destruidora de mundos

Fallout 76 é a primeira tentativa da série em um modo totalmente online, um verdadeiro MMORPG por assim dizer. Trazendo a região dos Apalaches, o game se passa 25 anos após a Grande Guerra e aborda os moradores do Vault 76 na região da Virgínia Ocidental, uma das áreas menos afetadas pelas explosões de acordo com a série.

Imagem do jogo Fallout 76
Mesmo com história fraca, os locais e mistérios do jogo o manterá entretido.

No jogo temos a função de agir como os colonizadores dos Estados Unidos e reerguer o país. Os jogadores irão agir como os pioneiros, desbravando esse novo mundo pós-apocalíptico em busca de redenção para a humanidade, responsável pelo atual estado de desolação total. A proposta é realmente boa, o universo é ótimo, mas a execução é péssima.

O maior problema de todos continua sendo o mesmo dos jogos anteriores da série: a engine. O Gamebryo de Fallout 3 já era uma porcaria e as coisas não melhoraram tanto com o Creation Engine de Fallout 4, o mesmo usado em Fallout 76. Os bugs e glitches que viraram piada por tantos anos se transformaram em uma espécie de tradição, como se não houvesse como evitá-los. No fim os problemas de polimento não geram tantos risos como antes, mas sim uma sensação profunda de insatisfação.

Graficamente, o jogo é só um pouco mais bonito que Fallout 4. Aliás, o game anterior melhorou bastante graficamente após o lançamento de vários patches e DLCs. Mas foi somente graças à comunidade e modders que o jogo ficou realmente mais bonito do que já era, com mods que aplicam efeitos que só PCs bem potentes conseguem processar sem custar muitos frames por segundo.

O mundo de Fallout 76 é totalmente estéril e você andará por horas e horas e não encontrará nenhum NPC humano. Suas interações são todas com máquinas e criaturas que encontramos enquanto exploramos os ermos. A proposta do game era a de que o mundo fosse habitado por humanos reais, logo você só encontra outros jogadores mas nenhum lhe contará uma boa história como os bons e velhos NPCs. Quem acha interessante realizar listas de mercado fornecidas por uma tela? Essa é a sensação que temos ao realizar as quests do game.

Quests o jogo possui em abundância, mas todas sem vida e com jeito de “ir às compras”. O que torna a série Fallout realmente boa são as histórias, as pessoas, as facções, o universo criado para o jogo. O fato de você poder ver o que menos espera é o que torna Fallout uma boa experiência. Ver um homem se tornar o líder de uma facção baseada nos costumes romanos, ver um Ghoul que acredita que você é o super-herói favorito da infância dele, poder ter a escolha de destruir uma cidade e seus habitantes que adoram uma bomba nuclear como uma espécie de Deus… É essa fórmula orgânica que dá vida a esse universo “morto”. Mas Fallout 76 é morto do começo ao fim.

Imagem do jogo Fallout 76
Em algum lugar existe um culto para o Mothman, mas não encontrei eles na cidade de Point Pleasant, nem mesmo no museu em homenagem a lenda urbana do Mothman.

Algo que realmente pode prender a atenção dos jogadores são os diversos mistérios e locais a se explorar, já que não há uma história ou quests interessantes. Explorar o mapa em busca de criaturas diferentes e locais inusitados é o que torna a experiência um pouco mais agradável, mas pode ser extremamente tedioso para o estilo de jogo cruel e sanguinário de alguns gamers que buscam apenas o PvP. Fallout 76 acaba dividindo os jogadores em 2 grupos: aqueles que querem viver uma experiência co-op amigável e aqueles que querem uma imersão completa no nível de Mad Max.

O problema – ou a glória, dependendo do seu estilo de jogar – é que essa mecânica não funciona muito bem. Para poder ocorrer o PvP, um jogador deve atirar no outro e o embate só começa quando o segundo revidar. Caso não ocorra, o duelo não se inicia e, apesar do jogador conseguir causar dano, é um dano extremamente reduzido. Isso gera situações onde jogadores pacifistas evitam atirar em criaturas para evitar que outros jogadores entrem na frente dos disparos, iniciando assim um duelo. Ocorrem também toscas porém engraçadas situações em que os jogadores são caçados, mesmo com dano reduzido, até encontrarem seu fim.

Existem duas abordagens que a Bethesda poderia ter tido e talvez teria uma resposta melhor da comunidade: PvP liberado em áreas do mapa (como vemos em The Division) ou simplesmente botar uma opção no menu para liberar ou não o PvP, alocando o jogador a servidores apropriados e com outros gamers que queiram experiências similares.

Hora de sobreviver, ou tentar

Além das criaturas e jogadores tentando te matar, os gamers pela primeira vez tem de se preocupar sobre como estão cuidando do seu personagem. Com o sistema de alimentação e de hidratação, correr por aí e sair na trocação de tiros com inimigos pode ser uma má ideia dependendo do seu inventário. Com o passar do tempo, nosso personagem começa a sentir fatiga, fome e sede. Ou seja, é hora de pararmos por um instante para podermos “encher o tanque”.

Sempre procure casas abandonadas, corpos largados pela estrada ou caixas. Qualquer fonte de nutrientes é alimento na hora do desespero, mas tente sempre ter uma mochila repleta dos mais diversos tipos de itens de sobrevivência. Afinal, muita dessa comida e bebida foi exposta à radiação e comer muita comida radioativa vai te causar envenenamento, assim como comida podre ou  água não tratada irá fazer com que seu personagem contraia doenças. Caçar animais e outros jogadores que aceitem PvP é uma ótima forma de se manter saudável.

Imagem do jogo Fallout 76
Vai lá boneca, chuta meu portão, você não é o bichão da goiaba?

A experiência com outros gamers não foi nem um pouco agradável, mas claro que não podemos culpar o jogo. Nenhum dos dois quiseram montar equipe quando convidados ou mesmo trocar itens. Serviram para testar os duelos, mas a sorte não estava ao meu lado. Apenas consegui matar um deles, enganando-o e abrindo um alçapão embaixo do jogador com o modo de construção na minha base, fazendo com que ele morresse com a queda.

Falando no modo de construção, ele é uma versão online do modo de construção do Fallout 4. A questão aqui é a seguinte: uma vez que você tenha saído do jogo, o seu Mega Forte Titan 3000 Deluxe irá sumir. Sempre que você deslogar do jogo, no momento em que voltar a sua base terá sido desmontada e terá voltado para o seu C.A.M.P, um tipo de equipamento que permite a construção dentro do jogo. Isso torna a parte de construção em um pé no saco, ao invés de ser algo divertido e a longo prazo.

Imagem do jogo Fallout 76
O sistema de perks por cartas é criativo, mas muito baseado em sorte.

Ao explorar, montar, caçar e batalhar, o jogador ganha pontos de experiência que irão servir para que o personagem suba de nível e se torne mais apto a sobreviver em Apalache. Diferente dos jogos anteriores, dessa vez o jogador irá escolher entre cartas para acionar suas vantagens. O problema é que essas cartas são aleatórias e vem em pacotes sortidos que você ganha em determinados níveis. Alguns dizem que isso torna o jogo mais interessante por fazer com que o jogador se adapte, mas parece besteira.

Adaptação já vem subentendida na questão da evolução. Um jogador que quer ser um personagem de Stealth, não verá serventia em uma carta de armamento pesado e vice e versa. Diferente também dos jogos anteriores, para aumentarmos o nível de determinada habilidade, é necessário ter outras daquela carta específica no intuito de as combinar para aumentar seu nível, aqui representado por uma, duas ou três estrelas. Ou seja, mais dinheiro gasto na Loja Atômica ou se adaptar e jogar como puder ao invés de criar aquele personagem maroto que você queria.

Imagem do jogo Fallout 76
A única coisa legal nessa tela é a 3° imagem referenciando o filme: Dr. Strangelove or: How I Learned to Stop Worrying and Love the Bomb.

Algo que devo tirar o chapéu para os jogo são os locais magníficos. Mesmo sendo muito parecido com Fallout 4, o jogo possui cenários e locais interessantes. A Virginia Ocidental é muito bem retratada, dando uma visão diferente aos jogadores. Ao invés de áreas totalmente desoladas por inteiro ou com vegetação baixa, somos apresentados a um local com uma vegetação abundante e verdejante.

Em contraste temos os locais sombrios, onde uma sensação de melancolia e mistério reinam entre as montanhas. Ao chegarmos mais próximos do local onde uma das bombas explodiu, o terreno vai se tornando mais seco, mais morto e mais desolado, com criaturas cada vez mais agressivas e ferozes. As estruturas espalhadas pelo mapa são realmente magníficas, com capricho nos mínimos detalhes.

Imagem do jogo Fallout 76
Será que se ele tivesse passado protetor solar fator 60 ele teria ficado assim?

Fallout 76 tem um repertório de criaturas bem criativo, porém curto. Temos a adição de lendas urbanas como as criaturas de Flatwood, o Mothman, Wendigo e Snallygaster. Também vemos os super mutantes que não são nem um pouco tão aterrorizantes e grandes como nos outros jogos da série. Para aqueles que não conhecem a história, além dos Ghouls ferais que seriam os zumbis do universo de Fallout, os super mutantes são humanos que foram contaminados pelo F.E.V (Virus de Evolução Forçada). Esse vírus acabou se espalhando acidentalmente após as explosões.

O combate em Fallout 76 também é inferior se comparado aos outros jogos da franquia. Muitas vezes erramos tiros impossíveis de errar com ataques não são registrados pelos servidores, que são verdadeiras gambiarras do mundo moderno. O sistema VATS também é muito inferior ao original, não sendo nada mais do que um “auto-aim” bem mal acabado e que pode acabar bugando as criaturas que estiverem na sua mira. Ainda falando sobre os servidores, é possível ver hackers se divertindo às custas da engine e códigos do jogo, spawnando e duplicando o que bem entendem pelos servidores.

Imagem do jogo Fallout 76
Quem nunca quis ser um Kangurutoupeira com uma escopeta?

Fallout 76 é uma ótima ideia, que possui um futuro promissor se ajustado da maneira correta, o que não está acontecendo. Mesmo com locais bonitos, uma proposta interessante e uma trilha sonora divertida e que encaixa completamente no seu universo, o jogo cai por terra e cava mais um pouco afundo. Assim como o quarto game principal, Fallout 76 ficará melhor só com o passar do tempo, após lançarem patches de correção de bugs.

Não é a toa que os fãs estão revoltados. Nos trailers tivemos a impressão de que iríamos viver uma aventura definitiva no mundo de Fallout. Sem contar que há diversas contradições com histórias e itens de jogos passados. Se você gosta da série Fallout, sugiro esperar uns meses antes de começar a jogar. Em seu estado atual, Fallout 76 é uma verdadeira gambiarra feita para lucrar em cima do hype dos fãs.

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