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Depois de seis jogos em pouco mais de uma década (contando Judgement e o remaster do primeiro game), o estúdio The Coalition mostra que a série Gears ainda tem para onde evoluir: Gears 5 é um game mais “humano”, com personagens mais carismáticos, com uma campanha incrivelmente bem dirigida, com jogabilidade ainda melhor que a dos anteriores e um multiplayer completo. Falhas? São poucas e estão detalhadas mais à frente.

Quero fugir de spoilers logo de cara (e durante a campanha as surpresas são muitas mesmo), mas em Gears 5 você assume o comando e JD e Kait – cada um por mais ou menos metade da campanha. Já vi gente reclamando disso no Reddit e afins, mas sinceramente não quero julgar as escolhas de roteiro, já que de qualquer forma os acontecimentos vão surpreender até mesmo quem nunca jogou um Gears na vida e não conhece muito desses personagens.

Como eles fizeram isso?

Logo de cara, nos primeiros minutos, dá para perceber que os gráficos foram uma preocupação real aqui. Gears 5 é muito impressionante mesmo. Ouso dizer que trata-se de um feito tecnológico que o posiciona no mesmo nível de Forza Horizon 4, God of War e Marvel’s Spider-Man como os maiores expoentes em matéria de esmero gráfico da geração atual. Joguei em um Xbox One X e o game já te surpreende ao rodar a 60 quadros por segundo mesmo na campanha. Nos jogos anteriores, ou rodava a 60 quadros apenas no multiplayer ou era 30 quadros em todos os modos. Eu não fiz e não tenho como realizar uma contagem de pixels, mas o pessoal do Digital Foundry apurou que, no Xbox One X, Gears 5 roda em uma resolução dinâmica – dependendo do cenário e de quantos inimigos houver na tela, a resolução pode oscilar entre 1584p e 2160p (que é o famoso 4K nativo).

Imagem do jogo Gears 5
Olha aí o fanfarrão Fahz, seu novo companheiro de aventuras.

É muito, mas muito difícil perceber essa oscilação de resolução, e ela só ocorre para que se possa manter a taxa próxima do alvo de 60 quadros. Mesmo assim, há algumas poucas quedas que levam o fps à casa dos 52 a 55 quadros por segundo. Dura pouco, e quando acontece é até perceptível. Isso não tira o mérito da The Coalition de tentar entregar um triple A com esse nível imenso de detalhes, a uma resolução que chega aos 4K, e que ainda por cima roda a 60 fps na maior parte do tempo.

A cada capítulo, Gears 5 impressiona mais e mais no visual. Todos os efeitos possíveis, como areia e névoa, são reproduzidos com um nível de qualidade e detalhamento que eu jamais havia visto em games de console. Da mesma forma, o jogo de luz em ambientes escuros beira o inacreditável (quando a única fonte de luz vem da lanterna do Jack – falarei mais sobre ele a frente – e de certos leds na roupa dos personagens). Tudo bem, quem tem um PC equipado com alguma GeForce da série RTX vai dizer que isso é coisa de criança e que o ray tracing acabou com a graça de qualquer outro tipo de implementação de efeitos desse tipo, mas sinceramente fazer gráficos desse tipo em um console de 2017 e que saiu por 500 dólares é um feito e tanto e que deve ser enaltecido.

Imagem do jogo Gears 5
Acredite: essa imagem não faz jus ao esmero gráfico de Gears 5.

Como nem tudo é perfeito, Gears 5 (e eu ainda não me acostumei com o fato de terem tirado o “of War” do título) tem sua cota de pequenos percalços: já aconteceu comigo, mais de uma vez, de armas e até alguns pedaços de inimigos abatidos ficarem meio que “flutuando” após caírem sobre um terreno acidentado. Para alguns jogadores, isso pode tirar um pouco da imersão. Eu não me incomodei muito, mas entendo a frustração de quem espera polimento total de um título triple A.

Uma jogabilidade cremosa

Em matéria de jogabilidade, Gears 5 parece ser a evolução definitiva da série. Os controles respondem com uma leveza digna de Call of Duty. Quem jogou apenas os Gears antigos com certeza vai estranhar (no bom sentido) a falta daquela movimentação meio dura e trambolhenta, em que os personagens pareciam grandes e pesados demais. É um jogo com movimentação muito mais ágil e muito, mas muito mais gostoso e agradável de jogar que os anteriores. Se eu fosse recomendar um ponto de partida para quem nunca jogou algum game da franquia na vida, seria Gears 5 com certeza. Quem quiser seguir esse conselho e não souber nada sobre a história dos games anteriores, o novo título ainda traz dois vídeos que explicam resumidamente como tudo aconteceu até agora.

Como se não bastassem os excelentes controles, a The Coalition ainda fez um trabalho primoroso no quesito de acessibilidade. Sim, esse tema geralmente não chega nem a fazer parte da maioria das análises, mas dessa vez é necessário deixar um parágrafo para destacar o que o pessoal do estúdio fez: há opções para adaptar as cores para vários tipos de daltonismo, é possível aumentar tamanho dos textos, as legendas trazem descrição dos sons (indicando se a música subiu ou abaixou, ou se houve algum estrondo ou explosão, e ainda qual personagem está falando no momento), e ainda dá para configurar os controles, incluindo um menu apenas para o Adaptive Controller, de todas as maneiras possíveis, incluindo uma opção que deixa a movimentação apenas com um analógico, como nos games da era pré-analógicos lá dos anos 1990. Como se não bastasse, é possível ativar mira automática e ainda tirar o “recoil” das armas – essas duas opções, claro, só funcionam na campanha. Quem precisa desses recursos de acessibilidade não vai se decepcionar com Gears 5, e fica o recado para que outras desenvolvedores sigam o exemplo.

Imagem do jogo Gears 5
O estúdio The Coalition mandou muito bem na questão da acessibilidade e isso aí é só uma parte do menu.

Como novidade na trama, Gears 5 introduz Jack, o simpático drone com que acompanha nosso heróis durante a campanha. A imprensa, principalmente internacional, tem adorado dizer que Jack trouxe elementos de RPG para Gears 5, mas eu não ouso ir tão longe. Na verdade, você junta peças de upgrade e pode utilizá-las em Jack para ele melhorar suas habilidades. É um sistema bem simples e linear, e prestando atenção no cenário dá para basicamente atualizar quase tudo em Jack durante a campanha. O que o Jack faz é basicamente te ajudar na campanha: a habilidade principal dele é acionada com o botão Y e pode ser, por exemplo, uma melhora na vida do seu personagem por um tempo ou um período de invisibilidade. Segurando LT e apertando Y, é possível utilizar a outra habilidade – uma bem útil é a de eletrocutar inimigos próximos, por exemplo. Jack é uma adição bem vinda e quem não curte RPG ou torceu o nariz quando leu a respeito dele não precisa ficar preocupado – ele só ajuda mesmo e ninguém precisa ficar encucado pensando em qual habilidade merece o próximo upgrade, porque a ordem dos upgrades nem vai interferir na suas chances de ir bem na campanha.

Pegue seu skiff e…

Gears 5 também é o primeiro da série a ter uma espécie de “hub” que interliga as missões principais. No meio do caminho entre as missões, existem certas sidequests, que na maioria das vezes são bem simples – às vezes é entrar numa cabana, matar meia dúzia de inimigos e avisar pelo rádio que encontrou alguma coisa. O game tenta mesmo evoluir nessa questão da (falta de) linearidade e faz isso muito bem, sem alienar quem apenas quer meter bala. Tanto adição do Jack como o backtracking causado pelo tal uso do hub não deixam a jogatina devagar nem comprometem o ritmo da campanha.

Imagem do jogo Gears 5
Até dá para ir a pé, mas é melhor com o skiff, né?

A travessia pelos hubs se dá por um skiff – o nome disso em português é esquife mesmo, mas pense num trenó para quatro pessoas que funciona com vento. Funciona bem, ė rápido, os caminhos não são tão longos a ponto de cansar e nem tão curtos a ponto de ter se arrependido de ter subido no tal skiff. Por falar em fluência da campanha, Gears 5 é o game da série com a campanha mais legal de jogar, talvez empatado ali com Gears 1 ou 3, pelo menos na minha opinião. É o primeiro Gears que me fez me importar de verdade com os personagens e pelos diálogos. O memorável Ato II tem mais falatório e exploração do que o que se espera de um Gears, mas acredite, tudo faz sentido: há momentos em que você está lá, tão envolvido com o cenário e com ambientação, que até esquece que aquilo é um Gears. Me lembrou Bioshock em certos momentos, no sentido de que o game realmente tenta te trazer para dentro do jogo por meio da ambientação, da direção de áudio e dos detalhes no cenário.

Temos um personagem novo na equipe, Fahz, que é tão insuportavelmente chato que aquele músico Drake e o lutador fanfarrão Connor McGregor são gente fina perto dele. Mas olha só, Gears 5 é tão bem escrito e com diálogos tão legais que o temperamento desse cara ajuda a dar uma quebrada na sobriedade da trama. Não quero entrar em spoiler, mas a campanha é basicamente toda centrada em Kant, e ela é Fahz não se bicam mesmo. Vai por mim: eu geralmente fico incomodado com diálogos em geral em games de tiro, mas Gears 5 conseguiu manter minha empatia em quase todos os momentos.

O multiplayer mantém o nível de sempre

Com relação ao multiplayer, Gears 5 traz o padrão de excelência da série, com todos os modos clássicos (como King of the Hill, TDM e Escalation), o clássico e sempre divertidíssimo modo Horda, e o novo modo Escape – esse foi alardeado como grande coisa, cheio de marketing, mas pareceu ser uma variação meia boca do Horda em que o objetivo é ir de um ponto a outro do mapa, mas com munição limitadíssima. Não gostei tanto, mas deve ter seu público. E pra quem não gostar, tem o Horda convencional né. A campanha pode ser jogada em até três jogadores (sendo que um vai ser sempre Jack), e com opção de tela dividida, cada vez mais rara em games do gênero.

Imagem do jogo Gears 5
Uma das habilidades de Jack é te deixar invisível por um certo tempo.

Não recebemos uma chave para Gears 5 antes do lançamento, e por isso tive de começar a jogar na data do lançamento da versão Ultimate. Por um lado, isso foi bom para ter a experiência que todos os consumidores finais tiveram no lançamento, sem estar naquela maravilha de pré-lançamento sem servidores lotados nem nada disso. Os servidores têm funcionado bem, as partidas multiplayer são encontradas rapidamente, mas vez ou outra a conexão caía e me tirava da partida. Um outro probleminha foi na campanha, em que uma questão de falta de sincronismo dos servidores fazia a exibição de estatísticas (como tempo de jogo e número de colecionáveis) ser exibida erroneamente. Eu cheguei a estar no Ato II da campanha e o menu de estatísticas insistia que eu tinha 12 minutos de jogo. Depois foi corrigido, mas fica o alerta para ninguém se desesperar se o jogo parecer que não está contando direito suas estatísticas. A The Coalition tomou nota dos problemas e prometeu alguns bônus para quem estava nos servidores nos primeiros dias após o lançamento.

O campeão voltou

Com Gears 5, a The Coalition mostra que a série definitivamente está em boas mãos. Gears of War 4 e o remaster do jogo original foram bons indicativos do empenho dos caras, mas Gears 5 chegou para provar de vez que a série iniciada pela Epic lá em fins de 2006 definitivamente ainda tem muita lenha para queimar. É sempre bom lembrar que o game saiu pelo preço padrão dos lançamentos, mas a edição Ultimate (com bônus de XP e outros iten extras) está incluída na assinatura do Game Pass Ultimate.

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