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Nas histórias em quadrinhos, o mundo foi abalado em 2011 com a morte de Peter Parker no universo Ultimate da Marvel. De forma surpreendente, em seu lugar entrou um jovem negro de origem hispânica, Miles Morales, e os fãs se dividiram entre os que aceitaram e os que torciam para isso dar errado. O personagem criado por Brian Michael Bendis não podia ter dado mais certo e foi um estrondoso sucesso.

Esta fama resultou em vários anos com ele em destaque na mídia por tudo que faz. Seja pelo seu papel como atual amigão da vizinhança, sua passagem pelos Vingadores e pelos Campeões, pela animação Homem-Aranha no Aranhaverso e, agora, como protagonista do jogo Marvel’s Spider-Man: Miles Morales, o moleque brilha. E posso afirmar com convicção que ele honra com louvores o uniforme que veste em todas estas adaptações onde aparece.

Seja maior. Seja você mesmo

O jogo se passa um ano após os eventos originais de Marvel’s Spider-Man e suas expansões. Se você não o jogou, vou alerta-lo de que a partir deste ponto terão vários spoilers do que rolou e fazem a diferença por aqui. Não adianta reclamar comigo depois, ao menos eu avisei.

Após o falecimento da Tia May e do retorno de seu relacionamento com Mary Jane, Peter decidiu usar o fim de ano para tirar umas férias da vida de super-herói. Nada mais merecido, já que ele defende Nova Iorque por quase uma década de tudo que é ameaça. Isso envolve os últimos eventos que trouxeram o Dr.Octopus, Sr.Negativo e vários outros vilões ameaçadores que foram presos.

Imagem do review de Marvel's Spider-Man: Miles Morales
Peter pode estar de férias, mas continua presente na aventura.

E agora que conseguiu treinar Miles por um tempo, ele deixa o jovem com a responsabilidade de tomar conta da ilha de Manhattan enquanto estará fora. Serão apenas algumas semanas longe, então o que de ruim pode acontecer nas mãos de um adolescente com superpoderes que ainda não se sente confiante em utilizar seus poderes?

É aqui que você assume completamente o papel de protetor e herói da cidade. Porém, como nada é simples nessa vida, isso envolve vários problemas que estão esperando por ele no uniforme e fora dele. Rio Morales, sua mãe, concorrendo às eleições como vereadora, a corporação Roxxon coagindo sua atuação na cidade e a perigosa figura de Tinkerer, conhecido aqui no Brasil como o Pensador, cujo plano coloca seus jovens recrutas e todo o território em perigo.

Imagem do review de Marvel's Spider-Man: Miles Morales
A presença de Tinkerer está em todos os lugares.

Em termos de jogabilidade, ele é exatamente a mesma coisa que o primeiro. Não que isso seja tão ruim, afinal de contas a mecânica era perfeita. Porém, alguns podem torcer o nariz para esse detalhe. Você se balançará pelos prédios enquanto impede o crime comum, invade bases inimigas, resgata colecionáveis que contam mais sobre a sua história e treina suas habilidades para conseguir ser tão espetacular quanto o original.

Só não pense que a sua jornada em Marvel’s Spider-Man: Miles Morales será tão longa ou maçante quanto o anterior. Apesar de ser mais do mesmo, ele aprimora vários fatores já vistos anteriormente, trazendo uma verdadeira versão 2.0 de tudo que vimos. Todo o charme, ação, retratação do personagem e de todos os elementos que esperávamos estão aqui tão fieis que vão te impactar durante o gameplay.

Imagem do review de Marvel's Spider-Man: Miles Morales
Dois Aranhas, a mesma cena se repetindo.

Para te acompanhar nessa viagem, pelo menos você contará com outra voz além do J. Jonah Jameson reclamando no seu ouvido. Também temos a inédita Danika Hart e seu podcast que ajuda a contextualizar vários pontos que ficaram abertos nesse espaço de um ano entre os dois títulos. Ela inclusive te ajuda com algumas informações importantes enquanto tenta acabar com a vilania de Tinkerer e sua guerra contra a Roxxon.

Falando nisso, a Insomniac Games acertou em cheio novamente em trazer vilões não muito conhecidos das HQs para os holofotes. Assim como o Sr.Negativo no primeiro, vir Tinkerer no segundo não coloca eles em comparação com nenhum outro conteúdo de mídia que saiu e faz essa aventura se tornar única. Pode perceber que a estratégia anda sendo a mesma nos cinemas, com Abutre e Mysterio como inimigos por exemplo.

Para ajudar o herói contra essa vilania e trazer ainda mais elementos à aventura, Ganke acaba desenvolvendo um aplicativo que faz você se conectar com os moradores da cidade para resolver pequenos crimes e ajudar a população. Roubaram seu carro? Não tem problema, o Aranha estará lá. Uma estação de metrô completamente tomada pela gangue Underground? Pode chamar no app. Mais conectado do que Peter já foi, isso também aproximará o personagem ao seu público.

Imagem do review de Marvel's Spider-Man: Miles Morales
A Roxxon não é tão boazinha, agindo igual aos quadrinhos.

Espetacular não, supremo!

Mas é nas batalhas que o brilho de Spider-Man: Miles Morales se garante. Elas estão mais ágeis e intensas e o novo herói tem em suas mãos, além de todas as habilidades herdadas do amigão da vizinhança, um golpe elétrico e sua invisibilidade. Estas receberam aqui um enorme destaque e fazem parte de toda a saga dele enquanto viaja de um lado para o outro em suas teias.

Os golpes Venom, como são chamados, servem tanto para a pancadaria quanto para várias side quests que precisam de uma grande carga elétrica em determinados pontos. Apertando L1, você pode realizar uma série de golpes combinados com a técnica e varrer os inimigos da sua frente. Já a invisibilidade é para as missões stealth e invasões, sendo decisiva muitas vezes também em grandes combates.

Imagem do review de Marvel's Spider-Man: Miles Morales
Posso te dar a certeza que esse cara não me viu chegando.

Porém, isso tudo citado acima são pequenas modificações do que o primeiro jogo já tinha definido e foi aclamado pela crítica. A verdadeira diferença de Spider-Man: Miles Morales e sua força está no próprio protagonista. Afirmo aqui que o jogo se foca muito mais na sua vida pessoal do que nas suas aventuras como Aranha e isso faz todo o plot ter um impacto emocional no que é apresentado para você.

Não é segredo aqui que o tio do personagem, o vilão Gatuno, está nesse título e não apenas ele, como Ganke, sua mãe, a amiga de infância Phin Mason e até mesmo Peter Parker fazem parte do círculo do adolescente e tem uma participação muito maior em sua vida em todos os modos. Miles não é como o veterano, que já aprendeu a equilibrar melhor a sua vida pessoal com o lado heróico. Tudo é uma novidade para eles e foi muito bem retratado nessa aventura.

Imagem do review de Marvel's Spider-Man: Miles Morales
A presença do Gatuno é mais do que confirmada!

A cidade também tem a sua parcela de destaque por aqui. A atmosfera natalina toma conta do jogo e diria que o timing foi perfeito nesse fim de ano. Neve pela cidade, enfeites entre os prédios e casas, grandes árvores de natal decoradas por toda Manhattan e até o grandioso shopping está a caráter. Inclusive, o Papai Noel de lá é nada mais, nada menos que J. Jonah Jameson. E sim, ele odeia os dois Aranhas.

Além disso, temos os moradores do Harlem, lar dos Morales. Cheios de charme e tão simpáticos quanto os personagens principais dessa jornada, é através deles que nos identificamos com a comunidade. Temos Tom, o dono da mercearia que perdeu o seu gatinho de estimação, também chamado de Spider-Man, por exemplo e alguns outros que fazem a sua parte para tornar o jovem em alguém mais maduro.

Imagem do review de Marvel's Spider-Man: Miles Morales
Conheça o Spider-Man, o melhor mascote-Aranha de todos.

Outro ótimo impacto positivo foi ver uma personagem surda pelo Harlem, qual Miles se comunica através da linguagem de sinais. Isso sem falar de vários outros pontos onde a inclusão bateu forte e surge de forma tão simples que encantará qualquer um que jogar. Claro, se você não tiver preconceito algum.

A questão da representatividade é excepcional aqui. Nada parece forçado, nada soa como uma tentativa da Insomniac Games ou da PlayStation de “lacrar”. O Harlem é o lar de muitos imigrantes, com várias bandeiras no local e o espanhol é ouvido aqui e ali. É natural e faz parte da alma de toda a comunidade. A cena da feira, vista num trailer de gameplay anterior, já tinha esse espírito. Apesar dele mostrar isso de uma forma bem superficial, sendo que, na verdade todo o título está mergulhado nessa ideia.

Miles não foge em momento algum de suas raízes.

E assim como vimos no Aranhaverso, a trilha-sonora de Marvel’s Spider-Man: Miles Morales continua com o mesmo estilo para dar ainda mais pompa à aventura do novo Aranha. Não pense que investiram pouco nisso, contando com a participação de Lecrae, Jaden e até mesmo da galera do Gente de Zona. Assim como o espetáculo visual que marca o início de uma nova geração, o musical não faz por menos e faz toda a atmosfera da jornada do jogo se tornar mais palpável.

Essa parte é tão importante que, inclusive, faz parte do próprio game. Algumas músicas rolam em cenas específicas onde o herói usa fones de ouvido, outras fazem parte de missões onde tem de achar a batida perfeita para formar uma sample que não foi finalizada pelo seu pai e por seu tio na juventude. Você pode jogar e amar o primeiro, mas é nesse que você se sentirá como o personagem em espírito. Só dá o play na música On my Own da trilha-sonora e confira por si mesmo.

Spider-Man: Poder e Responsabilidade

Nem tudo que eu citei aqui será jogável ou terá um grande envolvimento enquanto viaja pela cidade, mas tenha certeza que isso tudo dá o tom da alma do material. Posso garantir para você que absorver toda essa energia será a melhor coisa que pode fazer para compreender melhor a realidade destes personagens e de Miles Morales.

Como dito logo após o seu anúncio, Marvel’s Spider-Man: Miles Morales é um game mais curto do que seu antecessor e apesar de entregar tudo o que promete na medida certa, dá um grande gostinho de que podia ter sido mais recheado, tanto de mais inimigos para enfrentar quanto de referências. Aqui elas são substituídas por todo o sentimento de novidade que o herói traz consigo. Tudo é uma descoberta em seu caminho.

Imagem do review de Marvel's Spider-Man: Miles Morales
O jogo pode ser mais curto, mas Miles é digno da aventura.

Isso também não é um grande problema, já que foi explicado e falado várias vezes antes do lançamento. Só compra sem saber disso quem não viu absolutamente nada sobre o jogo e sabemos que isso no Séc.XXI é um risco enorme que pode minar todas as suas expectativas de várias formas possíveis.

Se você chegou até aqui, saiba que Marvel’s Spider-Man: Miles Morales não está livre de alguns pequenos defeitos. Vi alguns bugs pelo jogo, tanto de ver a mochila transpassando o herói até ver um carro com a cabeça do bandido para fora do veículo, na parte de cima. Para terem ideia, só tive a experiência de vê-lo travando uma vez e só depois que fechei o game. Nada que a atualização de Day One não corrija, obviamente, mas não foi muito engraçado.

Imagem do review de Marvel's Spider-Man: Miles Morales
O Brasil está muito bem-representado em Miles Morales.

Para terem uma noção, apesar dessa pequena reclamação, ele roda muito bem e seu desempenho é veloz até mesmo no PlayStation 4. Não demora 30 segundos completos para ele carregar e você começar a jogar. Isso testando ele no modelo normal, o PRO eu nem posso imaginar a agilidade. No PS5, porém, deve ser inexistente esse carregamento.

E os estúdios PlayStation devem estar mais atentos às questões já conhecidas do áudio dublado, que saía muito baixo. Aqui ele está no mesmo tom de todos os demais sons e muito agradável, diga-se de passagem. Se eu bem prestei atenção, só uma pequena frase em todo o jogo não foi traduzida ao português, mas foi algo tão curto que sendo sincero nem fez muita diferença ali. Ainda acredito que um patch resolva isso tranquilamente até lá.

Imagem do review de Marvel's Spider-Man: Miles Morales
Se nada disso te convenceu, mais de 15 trajes novos farão isso.

Esplêndido de se jogar, Marvel’s Spider-Man: Miles Morales trouxe o que havia de melhor no primeiro game da série, aprimorou e, somado à história e representatividade que o herói carrega, formaram uma obra-prima digna de figurar entre um dos melhores títulos cross-gen que poderíamos ter em mãos.

Se você jogou o anterior, ele é um game obrigatório para você. Se você é fã do Homem-Aranha, não adianta correr que você não vai se arrepender de jogá-lo. Seja no PlayStation 4 ou no PS5, aqui está uma aventura inspiradora, cheia de nuances e movida pelos melhores elementos que encontrará nas histórias do super-herói. E eu mal posso aguardar pela seqüência disso tudo.

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