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Vivendo em um mundo corrompido, você luta para trazer o equilíbrio para esse ecossistema onde cada batida constrói uma barreira. A criação do universo é uma bela canção, mas nessa versão o criador gosta de um dubstep no mínimo violento. E o minimalismo é o molde da vida.

Just Shapes & Beats é o mais novo jogo da Berzerk Studio, presença antiga e familiar aos frequentadores de sites de jogos em flash, como Newgrounds e Armor Games. Conhecendo os outros títulos da desenvolvedora, nunca esperei algo da qualidade, da sutileza e da sensibilidade deste lançamento, que está definitivamente à frente dos trabalhos anteriores. E alguns passos acima.

Lançado para PC e Switch, Just Shapes & Beats é descrito pela Berzerk como um jogo sobre formas e batidas, mas ele acaba sendo muito mais do que isso. É um bullet-hell psicodélico e desafiador com multiplayer cooperativo, uma história simples mas fascinante, personagens carismáticos, músicas de altíssima qualidade e uma aplicação primorosa do minimalismo como linha-guia.

Não são só formas

Analisando de forma prática, Just Shapes & Beats poderia perfeitamente ter sido desenvolvido para Atari 2600. Claro que as músicas iriam sofrer um pouco. Ah, e tem o problema de que os círculos seriam bem menos redondos. Mas, analisando a jogabilidade, movimentação e a construção geral do jogo, poderíamos estar jogando um clássico da Activision, como River Raid. E isso não é uma crítica. Pelo contrário: fiquei realmente surpreso pela capacidade de construírem algo tão complexo com tão pouco. Basicamente com formas e batidas mesmo.

Imagem do jogo Just Shapes & Beats
O mundo se explode em cor-de-rosa, e tudo que é rosa quer te matar.

Com 35 fases únicas cada uma com sua música licenciada, contabilizando quase 20 artistas diferentes, o jogo nunca se repete e ainda dá conta de quebrar expectativas, colocando fases e desafios onde você nunca esperaria.

Dando um grande foco ao estilo bullet-hell, Just Shapes & Beats é uma batalha contra um exército de projéteis e milhares de explosões cor-de-rosa vibrante bem na sua cara. E ainda é possível jogar em multiplayer, o que potencializa o caos infinitamente.

Nem só batidas

Não é o meu primeiro rodeio com jogos de ritmo – Floor Kids é um deles. Porém, pela primeira vez pude experienciar algo que já tinha visto em diversos relatos sobre jogos do gênero.

Just Shapes & Beats me fez sentir, além da quantidade absurda de adrenalina e senso de urgência, grandes pulsos de ansiedade. Em quase todas as fases, a crescente levada das músicas complicou os movimentos necessários e a distância entre os checkpoints tornava cada erro irremediável. Cada impulso precisava ser cirúrgico, caso contrário, mais uma explosão.

Claro que esse fator pode afastar alguns jogadores, mas também poderia ser utilizado como método de controle e canalização destas sensações que tanto prejudicam no dia-a-dia.

Imagem do jogo Just Shapes & Beats
Se você odiava geometria antes, depois de Just Shapes & Beats então…

Sinceramente, o único ponto negativo que vi em Just Shapes & Beats foi a curva de dificuldade. Além de instável, onde nada garante que a fase subsequente será um desafio maior que a anterior, a dificuldade sobe consideravelmente em pontos que não fazem muito sentido, sendo um ponto de frustração bem grande.

Just Shapes & Beats pode já ser colocado como exemplo de bullet-hell no verbete propício da Wikipédia, assim como no de minimalismo e no de jogos de ritmo – todos esses como sendo um exemplo de sucesso, boa aplicação e um resultado extremamente positivo. Para um estúdio que focava em jogos banais e com humor rasteiro, a Berzerk sobe vários níveis com o que posso chamar de uma obra-prima que, em alguns anos, pode muito bem se tornar um clássico cult.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024