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Produzida pela Eidos Interactive e razoavelmente popular no PS1 na década de 90, a franquia Fear Effect é daquelas em que sempre tive um ligeiro interesse em conhecer, mas que nunca joguei. Com o cancelamento do terceiro jogo, Inferno, que estava para sair no PS2, a série então foi dada como morta e esqueci de sua existência. No entanto, a Square Enix anunciou não há muito tempo atrás que ressuscitaria velhas propriedades da Eidos, agora sua subsidiária. Com isso nasceu Fear Effect Sedna, desenvolvido pela Sushee com apoio da Square Enix Collective.

Fear Effect Sedna traz de volta os mercenários Hana, Rain, Deke e Glas para uma nova aventura ao redor do mundo, que envolve a deusa do mar Sedna. Logo de cara, tudo parece ter saído direto dos anos 90, com a exceção do relacionamento entre as heroínas Hana e Rain, bem menos fetichizado desta vez. A amálgama entre thriller de espionagem e mistério místico também promete, além da variedade de personagens.

No entanto, a narrativa do game e o desenvolvimento de seus heróis e heroínas não demoram até se mostrarem como anêmicos, no máximo. Dublagem e diálogos péssimos apenas agravam isso, o que configura um problema, pois a fase final do jogo dá ao jogador escolhas que afetam a narrativa, porém o envolvimento com a última é tão mínimo que não há motivos para se importar (testei os três finais possíveis mas não há nenhuma recompensa digna de nota além de conquistas/troféus). Apenas a trilha musical atmosférica com elementos de synth se salva, embora seja pouco memorável. As cenas animadas, por sua vez, seguem a mesma estética vista nos games originais, com modelos de personagem caprichados. Mas a dublagem mal-encaixada e as animações não muito fluidas acabam prejudicando seu impacto visual.

Efeito Frustração

Imagem do jogo Fear Effect Sedna
Um dos poucos e bons momentos de furtividade.

A primeira impressão do gameplay não é das piores. O game começa com uma boa mistura de furtividade e puzzles criativos, com direito a cones de visão dos inimigos e pequenos detalhes espalhados pelos cenários, tudo em perspectiva isométrica (ex: Diablo), que inicialmente parece acertada.

Há também algumas ocasiões realmente criativas de jogabilidade, como quando o jogador deve assumir o papel de garçom em uma festa repleta de convidados. Os gráficos no estilo cel-shading então ajudam a conferir algum estilo aos modelos de personagem, assim como a taxa de quadros em 60fps confere uma certa fluidez, embora o efeito gradativo ao revelar cenários internos seja feio de se ver.

Contudo, o que poderia ter sido um prazer culposo logo se torna um genérico shooter, que conta com um falho sistema de mira travada (no lugar de uma mira manual com o analógico direito, que além de habitual poderia ter sido bem mais funcional).

Imagem do jogo Fear Effect Sedna
Lutas com monstros ficam tediosas rapidamente.

Já o modo estratégico, que congela o tempo e dá a chance de controlar as ações dos personagens com precisão, pouco ajuda. Além disso, a falta de um botão de esquiva e outras opções de movimento fazem de Fear Effect Sedna um simulador de bucha de canhão, em que 90% do tempo é gasto tomando tiros de todos os lados (e torcendo para matar antes de morrer).

Outros problemas com o combate, que é o grosso da experiência, são a péssima resposta do gatilho direito e a baixa cadência das armas utilizadas pelos personagens jogáveis, que juntas criam sérias desvantagens em algumas situações encontradas mais tarde na história.

Alguns inimigos desarmados ainda contam com uma área de ataque incoerente, ferindo o jogador a metros de distância quando não deveriam. Com nenhum sistema de upgrades e habilidades que deixem o jogador mais poderoso, não há desafio nem satisfação ao persistir pela campanha de 6-7 horas; há apenas frustração por suas claras limitações.

Atrás de seu tempo

Imagem do jogo Fear Effect Sedna
Nada costuma se destacar nos cenários.

Fear Effect Sedna é, no fim, tudo que uma ressurreição não deveria ser. Em uma época de boas histórias e sistemas de combate cada vez mais eficientes, o game se destaca negativamente e parece atrasado na sua falta de sofisticação narrativa e técnica, além de nenhum incentivo ao replay (o que não significa querer rejogá-lo).

Pelo menos poderia ter sido uma cápsula do tempo, transportando os jogadores de hoje para um estilo de jogo mais tradicional, mas nem isso transpareceu. Furtividade e puzzles desaparecem quase que inteiramente, e Sedna perde qualquer traço de identidade.

Com o remake do primeiro jogo original anunciado já para 2018, intitulado como Fear Effect Reinvented, a Sushee tem muita lição de casa a fazer para que possa conceber uma experiência digna do tempo e da atenção dos gamers. Torço para que seja o caso.

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