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Muitas vezes buscamos em um lançamento algo que possa ser melhor ou igual à nossa última aventura inesquecível. Hob vai além dessa expectativa e nos apresenta uma experiência que resgata nossa infância como se estivéssemos jogando pela primeira vez algo que conseguisse misturar aventura, plataforma e metroidvania. Construindo sua própria identidade, o trabalho da Runic busca em diversos títulos inspirações para, no fim de uma jornada de mais ou menos 10 a 15 horas, apresentar algo inesquecível e que com certeza pode entrar na competição de título do ano.

Com um design extremamente competente, e trilha sonora do brilhante Matt Uelmen (Diablo, Starcraft, WoW e Torchlight), que consegue pontuar o estilo dos ambientes e sentimentos que os desenvolvedores buscavam transmitir, a mesma empresa responsável por Torchlight retorna em 2017 com um personagem marcante e uma história envolvente. Com muitos quebra-cabeças, esse mundo misterioso mostrará como é possível criar uma narrativa sem falas, textos e até mesmo sequências animadas.

Tudo está vivo

Sem qualquer explicação ou tutorial, iniciamos na companhia de um robô gigante que nos leva para fora do que parece ser nosso local de confinamento. Com alguns passos pela natureza, nosso personagem sem nome e voz acaba se impressionando com a beleza da flora e fauna ao seu redor. Sua curiosidade logo cria a primeira surpresa e que também nos leva à principal mecânica criada pela Runic: nosso herói acaba perdendo um dos braços e ganha uma manopla mecânica do seu amigo metálico que nos acompanha nesse confuso e estranho início.

Um mundo que respira e responde à sua interação

A partir desse momento estaremos livre para andar por um extenso mapa que mescla a natureza com uma antiga energia, além de sofrer com a presença maligna de uma ameaça tóxica e com seus violentos guardiões. Nossa principal função é eliminar esse mal e reconstruir todas as várias áreas que se encontram sem energia, desoladas e desconectadas.

O melhor de Hob é perceber que a cada nova área encontrada você consegue conhecer um pouco mais sobre essa misteriosa história, e todas as consequências da sua exploração, seja com o personagem principal ou com o ambiente, são plausíveis e fazem parte da colcha de retalhos que vamos construindo ao longo do jogo. Mesmo sem nenhuma palavra inteligível, ainda temos a chance de conquistar dois finais diferentes e que colocarão sua interpretação em cheque. Os desenvolvedores foram extremamente criativos ao desenhar o mundo capaz de trabalhar a dualidade entre o certo e errado, o bom e o mal, ao mesmo tempo em que brinca sobre o orgânico coexistir com a tecnologia.

Em constante transformação, confirmando a maestria no level design

Seu principal papel será, além de eliminar as ameaças, também trazer a vida de volta ao seu habitat original. Para isso você contará com, além da magia azul presente em todos os lugares, muitas engrenagens, mas não pense que elas estarão gratuitamente ao seu dispor. Todas engrenagens, alavancas, botões e qualquer outro elemento que não seja da própria natureza, com certeza estarão ao seu dispor para interação. E tudo só será possível de interagir graças à manopla do golem de metal que, com o desenrolar do jogo, também sofrerá alterações e ganhará novas funcionalidades. Falando em alterações, o seu progresso também fará com que a paisagem se transforme para que você ganhe acesso aos diferentes locais; diferente de outros metroidvanias, em Hob você fará terrenos subirem ou descerem para alcançar seu objetivo final.

Construindo um mundo perfeito

O trabalho da Runic foi perfeito quando reparamos que um bloco que precisa ser empurrado percorre um caminho repleto de customização, e com motivo para isso, não apenas um leva e trás gratuito. Detalhes no trilho encaixam perfeitamente com o design escolhido para esse item, da mesma forma como o ativar de engrenagens faz o mapa se transformar e criar conexões perfeitas com encaixes no que antes era apenas um abismo. Nem sempre será fácil chegar onde queremos, necessitando de mais exploração e ligações para a energia percorrer um longo caminho até habilitar o uso de certos mecanismos para liberarmos passagens obrigatórias. Será na tentativa e erro, com um imenso aprendizado do início ao fim, que seguiremos pelo vasto mapa e com poucas dicas, passando por descobertas gratificantes, até chegarmos onde realmente precisamos, mas sem aquela impressão de tempo perdido ou desafios bobos para aumentar o tempo do jogo.

Ameaça em todos os lugares

Tudo parece respirar ao mesmo tempo em que o metal dos elementos passíveis de interação integram brilhantemente os cenários. Sem precisar de destaques que quebrem a nossa imersão, com o desenrolar da história você aprenderá o que pode ou não fazer, com o que interagir, quais caminhos costumeiros podemos seguir e até decorar os principais elementos que desencadeiam os principais acontecimentos.

Essas mudanças constantes também são acompanhadas pelo excelente trabalho sonoro, seja pelo sons do metal rangendo ao trazer as terras para o mesmo nível, ou mesmo pelos barulhos da natureza ao redor, o jogo conta com um cuidado em criar uma imersão capaz de nos fazer perder a noção do tempo. Isso sem contar a música que sempre aparece para pontuar os principais acontecimentos dessa história de sobrevivência, exploração e heroísmo.

Não é somente o mapa que sofrerá alterações, você e suas habilidades também ganharão upgrades

Como se Ico e Ori encontrassem The Legend of Zelda, Hob tem o que existe de melhor dessa união inesperada: beleza, jogabilidade simples e grandes chances em viciar qualquer um que iniciar essa jornada. Sem grandes pretenções, é possível perceber que os desenvolvedores se preocuparam em criar algo familiar, ao mesmo tempo em que tem sua identidade própria. Tudo isso a ponto de você se familiarizar com o herói e reconhecer, depois de algum tempo de jogo, os caminhos que precisa percorrer. E sabe como isso fica ainda mais fácil? Essa junção de ambientes vivos podem ser avistados de onde você estiver! Breath of the Wild e a séries Souls já fizeram isso antes, mas nunca em um jogo de aventura em plataforma.

Uma aventura inesquecível

Mesmo os games mais memoráveis possuem suas falhas e com Hob não é diferente, pois a ambição em fazer um mundo vivo e capaz de ser explorado sem a necessidade de loading tem seu preço. Em vários momentos a taxa de quadros caiu e até mesmo travou, causando o encerramento do aplicativo no PS4; sem contar que algumas vezes meu personagem ficou preso em um espaço invisível do cenário por algum movimento errado. Nada que resetar o jogo não tenha resolvido e espero que um próximo patch possa resolver esses pequenos problemas, mas para quem busca algo ainda mais bonito e sem limitações técnicas, a versão de PC entrega perfeitamente um jogo sem erros.

Combinação de personagens interessante e que reforça a dualidade entre natureza e tecnologia

De longe esse é um dos títulos que merecem estar na briga pelo prêmio de melhor jogo do ano. A Runic conseguiu entregar um game completo e capaz de divertir desde os mais inexperientes até os mais exigentes, talvez sendo uma gratificante escolha para quem busca algo diferente do mais comum no mercado atualmente. Com uma bela história e com abertura para interpretações diversas, além de aplicabilidade para a nossa realidade, esse é mais um jogo que consegue impressionar do início ao fim, principalmente pelo desfecho que com certeza deixará você em dúvida sobre qual caminho seguir. Conselho? Faça os dois finais! Vale a pena.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024