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Um alien parasita chega à Terra e assume o controle de variados humanos, pulando de corpo em corpo para estender sua sobrevivência, e passa a ser caçado em uma metrópole retrofuturista onde todos saem às ruas para resolver o assunto no soco, tiro, corrente e outros armamentos inusitados. A princípio, HyperParasite soa como uma mescla entre dois clássicos de John Carpenter, O Enigma de Outro Mundo e Fuga de Nova York, o que já prepara o apetite para o que vem a seguir. 

O jogo da Troglobytes não só presta homenagem a este tipo de produção oitentista com êxito, como acaba sendo uma epítome do que havia de melhor no cinema de gênero da década de 80 em formato de jogo bullet-hell / twin-stick. Não faltam referências e trocadilhos com figuras conhecidas, como Michael J. Fox em Teen Wolf, John McClane de Duro de Matar e até Schwarzenegger em Comando para Matar, tudo feito na base da livre associação e com uma pitada adicional das sátiras de Paul Verhoeven.

Colecionador de humanos

Ao invés de incorporar tais elementos à simples narrativa, onde a população da cidade persegue o parasita a mando do presidente mal-encarado – com tapa-olho, é claro -, essas referências surgem na forma destes cidadãos que tentam nos exterminar, e que melhor do que isso, são também possíveis novas formas de vida para o parasita assimilar. Isso mantém o loop de gameplay roguelite especialmente satisfatório e convidativo.

Imagem do jogo HyperParasite
Pensando bem, faz sentido.

Há cinco atos em HyperParasite, e cada um deles se estrutura como uma fase aleatoriamente gerada com dois caminhos alternativos, ambos divididos em salas repletas de inimigos. Ao chegar no final da fase, o parasita encontra um chefão e passa para a próxima, onde o processo se repete. Se o parasita morrer neste processo, o jogador retorna ao início do ato 1. Pode soar frustrante, mas na realidade o jogo consegue ser razoavelmente prazeroso.

Ajustadas as expectativas quanto ao formato roguelite, HyperParasite oferece sua própria forma de recompensa periódica, e essa seria o roster de cidadãos a se assimilar. Quando enfrentamos uma classe de cidadãos pela primeira vez em uma fase, estes não podem ser imediatamente assimilados e possuídos -o que é sinalizado através do cadeado acima de suas barras de vida -, portanto o jogador terá que se virar inicialmente para sobreviver com poucos hospedeiros compatíveis. 

À medida que mata novos cidadãos, ganha acesso a seus cérebros, que devem ser levados com sucesso a uma sala na loja de um alienígena disfarçado de humano, Wiko, que nos oferece seus serviços em troca de moedas – detalhe bacana: há descontos específicos oferecidos para corpos diferentes, então certifique-se de possuir “o corpo certo, no lugar certo”. É nesta loja, inclusive, que adquirimos chaves para os caminhos alternativos.

Imagem do jogo HyperParasite
Uma promoção sempre cai bem.

Quanto aos cérebros, serão armazenados e, com o tempo, o jogador pode investir moedas em seus compartimentos específicos para desbloquear o controle de seus respectivos donos. Tanto inimigos comuns quanto subchefes são incluídos nisso, e para obter sucesso no chefão final da fase, é recomendado que se jogue diversas rodadas a fim de desbloquear cidadãos suficientes para possuir em meio a essas lutas – afinal, como o jogo diz, “seus hospedeiros são as vidas-extra”.

No entanto, buffs e vidas adicionais podem ser encontrados de outras formas nos cenários de HyperParasite, valendo apenas para a rodada atual. Isso mantém um equilíbrio nas escolhas do jogador, que pode priorizar em uma rodada a vida extra do parasita, e em outra um reforço na sua capacidade de ataque. De qualquer forma, esses buffs – que ainda podem ser adquiridos na loja de Wiko – não mudam nada se o jogador em questão não for ágil.

Sobrevivência do mais apto

Algo que agiliza e muito o processo de buscar cérebros ou mesmo juntar grana para comprar os upgrades da loja é a possibilidade de teleporte para as salas já descobertas, que pode ser acionado no mapa da fase. Assim, ao invés de ter de voltar o caminho todo ou acabar se arriscando desnecessariamente e perder o cérebro ou dinheiro coletados, o jogador tem a escolha de diretamente assegurar estas duas coisas assim que matar todos os inimigos de uma sala e estiver fora de conflito. 

Há caminhos alternativos em cada fase.

Além de realizar as ações básicas de esquiva, mira e ataque no modelo twin-stick, o parasita deve estar preparado para pular de corpo em corpo e evitar o mínimo possível de exposição entre hospedeiros, porque assim que é atacado em sua forma original, morre imediatamente e game over. Os controles de HyperParasite, então, fazem jus a esse conceito com uma sensação de fluidez e ainda uma boa implementação da vibração do DualShock 4. 

O departamento sonoro do game é particularmente feliz em evocar quão nojento esse processo de assimilação é, mesmo que os sons sejam de baixa fidelidade. Gritos se misturam e formam sons alienígenas, remetendo novamente a O Enigma de Outro Mundo com esse apreço pela nojeira, e mesmo que os gráficos um pouco simplórios não possuam muitos detalhes nesse aspecto, isso é representado com clareza. 

Aliás, HyperParasite oferece duas opções visuais para a resolução do game, dentro de sua simulação de uma estética pixelada sobre modelos tridimensionais. No entanto, recomendo que mantenham a resolução de píxeis na opção mais alta, já que isso favorece a clareza da imagem e torna mais fácil o acompanhamento das ações e a distinção entre os diferentes inimigos. Além disso, a performance é boa o suficiente para garantir a fluidez de tudo.

As descrições dos humanos são impagáveis, especialmente no português lusitano.

Sendo um exemplar bastante competente da Troglobytes, HyperParasite ainda conta com uma trilha sonora estimulante, dentro da estética proposta, e deve conquistar um público mesmo que não se destaque logo de imediato entre outros títulos bullet-hell. Não chega a ser nada fora deste mundo, mas sinceramente? É um título bem mais inventivo e viciante do que eu esperava, e este parasita pode acabar te assimilando também.

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