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ICEY não é novidade, mas chegou recentemente ao Nintendo Switch. Como adquiri o console há pouco tempo e estou faminto por jogos na plataforma, resolvi conferir qualé desse indie que tanto falaram bem no ano passado. Com mais de 2 milhões de cópias vendidas nas demais plataformas (PC, PS4, iOS e Android), ruim não poderia ser. Com a E3 e outros jogos na fila, demorei um bocado pra pegar firme neste jogo da desenvolvedora chinesa FantaBlade. Mas quando comecei, fiquei surpreso com o que este jogo aparentemente genérico tem de especial.

Temos aqui uma forma inteligente de lidar com a narrativa, cujo locutor onipresente narra seus passos e o incentiva a tomar decisões. Apesar de haver um caminho linear pré-definido, sinalizado por setas e com certa pressão do locutor em seguir as regras, você tem o livre arbítrio de escolher seu próprio caminho. E não trata-se apenas de bifurcações com recompensas ou becos sem saída, mas sim de tentar descobrir mais sobre a trama e seus segredos. É exatamente esta curiosidade, metodicamente instigada, que faz o jogador não querer parar de jogar.

Imagem do jogo ICEY
“Welcome to Silent Hell”. Opa, já começou bem com esta homenagem.

Escolhas e consequências

A heroína da aventura, chamada ICEY, desperta de um tanque de estase em um mundo desolado e dominado por máquinas. Sem memória, o locutor afirma que o propósito dela é encontrar e matar Judas. Sem informações adicionais, fica a dúvida em quem confiar: em si ou no locutor. Por que devo matar Judas? Devo seguir as dicas do locutor? Ou devo fazer caminhos opostos e tentar fugir? É possível até mesmo misturar as decisões, obedecendo e se rebelando, só pra ver o que acontece. E é isso mesmo que você terá que fazer pra chegar à conclusão do jogo, já que muitos dos caminhos o levam de volta ao menu inicial como um looping proposital.

Essa relação entre locutor e jogador é bem interessante, embora toda roteirizada. O locutor se identifica como o desenvolvedor do jogo, altamente estressado, que está sempre te vigiando e dando palpites a cada tela avançada. E, de certa forma, tentando te impedir de tomar certas decisões. Se ele diz pra seguir em frente e você for pro caminho oposto, prepare-se para ouvir o quão desobediente você é ou que não há nada para ser visto em tal área. E geralmente há.

Imagem do jogo ICEY
Uma das áreas secretas é este rascunho de cenário não finalizado para o jogo.

Ágil e rápida, ICEY dispõe de habilidades básicas para fazer um bom estrago logo no início da aventura. Seguindo os moldes do gênero hack ‘n’ slash, há uma progressão de habilidades do nível 0 a 3 para combos, esquiva, escudo, vida e etc. O valor aumenta a cada nível atingido, deixando à critério do jogador quais upgrades valem mais para o seu estilo de combate. No fim arrumar dinheiro não será problema, já que é possível refazer as áreas já visitadas.

Tudo é desenhado à mão, com cenários que variam entre campo, cidade, esgoto, estação de metrô e instalações futuristas. Visualmente é tudo bem neutro, deixando o foco para o combate. ICEY possui um certo charme, com seu visual de roupa preta com detalhes em azul neon e um cachecol tremulante à lá Strider. Seus golpes e movimentos são muito bem animados e fluidos, dando um contraste ainda maior pras batalhas. Os inimigos robôs também merecem atenção, pois apesar da pouca variedade eles possuem características bem próprias. Inclusive recomendo jogar logo de cara na dificuldade máxima, pois assim irá tirar melhor proveito do game. E fica tranquilo, pois o desafio não chega nem aos pés de um Ninja Gaiden Black da vida.

Imagem do jogo ICEY
Quanto maior o combo for, maior o dano causado nos inimigos.

Combate altamente viciante

O combate é fenomenal. Todos os combos são precisos, bem como a esquiva e especiais. Dá gosto enfrentar os inimigos, principalmente quando já se tem algumas vantagens como o upgrade Perception, que permite contra-atacar atingindo o núcleo do inimigo para causar mais dano. Quanto maior o seu multiplicador de combo estiver mais dano causará, até tontear o inimigo para desferir uma finalização que o recompensa com cristais de energia. Ao sugar estes cristais, ICEY recupera parte de sua vida e ainda causa uma explosão com dano total de área, ótimo pra arremessar os inimigos pra cima e descarregar um combo aéreo indefensável.

O dash é uma habilidade básica bastante útil, principalmente para cruzar os cenários em alta velocidade e ganhar tempo. Se houver uma barreira azul, aí não tem jeito: tem que lutar até destruir o último inimigo para poder prosseguir. Por fim, os chefes possuem duas ou mais barras de energia, sendo necessário esgotá-la e desferir uma finalização para iniciar a barra seguinte. Funciona como divisão de etapas, em que o chefão muda seus golpes e velocidade. Não é nada muito elaborado, mas é divertido enfrentá-los.

Imagem do jogo ICEY
As batalhas contra os chefes são as melhores partes do game.

Infelizmente, ICEY é extremamente curto. Mesmo havendo muitos segredos para descobrir, que inclusive desenvolvem melhor a trama, o jogo não dura mais que 5 horas. Um jogador casual e nada curioso consegue terminar em 3 horas, sem esforço. É possível notar que trata-se de um jogo curto logo no início, com a pouca variedade de cenários e inimigos. Por outro lado a quantidade de chefes dá uma boa equilibrada nisso, mas é inevitável pensar que poderia ser umas três vezes maior e melhor.

Mesmo sendo curto, o game funcionou perfeitamente pra mim. Joguei em doses homeopáticas, sempre testando as possibilidades e procurando segredos. Um deles explodiu a minha cabeça: há um minigame chamado SHIO, em que você deve saltar por luminárias para ganhar impulso e desviar de obstáculos. O desafio é alto pois você não pode cair, mas vencê-lo resulta em um dos momentos mais marcantes entre o relacionamento do locutor com o jogador.

Imagem do jogo ICEY
Em SHIO, o objetivo é chegar ao final da fase sem cair.

ICEY é essencialmente um experimento que deu certo. Poderia ser muito mais, com certeza, mas não decepciona em nada do que entrega. É um game tecnicamente simples, com gameplay preciso, ótimos confrontos com chefes, trilha sonora na medida e muitos segredos pra descobrir. Mas onde ele realmente brilha é no diálogo entre o locutor e o jogador, que frequentemente o estará desafiando.

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