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Quando a Bandai Namco divulgou os primeiros trailers de Little Witch Academia: Chamber of Time, mal sabia eu que estaria caindo num hype muito grande para conhecer e acompanhar um novo anime. A espera por uma nova adaptação de animação japonesa para os games é sempre muito bem vista e recebida por mim, porém as últimas experiências começaram a provar que altas expectativas por séries muito recentes podem gerar certas frustrações. Dessa vez, o anime jogável da vez tentou inovar em diversos aspectos e me deixou num mix de sentimentos que não sei até agora se gosto ou desaprovo.

Imagine se os filmes da franquia Harry Potter encontrassem O Feitiço do Tempo, clássico da sessão da tarde protagonizado por Bill Murray. A partir dessa premissa, a Bandai Namco buscou novos estilos para a direção de arte e a junção de dois gêneros distintos para compor um título com mais de 40 horas de história. Prepare-se para conhecer Luna Nova e se aventurar com Akko, Sucy e Lotte.

Game ou OVA?

Para quem acompanha esse desenho criado por Yoh Yoshinari e que chegou ao Brasil pela Netflix, Little Witch Academia: Chamber of Time serve perfeitamente como OVA (original video animation), uma produção exclusiva para home video (streaming, Blu-ray, DVD, VHS, etc). Com dois filmes lançados no Japão, essa nova história exclusiva de PC e PS4 se passa logo após o final da primeira temporada, já que na segunda temporada Akko descobre algumas coisas sobre o seu passado e certos professores (sem spoiler nesse review para não estragar nada, afinal o anime é muito bom e merece sua atenção).

Imagem do jogo Little Witch Academia: Chamber of Time
Akko, Lotte e Sucy, o trio principal da história, porém longe de ser a melhor combinação.

Na história, as férias de verão estão chegando e Kagari Atsuko, ou Akko como prefere ser chamada, está se preparando para aulas complementares e, como castigo pelo seu desempenho em magia, terá que arrumar a biblioteca enquanto suas amigas terão tempo livre.

Com dó da jovem bruxa, Lotte e Sucy decidem ajudar na arrumação, porém não contavam com que Akko estivesse cochilando durante sua tarefa e, sem perceber, acabaram colocando um livro mágico onde não deveriam. Resultado: uma sala misteriosa é revelada e durante a exploração inicial desse novo local, Akko, Lotte, Sucy, Amanda, Constanze, Diana e Jasminka entram num loop temporal. A cada 24h passadas, o tempo retorna e tudo acontece novamente da mesma maneira como aconteceu.

Presas no tempo (por isso a referência a O Feitiço do Tempo), você precisará investigar pela escola, dentre sumiços de alunos e itens misteriosos, chaves mágicas que levarão você por dungeons que farão o tempo voltar ao normal.

Imagem do jogo Little Witch Academia: Chamber of Time
Pode parecer Harry Potter, mas tudo nesse anime e jogo tem sua identidade própria.

E nada melhor do que um RPG com uma pegada leve para desenvolver uma narrativa desse tipo, sem perder o charme da animação e a qualidade de um jogo que consegue manter o seu interesse. Com a estrutura de Action RPG, você terá sete personagens à sua disposição para enfrentar desafios, explorar diversos locais muito bem reconstruídos de Luna Nova, customizar com itens, acessórios e armas, além de, claro, ter uma árvore de habilidades com toda a personalidade que esse título merece e pede; todas as skills são mostradas em formato de constelação e são desbloqueadas a cada nova dungeon finalizada, tendo suas estrelas acesas através do uso de pontos ganhos com XP. Nesse meio tempo você terá side quests e atividades das mais genéricas até as mais engraçadas, que se desenrolam por meio de diálogos muito bem construídos e representados visualmente.

A mágica dos gêneros e mecânicas

Durante todo o tempo que tive em Chamber of Time, eu só conseguia observar dois pontos sobre a experiência que estava tendo, afinal tudo parecia um amontoado de dois jogos: um adventure que você precisa percorrer diversos cenários em busca de dicas, itens e quests para serem completadas, além de um dungeon crawler/brawler (chame como preferir) 2.5D em que você percorrerá dezenas de salas derrotando inimigos diversos e enfrentando chefões para coletar diversos loots pelo caminho.

Na primeira etapa me lembrou muito o jogo do Scooby-Doo para SNES, por conta da exploração e busca por dicas e artefatos, porém num cenário tridimensional e muito bem trabalhado para levá-lo até a escola de feitiçaria. Num segundo momento, quando vamos para dentro de cada dungeon, o jogo se transforma e parece que estou voltando ao review de Dragon’s Crown Pro (que você pode ler clicando aqui), em que o smash button é controlado por pitadas de magia e ataques especiais para você montar sua breve estratégia por conta do MP necessário para seguir vitorioso. Isso sem contar o pacote básico de jogos de anime, com especiais e suas cutscenes muito bem trabalhadas para encher os olhos de quem joga!

Imagem do jogo Little Witch Academia: Chamber of Time
As dungeons são as melhores parte do jogo, porém as mais repetitivas e breves também.

Quase como um filhote de Persona, a A+ Games conseguiu brincar com a mecânica do tempo, que por sinal funciona muito bem para nos incentivar pela jornada, além de apostar num estilo mais próximo de jogos de aventura interativos para explorar a narrativa mais densa que esse título possui. Afinal você terá em mãos um OVA interativo que cumpre muito bem sua função de acrescentar ainda mais conteúdo ao universo de Little Witch Academia ao mesmo tempo em que serve aos fãs diversos elementos para quem acompanha as aventuras de Akko. Por conta disso, você terá muitos diálogos com os personagens da série, atividades que desenrolam acontecimentos da série, quests paralelas para você explorar todos os cantos de Luna Nova e até mesmo cutscenes retiradas diretamente do anime!

E falando em visual, o jogo trabalha uma técnica de cel shading que não tinha visto ainda, lembrando bastante o trabalho da Level 5 com Ni no Kuni, mas que aposta nos ambientes bem construídos digitalmente para você explorar em profundidade ou até mesmo ver os personagens animados durante os diálogos, diferenciando-se do padrão de visual novels com ilustrações estáticas. Realmente é um primor da A+ Games para fazer jus ao trabalho do Studio Trigger, responsável por animar as aventuras de Akko, pois, seja no PC ou PS4, você poderá explorar todos os cantos de Luna Nova, reconhecendo todos os ambientes da academia para bruxinhas.

Imagem do jogo Little Witch Academia: Chamber of Time
Com certeza os chefes são os maiores desafios, porém com a combinação certa de party e armas, você não sofrerá nada para vencer.

Com tantas coisas boas, Chamber of Time tem um grande problema que insiste em aparecer nos jogos que adaptam animações japonesas, sejam RPG ou não: a lentidão para tudo começar. As três primeiras horas basicamente servem para mostrar o efeito de repetição do tempo e, quando achamos que tudo terminou, percebemos que as dungeons são muito repetitivas e bem parecidas entre si.

Esse mesmo problema surge quando você começa a percorrer as diversas salas de aula, laboratórios, Grande Salão, a sala misteriosa ou qualquer outro ambiente da escola, pois o mapa é muito ruim e só ajuda após decorarmos onde ficam os lugares de referência. Basicamente, você ficará percorrendo corredores muito iguais, quase como um labirinto, por diversas horas para encontrar os elementos que farão a história avançar. A grande questão é que isso cansa demais quando nos damos conta que precisamos percorrer quase uma ou duas horas para encontrar uma chave e depois terminar muito rápido a parte beat ‘em up, que realmente é mais divertida, em apenas 10 minutos.

Falando da porradaria, o combate lembra muito Dragon’s Crown Pro, com um ataque fraco, outro médio e um forte, porém não se preocupa em trabalhar bem um sistema de defesa ou esquiva. Demorei muito para entender como realmente utilizar ataques, magias e defesas. São diversas horas de perseguição e diálogos para poucos minutos de ação e diversão, isso sem contar que a IA dos seus companheiros de combate, sempre uma dupla de bruxinhas que você escolhe, me pareceu ser muito deficitária – há colisões com itens, uso sem controle de magias ou até mesmo movimentação sem estratégia alguma e apenas baseada nos movimentos que você faz com o seu personagem.

Imagem do jogo Little Witch Academia: Chamber of Time
A árvore de habilidades é tão bem feita que dá vontade de upar o personagem só para ver tudo completo.

Abracadabra

Ao final, Little Witch Academia: Chamber of Time parece ter algum esforço, belíssimo visualmente e apresentando diversas mecânicas dentro da sua própria identidade. No entanto, isso acaba mascarando um gameplay simples, repetitivo e fraco, talvez por conta da falta de conteúdo ao adaptar uma série muito nova ou até mesmo por não se esforçar o suficiente para rechear esse OVA interativo no qual se propõe a criar.

Em uma época com Ni no Kuni 2 ainda muito recente, a Bandai Namco acaba competindo desonestamente com si mesma, pois por mais que a A+ Games tenha trabalhado com uma pegada Disney na trilha sonora e tentativa de imersão, as novidades e identidade própria de Little Witch Academia acabam sendo deixadas de lado quando você estiver na décima hora e perceber que o seu personagem está forte o suficiente para que as fases de ação passem rápido demais, até mesmo contra chefões (que por sinal possuem designs muito legais), apenas para retornar à morosidade da exploração por mais duas horas até poder voltar a esmagar botões contra os inimigos.

Imagem do jogo Little Witch Academia: Chamber of Time
Um RPG leve e simplificado para agradar os fãs do anime e pegar os mais curiosos.

Não acredito que seja um produto apenas para fãs, mas com certeza o fan service grita muito mais alto do que as demais qualidades desse jogo, ficando principalmente os defeitos para o grande público gamer. Ter um título que parece estar vivo é realmente gratificante, mas que exigirá paciência de quem se aventurar por Luna Nova!

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