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Jogar Legend of Mana no PlayStation 4 não foi a minha primeira experiência com este game. Eu consegui uma cópia pirata do CD de PS1 há muitos anos que me frustrou completamente, por travar sempre numa mesma batalha que acontecia nos estágios mais avançados do título e por ele não ser tão requisitado assim para aparecer em abundância nos camelôs de Guarujá. Ele foi uma das decepções que mais me marcou na época, principalmente por eu sentir que perdi uma obra-prima.

Quando anunciaram a remasterização do game para a nova geração, não pude conter a alegria de ter ganho mais uma chance de me aventurar por esse clássico da Square Enix. Pode ser até estranho, afinal de contas ele é um spin-off do spin-off de Final Fantasy, lançado originalmente em 1999 e sem ganhar muito destaque em sua época. Porém, meus caros, vão cometer um grande engano se o deixarem de lado, pois aqui está um grande JRPG que dá de 10 a 0 em muita coisa que vemos hoje.

O mundo é seu

Para falar a verdade para vocês, a palavra que melhor define Legend of Mana é personalizar. De acordo com a variedade de opções disponíveis que existem dentro dele, considero impossível todos zerarem a jornada nas mesmas condições e termos. Primeiro de tudo que você monta o seu próprio mapa conforme ganha os artefatos, que permitem explorar áreas inéditas. Eles podem ser dispostos como desejar e isso desencadeará as diversas quests que encontrará pelo caminho.

Imagem do review de Legend of Mana
Vai um Cabbadillo aí para vocês?

Só que não é apenas isso que expande a sua experiência dentro do game. Você pode capturar monstros, criar golems para auxiliar na batalha, forjar armas e armaduras, instrumentos musicais, cultivar frutas e legumes, obter um leque imenso de NPCs para ajudar a mergulhar ainda mais no lore deste universo. Aí aparece na sua frente uma mistura de tecnologia, magia, fadas, mitologia, piratas, investigação, vários tipos de civilizações e todo o tipo de coisas e pronto, você estará cativado por tudo ou ao menos grande parte do que aparece na sua frente.

Mantenha a calma e respire fundo, caros leitores. Apesar de todos esses elementos existirem ao mesmo tempo enquanto está com Legend of Mana nas mãos, você não é obrigado a seguir 10% disso. Existe a chance de você sentar para jogar, ignorar absolutamente tudo que falei ali em cima, comprar uma arma genérica e sair passando a faca nos monstros e inimigos para avançar a história. Não há nada de errado com isso e ainda é uma forma de se jogar, fique tranquilo.

Vale falar, porém, que é irresistível todos estes recursos combinados agindo conforme você faz sua progressão. Vencer o chefão com a arma que você criou, depois de segurar a barra com aquele NPC que lutou tanto para ter ao seu lado e um golem construído em sua oficina não tem precedentes. E um detalhe a mais que sela a indicação de qualidade é que você poderá fazer tudo isso solo ou co-op, com outra pessoa te ajudando no controle 2. Isso mesmo, dá para chamar seu par romântico ou seus amigos para jogarem com você sem o peso de estar se matando de jogar sem dar atenção para eles. É sobre isso. E se rolar briga, só levar para Geo que há um coliseu que vocês podem tirar as diferenças botando os heróis para lutar.

Imagem do review de Legend of Mana
Montar os elementos do jogo como quiser é um atrativo grande.

Em relação à história, esse é um ponto bem dividido do que pode encontrar em Legend of Mana. A personagem com quem joga é basicamente um boneco do posto na trama inteira, sem o menor background que justifique ela sair por aí criando coisas e enfrentando o mal. Link, de The Legend of Zelda e Red, de Pokémon, por mais incrível que pareça, têm mais coisas a oferecer do que as duas protagonistas do jogo. Para um JRPG, isso acaba impactando os fãs e tira um pouco do gosto por todo o enredo.

Apesar disso, os personagens secundários são a melhor coisa que você vai ver desta época no seu PS4, Nintendo Switch e PCs hoje. Seguir toda a construção deles é espetacular e um dos pontos fortes deste título. Os Jumi, que estão espalhados pelo mundo e estão sendo caçados pela ladra de joias pelas pedras preciosas que carregam consigo. Larc, o guerreiro que está caçando os poderosos dragões a mando de seu chefe, Drakonis. Ou as intrigas entre os humanos e o mundo das fadas, qual estão envolvidos Irwin, Escad, Daena e Matilda. Tudo isso tem uma progressão riquíssima e não se envolver em ao menos uma delas enquanto joga nem dá para ser considerado.

Imagem do review de Legend of Mana
As histórias dos personagens secundários são demais.

Outra coisa, que pode incomodar uns e fazer os jogadores mais apegados aos métodos antigos amarem, é a completa falta de noção de onde deve ir em Legend of Mana. Se você liberou mais de 15 áreas no mapa e não sabe para onde um dos inimigos ou NPCs fugiram, boa sorte em desbravá-los para continuar. Não há sinais nem nada do tipo, você tem de ir com a cara e a coragem para descobrir. Enquanto alguns vão xingar e reclamar, outros podem aproveitar e aumentar de nível, capturar criaturas diferentes, tentar evoluir suas habilidades e desenvolver mais coisas no trajeto. Vai do gosto de cada um.

Para fechar o que dividirá o público, a escolha duvidosa de artes para a remasterização. Enquanto todo o cenário de fundo está em alta definição, com desenhos espetaculares, os personagens que comanda e interage são todos tridimensionais. Mas não é como em Octopath Traveler ou Bravely Default, que funcionam em harmonia. Eles são os mesmos sprites usados no primeiro PlayStation, em proporções que você com certeza não achará tão agradável assim em movimento.

Imagem do review de Legend of Mana
Olhem bem, o cenário é lindo em contraste com os píxeis dos heróis.

Repetindo erros em Legend of Mana

Mesmo com minha opinião de que Legend of Mana é uma obra-prima e que todos deviam ter a chance de experimentar nessa geração, ela não é passível de erros. Sinceramente, a maioria se manteve das escolhas de direção de antigamente, mas que atrapalham o gameplay até os dias atuais. Secret of Mana e Trials of Mana conseguiu escapar disso com remakes estilizados, porém o novo cai no erro de remasterizar até mesmo as falhas que existiam na limitação da plataforma antiga.

O que eu quero dizer com isso? Primeiro, a inteligência artificial é burra como uma pedra. Os seus companheiros muitas vezes atacam em lugares vazios, abrem muitas brechas na batalha e não é difícil ver eles tomando uma porrada daquelas contra inimigos que nem são tudo isso. Nos chefões isso se torna um absurdo, sendo frequente ver mortes repentinas e quais será obrigado a contornar.

Imagem do review de Legend of Mana
Jogo nota 10, inteligência artificial nota 3.

Aí quando não é isso e vencem as batalhas, os cristais de experiência se espalham pelo chão e quem disse que eles vão pegar também? Aumentar o nível dos NPCs e monstros em jogo solo é uma tortura, pois eles parecem fugir do XP. Aí se você não vai lá e pega, eles somem e isso não sobra para ninguém. Para quem é chato, como eu, e ama deixar todos balanceados para não ter futuras dores de cabeça, Legend of Mana não ajuda nessa parte.

Em segundo lugar, adoro os personagens secundários, mas é irritante todos eles deixarem a sua party só para você poder visitar o seu lar e usar o sistema de diário do cacto. No background imaginário eu proibi eles de entrarem lá ou algo do gênero? Inclusive, vale citar o Larc que toda vez que isso ocorre me ameaça “Você não pode correr do seu destino!!!”. Eu não estou correndo, eu só queria usar um dos sistemas do jogo e ninguém quer entrar na minha casa comigo. Posso fazer o que?

Imagem do review de Legend of Mana
Placa de “Proibida a entrada de NPCs da party em casa”.

No terceiro e último lugar, os desenvolvedores de Legend of Mana fizeram até demais no primeiro PlayStation, mandando bem pra caramba em 1999. Porém, se passaram 21 anos de lá para cá, dava para ter alterado um pouco a sensibilidade dos controles nos minimapas de algumas cidades e da movimentação dura dos personagens que deixa a desejar. Teria ajudado bastante se considerarmos a época que vivemos e as facilidades que os videogames recentes oferecem. Não temos mais a limitação do tamanho de dados que o disco aguenta levar ou algo do gênero, então não vejo razões para não melhorarem alguns pontos disso.

Para não parecer o chato das reclamações, essa versão conta com alguns elementos legais em relação ao original. Você tem a opção de salvar em qualquer lugar, não sendo no meio de uma luta ou diálogo. Acesso irrestrito, logo de cara, a toda a trilha-sonora e às artes principais do game. Pode jogar o inédito Ring Ring Land, que permite controlar um dos seus monstrinhos em uma aventura solo como se fossem tamagotchis. Não é algo digno de ser chamado de espetacular, mas é uma boa inclusão.

Imagem do review de Legend of Mana
Ring Ring Land é divertido, mas não espere nada espetacular.

E também, graças aos bons deuses, a Square Enix também não inventou de colocar aquela marca d’água horrível em todos os prints que se tira dos seus jogos. Agradeço imensamente a todos os envolvidos a tirar esse recurso técnico inútil em Legend of Mana. Vale lembrar que, fora das batalhas, não há nenhum elemento na interface e isso rende uns papéis de parede lindos que vou cultivar por um bom tempo em meu computador. Basta ver as imagens deste review para reparar que algumas estão um show à parte.

Com as maiores dificuldades do título sendo técnicas, fica muito difícil não indicá-lo pelo peso de todos os pontos positivos. Ele ainda é um espetáculo e valerá cada real gasto para comprá-lo, sendo um iniciante ou veterano nesta franquia. Como afirmei no início do texto, é muito difícil vermos tudo isso com qualidade nos RPGs atuais e eles continuam demonstrando que realizam com a maestria necessária para atingir entre a nostalgia e uma excelente história.

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