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Crossovers são um universo ousado de possibilidades em que as coisas mais improváveis se encontram para escrever sua própria história juntas. É fácil fazer isso quando juntamos vários personagens aleatórios para sair no soco em jogos de luta, ou quando simplesmente são realizados eventos especiais em que diferentes franquias se encontram e emprestam seus personagens uma para a outra (e isso está na moda ultimamente). Agora, quando pensamos em mesclar dois nomes completamente opostos, como Disney e Final Fantasy, era até difícil – pra não dizer impossível – imaginar que fosse sair algo bom disso… até Kingdom Hearts aparecer.

Foi com esse “pré-conceito” na cabeça que milhões de pessoas acabaram sendo surpreendidas com a proeza de Tetsuya Nomura e sua equipe em conseguir juntar essas duas coisas tão distintas. São 17 anos de história, 13 jogos lançados até aqui (contando com coletâneas e remakes) e muita gente confusa com seus enredos sem pé nem cabeça, mas Kingdom Hearts III finalmente chegou para concluir essa saga que já nos colocou nas mais inusitadas situações, ensinou que a amizade é a coisa mais valiosa que temos em nossas vidas e, acima de tudo, provou que os opostos se atraem.

Encare seus medos

Kingdom Hearts III é o capítulo final da saga Seeker of Darkness, essa que não foi contada ao longo de apenas três jogos, mas sim de 10! Desde 2002, Kingdom Hearts veio recebendo sequências que davam continuidade à história, exatamente do ponto onde ela parou no título anterior, então não existem spin-offs nessa franquia. Se você realmente quer entender por completo não só o enredo como também o final desse jogo, é imprescindível jogar todos os outros.

Ainda assim, a Square Enix se esforçou bastante para tornar esse título acessível para todos, afinal eles já sabiam que este seria o primeiro contato de muitos com a saga. Por conta disso, a todo momento temos flashbacks e recapitulações que refrescam a nossa memória e explicam diversas coisas da mitologia do universo do jogo, como o que é um Heartless e o que é um Nobody, por exemplo. Isso pode até ajudar os novatos a se situarem, mas é uma ajuda mínima, porque se você não souber exatamente tudo que aconteceu nos outros jogos, vai boiar do início ao fim.

Ninguém vai me convencer que isso não é magia de verdade.

Por conta disso, se comparado aos outros, Kingdom Hearts III é um jogo muito mais amigável com quem cair de paraquedas na franquia. Mas, se você é um fã de longa data, vai ficar claro já no tutorial do game que esse é um jogo feito para os fãs. Tudo neste título é um tributo a todas as aventuras vividas até aqui – é um misto de nostalgia com uma experiência completamente nova, combinada com os mistérios que esta nova jornada nos guarda e com aquele clima de final. Kingdom Hearts III é um presente para os fãs.

A história continua confusa, mas a verdade é que ela sempre foi e, uma vez que você jogou todos, não será um bicho de sete cabeças como já foi um dia. O que realmente impressiona neste título é como a Square Enix conseguiu trazer absolutamente toda a essência e grandiosidade da franquia, mesclando tudo de bom que tivemos nos outros jogos e ainda trazendo novidades! Eu realmente fiquei espantado com tantas mecânicas novas e outras coisas que vi jogando, pois sinceramente esperava que o jogo fosse mais do mesmo – e ele não é.

Renovando o que já era bom

Se você é um veterano de Kingdom Hearts, logo de cara já vai perceber tudo que foi reaproveitado dos outros jogos. Temos os Limits de combate e os Shotlocks introduzidos em Birth by Sleep, o Flow Motion de Dream Drop Distance, os ataques combinados dos personagens de Kingdom Hearts II, além das dezenas de habilidades que foram surgindo aqui e ali, que agora se encontram em um jogo só.

Sora começa o jogo “sem poderes”, mas nunca foi tão poderoso como agora. Além de termos disponíveis desde o começo todas essas possibilidades de ataques especiais, eles ainda acrescentaram mais! Com respeito à mobilidade, Sora agora pode correr nas paredes, o que faz parecer que os cenários não tem limites e incentiva ainda mais a exploração de tudo ao nosso redor.

O wall-running abriu um leque de possibilidades no jogo.

Ouso dizer que Kingdom Hearts III tem o combate mais dinâmico que já tive o prazer de experimentar na minha carreira como gamer. Agora podemos equipar três Keyblades e alterná-las com o simples apertar de um botão, e elas sofreram mudanças radicais nesse jogo, mas pra melhor… MUITO melhor!

Cada Keyblade agora possui a sua própria sequência de ataques especiais, então quando você priorizar ataques físicos nos inimigos, poderá usar poderes e sequências devastadoras exclusivas de cada arma. É simplesmente sensacional e deixa as lutas com infinitas possibilidades, bastando trocar sua arma para mudar completamente seu estilo de luta.

Mas se as Keyblades já não fossem overpower o bastante, ainda contamos com uma série de ataques especiais combinados entre Sora e Donald, Goofy ou qualquer outro personagem específico daquele mundo que esteja na nossa party. Aliás, isso também foi aprimorado, e o limite anterior de três personagens na party agora aumentou para cinco, então podemos colocar todo mundo junto sem precisar substituir ninguém.

As summons resgatam velhos aliados dos outros jogos.

Já as summons estão mais incríveis do que jamais foram na franquia. Elas sempre foram bem úteis e legais de se usar, mas graças ao poder gráfico da Unreal Engine 4, o jogo não só está com gráficos exuberantes como também aplica seu visual incrível em qualquer ação que tomamos em combate. Salvo algumas novidades, quase todas as summons são um tributo às personagens que já participaram de outros jogos, e seus efeitos visuais são de cair o queixo.

Outra novidade que se enquadra no grupo dos especiais são uma série de ataques baseados nos brinquedos dos parques da Disney. Esse é outro detalhe que te deixa boquiaberto com seu visual repleto de partículas coloridas e belíssimas – é como se fosse mágica de verdade! A variedade desse tipo de ataque é boa e cada um tem o seu próprio jeito de derrotar os inimigos, o que é muito legal.

Um ponto que foi claramente alterado foi a dificuldade do jogo. Se jogado nas dificuldades maiores, Kingdom Hearts sempre ofereceu um desafio considerável aos jogadores, mas esse é disparado o jogo mais fácil da franquia – muito provavelmente para atrair um público maior. Mesmo que começando no Proud, um veterano que conhece bem os movimentos de Sora e as mecânicas de combate pode terminar o jogo sem morrer uma única vez. A abundância de ataques especiais colaboram muito com isso, tornando Sora basicamente invencível e muito mais forte que qualquer inimigo ou até mesmo chefes.

As variações de combate são muito diversas, e todas são fatais para os inimigos.

Decolar!

O que seria Kingdom Hearts sem viagens interplanetárias e naves de goma? A Gummi Ship retorna no terceiro título, e os devs mais uma vez conseguiram se superar. Nos outros jogos em que podemos voar nessa nave, os trechos de Gummi Ship não passavam de um minigame shmup, onde saíamos atirando freneticamente em outras navinhas, sempre seguindo em linha reta.

Agora, nós temos uma galáxia totalmente aberta e consideravelmente grande, e nela podemos navegar livremente e encontrar os mundos explorando, assim como coletar itens, achar tesouros e entrar em batalhas com naves Heartless. Além disso, nossa Gummi agora tem levels, e só podemos equipar novas peças conforme ela evolui.

Mas ainda temos a possibilidade de encontrar modelos de naves especiais completando missões de Gummi Ship. Se você gostava das fases de nave dos outros jogos, então vai adorar o novo sistema e passar muitas horas explorando a galáxia do game.

Nunca foi tão bom pilotar essa Gummi Ship.

Os mundos da Disney estão bem caprichados e não tem o que botar defeito, mas basicamente é uma nova geração de Kingdom Hearts. O único mundo clássico que temos é Olympus Coliseum, que acredito que tenha sido incluído mais pela nostalgia. Dos demais jogos, apenas Port Royal dos Piratas do Caribe retorna, mais para mostrar como eles são capazes de misturar gráficos realistas com animados de forma soberba. Já os outros mundos são todos de animações da Pixar ou dos longas mais recentes do Walt Disney Animation Studios. Porém, a Square realmente mostrou todos os mundos do jogo nos trailers, então não sobrou nenhuma surpresa, o que é uma pena.

Uma coisa que pode incomodar muitos fãs das antigas é que o universo de Final Fantasy foi quase que completamente erradicado desse jogo, a ponto de só haver algumas referências e easter eggs da saga. Se nos outros títulos contávamos com a presença de personagens icônicos da franquia da Square, neste aqui tudo se limita ao universo Disney e ao do próprio jogo. Assumo que senti falta da outra metade que faz Kingdom Hearts ser o que é, mas não chega a ser um problemão que vai te incomodar do início ao fim, é só um detalhe.

O mais legal desses mundos novos que foram introduzidos é que quase todos possuem trechos de gameplay exclusivos e muito distintos, o que deixa o jogo muito longe de se tornar enjoativo. Um exemplo disso é o mundo dos Piratas do Caribe, onde temos um oceano livre para ser explorado e um navio para navegar bem ao estilo de Assassin’s Creed: Black Flag. Por mais simples que isso possa parecer, sair da rotina de andar pra lá e pra cá e derrotar inimigos é o que torna esse jogo mais divertido do que ele já é.

Capitão Sora Kenway, ao seu dispor!

Para coroar essa diversão com chave de ouro, foi introduzido o Gummiphone, um celular que chegou para substituir o Jiminy Journal, o diário do Grilo Falante. Com o telefone celular, podemos tirar selfies com os personagens dos mundos (eles até fazem pose) e jogar minigames extremamente nostálgicos, feitos no estilo Game & Watch. A lista desses minigames é bem grande e devemos encontrar todos explorando os mundos, então pode esperar que tem muito conteúdo te aguardando nesse jogo.

Got it memorized?

Kingdom Hearts III é a maior e melhor experiência que tivemos em um jogo da série até o momento. Mesmo afastando-se de suas raízes com a franquia Final Fantasy, tendo menos mundos que os outros jogos e sendo muito mais fácil, tudo foi feito com muito carinho e empenho, resultando em um jogo riquíssimo em detalhes, com um combate impecável e um gameplay muito diverso e divertido.

Já para aqueles que estão se perguntando se é mesmo o fim: não, não é. O que o destino reserva para nossos Keyblade Wielders é um mistério, mas podemos esperar que novos títulos, talvez em um futuro distante, apareçam para continuar narrando o embate eterno que existirá entre luz e trevas. Quando esse momento chegar, estaremos prontos para embarcar em mais uma jornada dessa franquia que roubou os nossos corações por quase duas décadas e promete continuar roubando por incontáveis outras.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024