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Tempos atrás escrevi uma coluna sobre como a direção de arte de um jogo pode influenciar em decisões de design e mecânicas na jogabilidade. Infelizmente naquela época Kirby’s Epic Yarn não havia sido lançado ainda, pois ele serviria muito bem ao argumento do texto.

Para quem não conhece o personagem, Kirby é uma bola rosa engolidora de coisas e poderes. Soa meio gay, eu sei. Mas Kirby sempre conseguiu ser um personagem cativante. Mesmo em jogos como Super Smash Bros., Kirby conseguia ter seu destaque em meio a tantos ícones da Nintendo.

Nesta aventura, Kirby é privado desses seus poderes já que logo no início ele é transformado em uma espécie de bola de lã e transportado para um mundo criado por tecidos, costuras, linhas e botões. E é com esse argumento visual que Kirby’s Epic Yarn se destaca dos demais jogos do gênero. Seu visual é único, lindo e nada gratuito. Nos primeiros minutos de controle do personagem fica clara a intenção dos criadores onde cada solução no design e jogabilidade é norteada por essa escolha estética inicial e, surpreendentemente, tudo funciona corretamente.

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Embora Kirby tenha perdido sua habilidade básica, a característica de engolir seus inimigos e apropriar-se de suas habilidades, os designers conseguiram de forma inteligente trazer essa característica para outro nível. Por se tratar de um personagem formado basicamente por linhas de lã e costura Kirby agora consegue se transformar em praticamente qualquer coisa.

Os controles são os mais simples possíveis. Utilizando-se apenas do Wii Remote na posição horizontal, temos os controles de movimento, pulo e ataque. Simples assim. Existem aqui aqueles movimentos básicos para jogos de plataforma, mas com toques de requinte que somente um jogo com o conceito visual de Kirby’s Epic Yarn poderia dar. Por exemplo, ao correr (frente, frente no direcional) Kirby se transforma em um carrinho e sai acelerando pelo cenário ao invés de simplesmente correr com as próprias pernas.

O que incorpa essa jogabilidade simples é justamente o design das fases (algumas mais brilhantes que as outras, mas nenhuma fraca) e as transformações que Kirby sofre em cada cenário. Existem momentos em que Kirby passa por um portal transformando-se em veículos que o ajudarão a resolver os problemas propostos naquele determinado cenário. Exemplo: em cenários com fogo Kirby pode transformar-se em um caminhão de bombeiro, jogando água para eliminar inimigos e coletar pontos. Em outro momento Kirby transforma-se em um trem e o jogador precisa desenhar na tela com o wii remote apontado para a tv o caminho correto para que Kirby chegue até o final daquela fase.

Todos esses “power-ups” e os comandos básicos do personagem são ensinados de forma clara e precisa através de painéis animados com desenhos do que o jogador deve fazer. Por se tratar de um jogo claramente criado para o público infantil, esses tutoriais e estrutura de menus e mini-games podem parecer um pouco tolos para jogadores mais experientes. Contudo, o excelente design de cada cenário e o ritmo da jogabilidade muito bem equilibrado vão fazer com que jogadores experientes também aproveitem a aventura de forma não cansativa ou pedante. Por isso, caso você seja um jogador hardcore que gosta de achar todos os itens e capturar todos os pontos do cenário, esse game oferece desafios gratificantes também.

Como dito antes, visualmente Kirby é uma festa para os olhos e os gráficos deste jogo não se fazem brilhantes pelo seu poder técnico. Não há profusão de efeitos ou milhares de polígonos na tela. O que diferencia Kirby dos demais é o seu estilo. Jogos como Gears of War dependem da qualidade técnica dos seus gráficos para serem críveis. Qualquer irregularidade na perfeição visual traz um desconforto ao jogador. Em jogos como Kirby’s Epic Yarn o que dita as regras é o conceito, e quando trabalhamos gráficos de forma conceitual o que mais importa é a coerência e o acabamento. Felizmente, esta nova aventura de Kirby apresenta uma coerência visual sem precedentes (não há nenhum elemento em tela que não faça parte do mundo sugerido ou que cause estranhamento ao conceito proposto) e o acabamento é impecável. Um exemplo disso está nas animações que chegam a beirar o ridículo de tão suaves que são. Kirby alterna de uma forma para outra com tanta leveza e habilidade que muitas vezes você faz alguns movimentos somente para ver se vai ou não aparecer um bug na animação, o que nunca acontece.

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Vale ressaltar também a trilha sonora que é igualmente boa. Embora eu particularmente não goste quando a Nintendo insiste na idéia de trilhas com acabamento 16-bit, neste caso ela funciona muito bem. Pois embora tenha essa sonoridade retrô a trilha é muito bem composta e variada, sendo que cada cenário tem sua própria sonoridade e o jogador pode coletar esses áudios escondidos em forma de item em algum lugar do cenário para ouvir na galeria de extras quando quiser.

Aliás, falando nos extras do jogo, temos pouca coisa nova. Existe um modo de decoração e algumas missões paralelas onde você é solicitado a achar móveis e depois decorar um determinado cômodo com eles. Mas essa mecânica é bem simples e claramente voltada pra que a criança desenvolva sua capacidade de reconhecer e resolver problemas com formas e silhuetas. Além disso, podemos encontrar alguns desafios (como o clichê de terminar uma determinada fase dentro do tempo estabelecido) que são liberados conforme você vai progredindo na aventura.

Kirby’s Epic Yarn é um jogo infantil e vale dizer que é mais do que justo os pequenos terem um jogo realmente planejado para eles jogarem sozinhos ou acompanhados de algum adulto pelo modo multiplayer. Sinto que atualmente há uma profusão de violência e jogos complexos no mercado e que crianças pequenas perderam um pouco o espaço que antes dominavam e nós, jogadores experientes, perdemos também um pouco a noção de como videogames podem ser também divertidos e não apenas desafiadores e frustrantes.

É bom saber que ainda existem no mundo adultos com alma de criança cujas criações tocam não só os pequeninos, mas também fazem com que nós lembremos que um dia também já vimos o mundo de forma mais colorida e otimista.

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