Skip to main content

Não tem nada mais clichê no cinema do que filmes de máfia, mas quando a gente pega gosto pela coisa, não importa quantas vezes aquela mesma história manjada for contada, nós estaremos lá assistindo e curtindo cada segundo. A franquia Mafia é o equivalente a esses filmes nos videogames. É onde podemos ficar imersos em todos os podres do crime organizado e vivenciar na pele histórias que outrora só poderíamos acompanhar em filmes como O Poderoso Chefão, Os Bons Companheiros e O Irlandês.

Enquanto os dois primeiros jogos se prenderam aos eternos clichês da máfia italiana, o terceiro jogo da franquia, lançado originalmente em 2016, foi um pouco mais ousado. Ambientado em uma cidade fictícia no sul dos Estados Unidos no fim da década de 1960, Mafia III deixa de lado os juramentos à Cosa Nostra para mostrar o outro lado da moeda: não existiam somente criminosos italianos nos EUA e os imigrantes não eram os únicos a sofrer preconceito em solo norte-americano.

Família em primeiro lugar

No primeiro jogo encarnamos um mafioso arrependido, Tommy Angelo, enquanto no segundo assumimos um homem que não teve muitas escolhas na vida, Vito Scaletta. Mesmo com suas dificuldades, ambos eram filhos de italianos que vieram buscar uma vida melhor na terra do Tio Sam, mas que não tiveram as mesmas oportunidades que os outros. Porém, existe uma coisa que torna Lincoln Clay, o protagonista da vez, uma vítima ainda maior do sistema: ele nasceu negro.

Mafia III possui a trama mais pesada da trilogia porque aborda um tema ainda mais real e atual: o racismo. Lincoln foi abandonado quando criança e acabou sendo adotado pelo chefe da máfia negra de New Bordeaux (cidade em que se passa o game), então mesmo que isso tenha feito com que ele mergulhasse de cabeça no crime desde cedo, aquelas eram as únicas pessoas que cuidaram dele e se importavam com ele.

Após lutar quatro anos no Vietnã, Lincoln retorna para New Bordeaux e logo descobre que seu pai adotivo está passando maus bocados com gangues rivais e dívidas com o chefão da cidade, um italiano chamado Sal Marcano. Novamente, ele não pensa duas vezes em retomar a vida de crime para ajudar sua família, mas após ser traído e perder tudo diante de seus olhos, tudo que moverá Lincoln será sua sede de vingança e seu único objetivo será desmantelar cada esquema da operação de Marcano para fazer com que ele sinta na pele como é perder tudo.

Momentos antes da desgraça acontecer.

Ainda que seja um tanto clichê, a história de Mafia III é a mais pesada e sombria da série e pode ser considerada a melhor de todas. O enredo é contado em forma de documentário, onde vamos assistindo algumas cenas soltas que contam a história de Lincoln de uma maneira não linear; essas cenas vão se intercalando com o gameplay, então aos poucos tudo vai se encaixando e nos deixando ainda mais curiosos para saber o que vem pela frente.

Um dos fatores que mais enriquecem a história são os personagens, que são os mais interessantes de toda a trilogia. Para dominar New Bordeaux e acabar com a operação de Sal Marcano, Lincoln precisará da sua própria equipe e essa será tão diversa quanto ele: Cassandra, a líder da gangue de haitianos, Burke, um beberrão líder da gangue de irlandeses e o Vito, protagonista do Mafia II que agora possui sua própria gangue de italianos na cidade. Cada um deles tem as suas próprias motivações para ajudar Lincoln e conforme você joga, poderá ir descobrindo mais sobre a personalidade e o passado de cada um.

Legal mesmo é poder ajudar o Vito e aos poucos ir descobrindo mais coisas sobre os fatos que sucederam o final do segundo jogo. Ninguém precisa ter jogado o segundo para jogar o terceiro, mas quem jogou com certeza vai aproveitar ainda mais essas missões (que são todas opcionais).

Eu jamais diria “não” para um cara desses.

Pedaço por pedaço

Lincoln é um exército de um homem só. O cara lutou na guerra, bota medo em qualquer pessoa e provavelmente derrubaria um muro no soco sem suar. Seu modo operandi é simples: obter informações o bastante sobre cada chefe de esquema, matá-los ou recrutá-los para o seu lado para enfim conseguir derrubar um tenente ou capo de Marcano. Dessa forma, ele desestrutura a operação e ainda toma o controle da cidade.

Um de seus principais aliados é John Donovan, um agente da CIA que lutou ao seu lado no Vietnã e está mais que disposto a dar toda informação que conseguir para acabar com o reinado de crime de Marcano. O que vem a seguir é uma série de missões necessárias para progredirmos na história, mas absurdamente repetitivas, o que será um divisor de águas neste jogo.

Em cada distrito você terá duas operações para tomar o controle e, para fazer isso, você precisa causar uma certa quantia de dano no bolso de quem comanda cada uma. Isso envolve uma série de atividades como matar capangas, assaltar armazéns, destruir mercadorias e por aí vai. No começo isso é muito legal e empolgante, mas quando você chega no quarto ou quinto esquema e vê que são sempre as mesmas missões, as coisas ficam bem diferentes.

Turminha do barulho aprontando altas confusões.

Felizmente, você não precisa fazer todas para progredir na história, basta causar o dano estipulado. Alguns objetivos causam mais dano que outros, mas no final pouco importa quais você escolhe fazer. A abordagem que você escolher também é irrelevante; você tem a opção de ser furtivo ou simplesmente sacar a arma e fazer um massacre, mas não existe nenhuma recompensa em agir mais de uma maneira do que de outra.

O stealth do jogo é satisfatório, mas não há muito incentivo em fazer as coisas na surdina. Nas missões mais importantes os inimigos mal saem do lugar e ficam quase todos juntos, te obrigando a sair fuzilando geral. Ao menos, em uma coisa que o jogo não peca é na violência, porque é de longe o jogo mais violento da franquia. Lincoln não perdoa na hora de matar e faz questão de ser o mais brutal possível. Não jogue esse jogo perto das crianças.

Quanto às demais mecânicas, tudo funciona muito bem. O tiroteio é rápido e frenético, ainda mais se você deixar a assistência de mira ligada, então você realmente consegue se sentir um exército de um homem só. Outros fatores como a direção de veículos também não deixam a desejar e eu diria até que esse jogo oferece uma experiência no volante mais satisfatória que em outros jogos parecidos, como GTA V, por exemplo.

Oi sumido.

Após derrubar um esquema, você pode designá-lo a um de seus tenentes. Cada um garante benefícios exclusivos como mais munição, pneus à prova de balas, reforços em combate e muitos outros, então escolher um ou outro vai além de sua preferência pessoal (se não o Vito ganharia todos).

Ao derrubar os dois esquemas e o chefe do distrito, você poderá dar o comando da região inteira para um de seus aliados e é isso que faz toda a diferença. O mais legal é que os que não foram escolhidos ficam ressentidos e deixam isso bem claro em todos os diálogos que virão. É sempre bom tentar ser o mais equilibrado possível ao designar os distritos, pois além de poder usufruir dos benefícios de todos os tenentes, nenhum deles se voltará contra você.

Admirável mundo novo

Todos os jogos da trilogia tinham um mapa aberto, mas Mafia III foi o primeiro que deu mais liberdade para o jogador explorá-lo do jeito que quiser e a hora que bem entender. Os outros eram divididos em capítulos e isso dificultava bastante a exploração, pois nem sempre o mapa todo estava disponível. Aqui as coisas são mais próximas de um jogo sandbox padrão e as missões ficam disponíveis pelo mapa, só cabe a você decidir se vai fazê-las ou se vai ficar batendo perna por aí.

Mesmo sendo um local fictício, New Bordeaux foi inspirado no estado do Luisiana e consegue transmitir com fidelidade toda a atmosfera do lugar. Metade do mapa é composto pelas áreas urbanas e a outra metade por uma boa extensão de pântanos (locais muito propensos para crimes, diga-se de passagem). A ambientação foi coroada com a presença de crocodilos em quase todo local acessível que tenha água.

Cuidado por onde nada!

Porém, não pense que Mafia é um outro “GTA” da vida. Muitos podem se frustrar com a falta de interatividade desse mundo, principalmente porque podemos explorar cada canto, mas não há muito o que fazer. De fato, parece um potencial desperdiçado (algo que vem acontecendo desde o segundo, pois existem áreas no mapa que você não visita em nenhuma missão!), mas no final o jogo cumpre com sua proposta, então é um problema que pode ser relevado.

A única coisa que nos motiva a explorar o mapa são os colecionáveis, que apresentam uma variedade muito maior neste título. As revistas Playboy da época retornam aqui e algumas trazem até entrevistas e matérias completas, além de um pôster com a miss daquela edição, é claro. Além das Playboys também temos revistas Hot Rod (uma clássica revista de automobilismo norte-americana), pinturas de Alberto Vargas, capas de discos famosos da época e propagandas comunistas. É muita coisa legal para encontrar e, devido ao seu valor histórico (afinal tudo isso existe ou existiu na vida real), é bem instigante procurar esses itens.

A versão definitiva ainda conta com todos os DLCs inclusos e uma pequena melhoria no HDR, ficando mais bonito em televisores 4K. As missões de DLC já ficam disponíveis no decorrer da campanha, então é até mais legal ir intercalando com as missões principais (e chega até a fazer mais sentido para a história), pois elas não interferem no enredo principal.

As vezes essas coisas ainda acontecem…

Essa versão também corrigiu uma série de bugs, mas é de se esperar que o jogo ainda tenha vários, pois isso é uma marca registrada de jogos sandbox. O que restou foram apenas alguns bugs irrelevantes como inimigos ficando presos dentro de paredes, objetivos sumindo do mapa (mas voltando depois), inimigos com inteligência artificial desligada e coisas do tipo. No final, você vai repetir tantas vezes as mesmas coisas que nem vai se importar caso um bug dê as caras.

Mafia III é um ótimo jogo e não fica atrás de seus antecessores. O fato de ser totalmente mundo aberto e sua repetição extrema o tornam mais maçante, pois os outros não sofriam disso por serem mais curtos e objetivos. A história é excelente e continua sendo seu principal carro chefe, então caso você não se engaje com a narrativa, dificilmente sentirá vontade de jogar até o final. Se você gosta de histórias de máfia e de criminalidade, provavelmente vai se divertir bastante tomando os distritos de New Bordeaux!

Review – Fallout: 1ª Temporada

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.15/04/2024
Harold Halibut

Review – Harold Halibut

Carlos AquinoCarlos Aquino15/04/2024