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Um dos grandes clássicos do tiro em primeira pessoa chega às mãos dos jogadores do século XXI em The Master Chief Collection. Halo 3 vem com todo o peso e pompa de ser o grande título da série por vozes unânimes dos grandes fãs do que pode ser considerada a mais prolífica saga de ficção-científica dos videogames.

Lançado em setembro de 2007 somente para Xbox 360, desenvolvido pela Bungie e publicado pela Microsoft, Halo 3 acumulou US$ 170 milhões no primeiro dia de vendas e US$ 300 milhões durante a primeira semana. Foi o jogo mais vendido nos Estados Unidos em 2007. Porém, o que ele representa em 2020?

Baby, I can see your halo

Não havia jogado Halo 3 anteriormente, vale ressaltar. Apenas tive experiências com o primeiro jogo da série e, mesmo assim, algum tempo após seu lançamento. Então não sou exatamente o que se chamaria de um fã da série, apesar da sempre presente vontade de saber mais sobre o que tanto se falava nos círculos sociais. Além disso, nunca fui e continuo não sendo fã de FPS em consoles – ou melhor, em controles – então a oportunidade de ter isso no meu PCzinho do sucesso seria perfeito.

Imagem de Halo 3
Eu nem precisava ver o que está acontecendo mesmo.

De antemão, preciso tomar um tempo para elogiar a iniciativa The Master Chief Collection de reunir os jogos da série em um só local com um gerenciamento fácil de entender e manter, podendo escolher quais campanhas e quais multiplayers você quer instalados no seu computador a cada ponto.

Qual não foi minha surpresa ao iniciar Halo 3 e me deparar com uma pancada em forma de sinfonia. A sensação de que estou entrando em uma missão especial me abraçou totalmente, a ponto de dar aquela ajeitada na cadeira, estalar os dedos e virar o boné para trás. A cena inicial dá um bom panorama de onde a narrativa parou e para onde estamos indo, juntamente com a equipe de dubladores mais cariocas da história do universo – um abraço pro Aquino, que deve ter feito parte da equipe pelo incrível sotaque. E foi aí que a diversão acabou.

Vamos pelas partes mais rápidas primeiro. Não que eu esperasse que a parte gráfica fosse ser um primor, visto que Halo 3 não recebeu aprimoramentos do seu lançamento original em 2007. Porém – e isso pode ser minha memória me pregando uma peça aqui, mas acredito que não – outros jogos da época já pareciam bem mais bonitos. Contudo, isso não foi o meu fator primordial de incômodo.

Imagem de Halo 3
GUNS AKIMBO!

Quando o jogo soltou minhas rédeas e fiquei solto no mundo, aí sim os problemas vieram com força. Todos sabemos que as piores fases dos jogos são as repletas de gelo. Isso é fato, conhecimento comum, qualquer pessoa que se atreva a ir contra isso está sumariamente errada e pode devolver sua carteirinha gamer. Tendo relembrado esse postulado da vida, minha sensação permanente em Halo 3 é que estava em uma eterna fase de gelo. Master Chief se move em uma velocidade agoniantemente baixa, como se estivesse constantemente sobre gelo fino.

Aliás, John 117 – o Spartan – poderia se chamar Hélio, porque não faz sentido algum ele se mover de uma maneira tão estranhamente limitada, mas ter saltos que dariam inveja a um certo encanador italiano. A única explicação que posso pensar é que a gravidade é seletiva e, uma vez que você se solte do chão acaba por sair voando, só isso explica mesmo.

Imagem de Halo 3
Todo FPS dos anos 2000 tem a mesma cara, né?!

Aí você pensa comigo: “mas é um jogo de tiro, o que importa é ser gostoso atirar!”. Então segura essa @: não tem absolutamente graça nenhuma atirar em nada nem ninguém em Halo 3. Nenhuma das armas tem peso, aquele impacto gostoso de mandar um balaço – ou laser, granada, espinho, seja lá o que for – na cabeça de alguém nunca aparece. Fiquei todo o tempo pensando se estava fazendo algo errado pois constantemente segurava o botão de atirar estando a poucos metros dos inimigos e esperando alguns segundos para as esponjas de balas finalmente se entregarem. Depois de testar diversas possibilidades, ainda fiquei encucado se os inimigos são fortes demais, se as armas são fracas demais ou se o jogo está pedindo alguma outra coisa de mim.

Halo 3 ou Call of Duty 4?

Fazendo um breve parêntese para falar sobre a narrativa, Halo 3 é o ponto de fechamento da história começada com o primeiro jogo da série, da batalha entre os humanos e os covenant. Não que o jogo leve muito profundidade narrativa em consideração, visto que Master Chief é um office boy espacial indo do ponto A ao B atirando em tudo o que se mexe. Em resumo, Halo 3 reúne dois grupos que tenho um tratamento todo especial: militares e fundamentalistas religiosos. Aquele abraço para quem se encontra nestes grupos e espero que você receba todo o ódio que eu conseguir despejar pelos meus poros.

Como se não bastasse isso, outras três coisas foram os pontos que me fizeram parar de jogar – e provavelmente não dar outra chance para Halo: a IA dos companheiros – principalmente em comparação com a dos inimigos, a falta de indicativos visuais e a mania de por veículos onde não precisa.

Imagem de Halo 3
FOI RÁQUER!

Não sei direito se por um problema com a Master Chief Collection ou algum outro tipo de configuração, mesmo estando em português, o jogo decidiu que não exibiria as legendas durante o gameplay e eu que me virasse com isso. Isso, somado ao fato de que diversos personagens falam constantemente, fez com que – em alguns momentos – eu não conseguisse compreender exatamente qual era o próximo ponto. Somado à falta de mapas ou sequer um leve apontamento, fez com que eu rondasse vez após vez por mapas sem carisma ou características especiais por mais tempo do que gostaria.

Vamos dar as mãos dos dois pontos que mais recebem o meu ódio em Halo 3: IA desinteligente e as merdas dos veículos. Por que juntei esses dois? Porque eles andam juntos, ora bolas. Sempre que temos um veículo em mãos, temos nossos companheiros militares – não falha uma oportunidade de um militar mostrar toda a sua proatividade em ser inútil – quando não sendo incapazes de matar um alien sequer operando as armas (do veículo ou suas), eles mostram quão imbecis são ao vez após vez jogar os transportes de penhascos ou ficando travados em obstáculos ínfimos pelo terreno.

Imagem de Halo 3
Isso aconteceu TANTAS vezes com a IA dirigindo…

Deixo neste momento o meu protesto e, acima de tudo, minha dúvida sobre porque colocar tantas partes de veículos em um FPS? Ainda mais quando é simplesmente ruim. Half-Life 2, três anos antes, fez isso melhor – BEM MELHOR. Para piorar tudo, o controle horizontal padrão do veículo é com o mouse. Me digam quem foi o responsável por escolher isso para enviar um ticket terapia para essa pessoa. Não tem explicação para uma decisão tão ruim que não seja anos e anos de danos psicológicos severos.

Mas aí você vem bater na minha inbox querendo me xingar e dizer: “tu tá esquecendo que é um jogo de 2007, seu maldito sacripanta, pega mais leve!” E quer saber por que não vou amenizar em nada? Porque outros dois jogos que foram lançados no mesmo ano trataram de resolver absolutamente todos os pontos que citei aqui – aliás, ambos ganharam prêmios de jogo do ano, coisa que Halo 3 não conseguiu e tá explicado o porquê – Bioshock e Call of Duty 4: Modern Warfare. Duas obras estupidamente melhores, que marcaram época e influenciaram todos os FPS desde então.

Imagem de Halo 3
Eu depois de algumas horas de jogo.

Com isso, posso finalmente dizer com propriedade que Halo 3 é ridiculamente superestimado. Não consegue ser uma boa obra nem comparado com jogos similares lançados antes, com menos orçamento e menos fanfarras. Só alcançou o patamar que chegou pelo marketing e – como ex-dono de um Xbox 360 – falta de melhores exclusivos da plataforma.

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Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024