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A revista Shonen Jump é conhecida mundialmente por trazer o melhor conteúdo de mangás para seus leitores. Dentre seus grandes sucessos, quem não lembra de ver na extinta TV Manchete as aventuras de Os Cavaleiros do Zódíaco? Ou Yu Yu Hakusho? Ou Dragon Ball Z e Yu-Gi-Oh! na TV Globinho? Naruto no SBT? Independente da geração, os 50 anos de publicações chegaram até você de alguma forma.

Para homenagear todas estas décadas de personagens como Goku, Naruto, Seiya e vários outros, chega ao PS4, PC e Xbox One o game Jump Force. Trazendo várias das franquias de maior sucesso dos animes, o jogo promete um dos maiores crossovers japoneses já feitos. A ideia é simples: um grande vilão acaba atingindo o multiverso dos mangás e trazendo todas essas famosas histórias e seus mundos para o nosso planeta. Enquanto os heróis se unem para salvar tudo e todos, suas maiores ameaças aproveitam para expandir o caos e destruição causadas pela convergência.

Eu já vi isso antes…

O primeiro ponto importante a se considerar sobre Jump Force é que ele é exatamente como Dragon Ball Xenoverse. Não que isso seja ruim, nem de longe, já que esta série fez um enorme sucesso e conquistou vários fãs. Você cria sua personagem com diversas opções, desde cabelo, tamanho de orelhas/nariz/olhos a suas vestimentas e será inserido no meio da confusão como um novo recruta para ajudar os heróis.

Depois dos tutoriais, você será transportado para o lobby central. É lá que vai passar grande parte do game. Você pode escolher suas missões – tanto da história principal quanto as paralelas para obter itens especiais – há lojas, confronto online e offline, diversos avatares de outros jogadores passeando no local etc. O local é gigantesco e conta com túneis, áreas especiais e inúmeras referências.

O sistema de personalização te permite criar réplicas idênticas dos animes da Shonen Jump.

Assim que introduzido ao lobby, você terá que escolher de qual equipe participará. Alfa, com Goku; Beta, com Luffy, ou Gama, com Naruto. Isso definirá algumas missões, habilidades e afinidades no decorrer da história. Independente delas, você pode percorrer pelas outras e usufruir de suas particularidades. Com tudo isso acertado, o verdadeiro jogo começa.

Nas missões, o número de personagens é limitado. O fato do elenco não estar completo faz parte do enredo e seu trabalho será salvar algumas personagens para ajudá-lo na jornada. Porém, se você jogar o PvP online ou offline, pode ficar tranquilo, pois todo o hall de Jump Force estará disponível logo de cara.

Esse é o meu jeito ninja de ser

Uma das coisas que mais chamam atenção no jogo são seus gráficos, que aproximaram as personagens do realismo de forma impressionante. Ele é incomparável em relação a qualquer outro jogo de anime. Os combates tem efeitos lindos e os cenários impressionam, misturando elementos reais com das obras do crossover. Você pode ver a ponte de São Francisco com as estátuas de Hashirama e Uchiha Madara, de Naruto, por exemplo. Assim como temos Paris com a estátua de Atena e as 12 casas dos Cavaleiros de Ouro, de Saint Seiya. Nas lutas, com certeza você vai se deparar apreciando esses detalhes.

O jogo está com uma qualidade visual incrível nos combates, principalmente nos golpes especiais.

Já nos combates de Jump Force, se prepare para ver toda a glória das personagens neste ambiente. Naruto invocando a Kyuubi para atacar o oponente vai te dar um surto de fanservice; a primeira Genki Dama de Goku e o rastro de destruição que ela deixa; o momento que Yugi joga a carta do deus egípcio Slifer; O Dragão do Céu, Izuku Midoriya, usando seu Delaware Detroit Smash de UM MILHÃO por cento, é tudo um prato cheio para todos que já viram esses momentos nas animações ou nas páginas dos mangás. Se você é fã, já te adianto que a sensação é indescritível.

É hora do duelo em Jump Force

As lutas são 3×3 e você pode alternar entre as personagens a qualquer instante. O metagame possui diferenças entre estilos que podem te ajudar ou atrapalhar, dependendo da sua equipe e do oponente. O ideal é saber equilibrar suas personagens favoritas com os estilos que mais se adequarem ao time. Você também pode lutar com sua personagem customizável, que além de ter o seu set visual, pode ter técnicas diferentes que você obtém durante o jogo. Ou seja, não se preocupe, suas habilidades favoritas podem ser equipadas nele.

Os combates são 3×3 e você pode formar um time com suas personagens favoritas.

Outro ponto muito importante é o fator diversão. Com tudo isso que expliquei anteriormente, tenho de confessar que jogar contra outras pessoas realmente foi bem prazeroso. Se os dois jogadores forem fãs, pode ter certeza de que acabará lutando até usar todas as combinações de times possíveis e continuará agradável.

Citando um dos exemplos que ocorreram, nada me deu tanta risada quanto ver o Boruto tomando um socão muito bem-colocado do Naruto. Convenhamos que é merecido. Ou comentar que não é possível o jogo ter colocado três estilos diferentes de Naruto.  O próprio, seu filho Boruto e o “Naruto Verde”, também conhecido por Midoriya, de My Hero Academia. Prepare-se para muitos debates e risadas durante a jogatina.

Omae Wa Mou Shindeiru

Isso tudo tornaria o jogo um daqueles obrigatórios na estante de qualquer otaku que se preze. Porém, as falhas que ele carrega são tão grandiosas quanto o crossover. Por ordem de aparição, vamos começar pelo que vai te incomodar primeiro: as cutscenes.

Não sei o que pode ter ocorrido durante a produção, mas assistir a cada uma é sofrido e te fará torcer o nariz. Personagens estáticos que só movem a boca, com dublagem no maior estilo novela mexicana, com ela se mexendo sozinha sem emitir nenhum som, é bem terrível. A movimentação das personagens também vai te parecer estranha e não condiz com a qualidade do jogo nas lutas. Infelizmente, tem de acompanhá-las para compreender a história, mas sendo sincero, dói.

Em seguida, você vai reparar que TUDO possui tela de carregamento. Você vai mexer na sua personagem, carrega. Vai sair da tela de personalização, carrega. Vai até a missão, carrega. Cutscene, carrega. Às vezes, a tela de carregamento dura mais que a própria cena. Dela para o combate, carrega de novo. Acabou o combate, pular pra outra cutscene? Não antes de carregar. Isso vai testar a paciência dos jogadores e, se alguma atualização melhorando o desempenho dele não for lançada logo, vai afastar o público bem cedo.

É assim que você se sente jogando Jump Force, sofrendo um K.O. a cada detalhe.

Em terceiro lugar, citei acima a semelhança do game com Dragon Ball Xenoverse. Não há problemas em usar a fórmula, mas Jump Force praticamente copiou e colou. Se for o seu caso de ser fã de DBZ também e ter jogado o título anterior, com certeza isso será um incômodo. A Bandai Namco conseguiu me deixar um misto de ver trabalho muito bem realizado com a sensação de que foi feito nas pressas. Como isso foi acontecer é uma ótima pergunta. Se você costuma reparar nos detalhes, vai notar também uma grande falta. As trilha-sonoras clássicas dos animes não estão no jogo. Não sei como funcionam os direitos para isso, mas os sons são genéricos demais para a magnitude de Jump Force.

Estão fazendo falta

Também vale comentar sobre o hall de personagens. Sabemos sobre o sucesso maior de alguns em relação a outros, mas para um jogo que comemora 50 anos de uma revista, não fizeram jus à sua história. Kaguya pode ser a vilã de Naruto, por exemplo, mas no que realmente ela marca a história? Em Dragon Ball, de vilão já temos Freeza, pessoalmente não vi sentido de ter o personagem adicional Cell ali. Bleach com Renji, Hunter X Hunter com Kurapika, entre outros.

São espaços que podiam ser melhores aproveitados. Se você jogou e sentiu falta de Yoh Asakura de Shaman King, Koro-Sensei de Assassination Classroom, do All Might, o herói nº1 de My Hero Academia, entre alguns outros, é uma enorme pena. Heróis de esportes também não aparecem, assim como dos mangás de humor. Devo mencionar honradamente ausências de D-Gray Man, Katekyo Hitman Reborn e Buso Renkin que teriam adicionado bons elementos ao jogo.

Na falta de personagens icônicos, você brinca ainda mais com o seu próprio.

Por último, devo comentar que todas as cenas de interação de Jump Force são bloqueadas. A cada vez que mostrarem Goku falando com Sasuke ou tendo um momento de distração com Zoro, isso não será gravado pelo videogame. Ou seja, além do excesso de cutscenes e telas de carregamento, mais um peso é adicionado. Você terá na sua tela avisos que cena X e Y são bloqueadas praticamente o tempo todo.

Não tão Plus Ultra

Sendo sincero, é um excelente game para se divertir com seus amigos, para ver as referências e se aproveitar do fanservice. Porém, não espere algo tão bem elaborado e sério quanto os recentes Injustice ou até mesmo Dragon Ball FighterZ – só para não dizer que não citei um trabalho da mesma empresa. A sua proposta é bem descontraída e, se você não se prender aos detalhes, conseguirá aproveitá-lo de forma satisfatória.

Me surpreendeu o jogo estar totalmente legendado em português. Além das conversas e de toda a história estar de fácil compreensão, respeitaram bastante o nome dos golpes no Brasil e a fidelização está dentro do esperado. Foi um grato detalhe que realmente não apresenta nada fora do comum. A equipe de localização fez um excelente trabalho.

Não tão derrotado, mas vai ser difícil manter de pé.

Ouso dizer que ele me fez sentir falta de suas origens de Jump Ultimate Stars para Nintendo DS. Ali você tinha um contato maior com a história das franquias e com suas personagens. Era possível montar sua própria página de mangá com um game no maior estilo de luta Super Smash Bros. A quantidade de opções era absurda e, se eles conseguiram produzir um conteúdo com qualidade num portátil de 2004, qual a razão de J-Stars Victory e o atual terem tantos problemas na geração atual?

Meteoro de sensações mistas

Resumindo, para você se divertir com o jogo, não pode levá-lo a sério como um game da nova geração e esperar uma obra-prima. Tudo que Jump Force pode trazer aos jogadores é diversão, um universo de referências e combates épicos contra seus amigos. Todo o restante que compõe o game irá lhe incomodar de algum modo e até faz dele um dos jogos de luta menos eficientes desta geração. Diria até que My Hero One’s Justice, último jogo baseado em anime da Bandai Namco (e de qualidade muito duvidosa), teve um cuidado maior em seu desenvolvimento.

Com isso em mente, dá para afirmar que é um jogo que vai contar com a sua compreensão e com seu amor por essas histórias para cativar. Enquanto não houverem atualizações que melhorem o seu desempenho e até conteúdo extra, ele vai ser apenas mais um sem inovações. Uma homenagem digna, mas que não vai te emocionar em momento algum. E, considerando a história da Shonen Jump e de suas personagens, isso é um defeito difícil de engolir.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024