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O herói escolhido, sem memória. Um mundo em perigo, com monstros e magia ali disponíveis para os mais aventureiros. Estilo retrô, daqueles que você hoje presencia em grande parte dos títulos indies. Monster Viator tinha cara de todos os clichês possíveis, qual me chamou a atenção apenas pela parte de captura dos bichos para ajudá-lo no confronto. Depois do épico Final Fantasy VII Remake, cujo review foi escrito pelo Caio Lopes, eu senti que precisava jogar algo mais basicão e que não exigisse muito da minha paciência.

Olha, a desenvolvedora Hit-Point Co. pegou todos os meus pré-conceitos e disse em alto e bom som “achou errado, otário”. Desde o momento que começou eu fui surpreendido positivamente. Charme dos personagens, a fenomenal trilha-sonora, as diferentes e poderosas criaturas que se unem à sua jornada, os vilões, o mundo rico e cheio de acontecimentos, confesso que em pouco tempo com ele em mãos já estava viciado e tentando prever o que aconteceria a partir dali.

Um início acertado

Monster Viator é um JRPG em carne e osso, como especifiquei ele possui o visual retrô, porém o sistema é bem rico em opções. Você pode equipar habilidades distintas para melhorar seu desempenho na batalha, escolher três personagens da sua lista para ajudá-lo, há melhoramento de armas, montarias, um vasto mapa para explorar e segredos dentro dele. Diria que é difícil equiparar se há algum mais completo que ele neste sentido.

Já as batalhas seguem um estilo visto nos antigos Dragon Quest e até mesmo na franquia 7th Dragon. Você não vê o sprite dos seus personagens, apenas uma imagem que funciona como guia para visualizar quanto eles possuem de HP e MP. Apenas os dos seus oponentes são vistos. Isso não atrapalha em nada, sendo bem sincero, mas confesso que espero poder ver uma mudança se ele ganhar uma sequência, futuramente.

Imagem do review de Monster Viator
As batalhas não mostram sprite do seu personagem.

Caso se canse das batalhas ou entre num longo combate contra um boss, ao menos o jogo te dá a opção de poder acelerar a velocidade em 2x. Nas batalhas você também tem a opção de ver os dados dos oponentes e criar uma estratégia que se encaixe melhor naquele momento. Outra coisa que me surpreendeu é que aqui não há itens de cura ou recuperação. Você terá seu HP e MP restaurados no fim de cada confronto. Porém, isso não significa que na próxima batalha a situação será simples, então avalie bem cada fator.

Além disso, fica a dica que é muito importante, e te ajudará bastante em Monster Viator, rotacionar sua equipe. Permanecer com a mesma desde o início vai se mostrar uma péssima ideia quando o vilão, os chefões das dungeons ou alguns desafios apertarem. Todos ganham experiência na mesma proporção, então isso te incentiva a criar diferentes táticas para poder prosseguir em sua aventura.

Imagem do review de Monster Viator
Rotacionar a sua equipe é a melhor opção.

Vale notar também que a curva de dificuldade é muito bem-inserida em Monster Viator. Você perceberá que nunca estará forte demais chegando numa nova área do mapa. Nem consegue chegar lá estando fraco demais, com a sorte não te abrindo muita brecha para seguir em frente. Ou você é capaz de mostrar ao game que consegue segurar a onda ou ele não te deixa seguir em frente. Digo isso por um conflito no início, com meus personagens no lv.10 contra um só no lv.13 não deixou pedra sobre pedra. Isso se repete posteriormente e treinar é sempre a melhor opção.

Monster Viator VS Pokémon

A princípio, o ponto que mais me incomodou foi o fato de não poder capturar todos os monstros. A história e algumas side-quests te colocam em situações nas quais alguns se juntam à sua jornada e aumentam seu exército. Porém, com o tempo, foi a decisão mais acertada e vou citar uma franquia como comparação que pode até gerar uma polêmica por aqui. Gostaria que Pokémon fosse assim.

Enquanto joga Monster Viator e se irrita por querer um ou dois monstros, você vai vendo poucos se unindo por sua causa. O que você não percebe é, que aos poucos, eles criam um laço com o seu personagem. É o filhote de grifo que viu sua mãe ser assassinada por um dos vilões, que deseja ser forte para proteger a floresta que ela defendia.  Uma salamandra de fogo que não sabe nadar nas chamas, sendo alvo de bandidos e você ajuda a afugentá-los. Um fantasma que vivia há centenas de anos numa dungeon e fica te provocando apenas para interagir com alguém.

Imagem do review de Monster Viator
Cada monstro tem uma história e um propósito.

Todos eles têm a sua própria saga e isso se torna um diferencial gigantesco. Por exemplo, minha equipe está justamente esse fantasma e um Cerberus, que guardava uma espada poderosa que seria roubada pelo vilão. Quando o conhece, mantém ela protegida enquanto ele está impossibilitado e, por questão de honra, ele decide ceder a arma em suas mãos e te acompanhar. Eles não são criaturas sem poder de fala, que foram levadas à força e servem apenas como alvos na rinha de bichinhos. Os monstros escolheram essa vida, sabe?

Aí você se pergunta “Nossa Diego, mas onde Pokémon se encaixa aí?”. Neste você tem uma gama maior de opções, com 900+ para criar uma equipe e desbravar sua aventura. Mas nenhum deles tem uma personalidade, um propósito e inclusive eles não tiveram opção quando foram capturados. Não é igual ao desenho, que o Pidgeotto deixou o Ash para proteger os demais da sua espécie. Ou o Bulbasaur que ajudava outros Pokémon abandonados. Até mesmo o Squirtle tem um estilo, que fazia parte de um esquadrão de arruaceiros. Ali há um charme particular que nos jogos da franquia é inexistente.

Imagem do review de Monster Viator
A tela de Pause é um acampamento da sua party.

E esse laço é importantíssimo para você encontrar novos parceiros. Assim como os humanos, alguns deles não vivem sós e algumas falas indicam que existem amigos que poderiam te ajudar em sua saga. É um mundo completamente vivo, cheio de histórias e que permitirá que o imaginário seja preenchido com as vastas aberturas que dão. Além disso, ele também oferece opções. Você escolhendo libertar um bicho preso por alguém, por exemplo, pode fazer toda a diferença futuramente e este mesmo pode voltar e lhe ajudar numa situação de risco. Mas tome cuidado, nem todos são seus amigos.

Outra coisa que desejo parabenizar a Hit-Point Co. é a incrível trilha-sonora. Eu tentei pesquisar, sem muito sucesso em minhas buscas, quais foram os responsáveis, mas merecem meus parabéns. Posso afirmar, com toda a certeza do universo, que ela é do nível de lendas como Chrono Trigger, Final Fantasy VII e similares. Cada área um som distinto, a batalha te dá uma sensação indescritível de que não pode ficar parado e os chefões tem músicas ameaçadoras.

Imagem do review de Monster Viator
A trilha-sonora se encaixa em todos os momentos.

Eu costumo jogar em meu horário de almoço do trabalho, qual partilho o momento com um amigo. Confesso que me surpreendeu ele parar o que estava fazendo, olhar para mim e reclamar que eu tinha aniquilado um inimigo depressa e que ele tava curtindo a música de combate. Já em casa, até mesmo o meu irmão caminhando para lá e para cá dava uma pausa e o som o atraía a ver o que estava acontecendo.

Nem toda obra-prima é perfeita

É impossível não se envolver com toda a composição que Monster Viator traz, com um conjunto arrebatador e que te fará ficar viciado e querer saber o que aconteceu na vida do herói e por qual razão ele não tem memória alguma. Mas, como nem tudo é perfeito, ele também tem uns probleminhas aqui e ali que te fazem enjoar de alguns fatores.

O primeiro deles é a repetição excessiva de inimigos. Em 50% do jogo você já terá visto todos os modelos disponíveis e suas cópias de outras cores. Confesso que tinha momentos que entrava em certas dungeons e me questionava qual seria a cor do monstro X ou Y ali. Algumas combinam melhor, outras não parecem tão agradáveis visualmente por não combinar com aquele bicho. Enfim, se torna cansativo e você só deseja que termine logo aquele confronto.

Imagem do review de Monster Viator
Conforme avança, reparará que só mudam de cor.

Falando em cansativo, existem monstros especiais no mapa que são grandiosamente poderosos e assustarão a sua equipe. Eles não representam um perigo tão grande, já que você pode recuar com sucesso deles caso não se sinta pronto para o confronto. Porém, em certas áreas eles aparecem demais e isso irrita. A cada duas ou três batalhas surgir um Hyperion, por exemplo, foi extremamente chato.

Apesar disso, Monster Viator não perde o gás e te surpreende chegando numa nova cidade, conhecendo a cultura de algum lugar ou aprendendo mais sobre sua própria história. Diria que muitos lugares estão conectados com o passado e o presente dos protagonistas e isso incentiva bastante a continuar. Caso se sinta na mesmice, há mestres que ensinam diretrizes diferentes, funcionando como os jobs de outros games, que dão uma renovada na sua forma de jogar.

Bom, para quem estava preocupado em não saber se teria palavras suficientes para descrever o título, já me estendi bastante não é? Caso tenha chegado até aqui, só dou um conselho, jogue. Se é fã de JRPG, se curte o estilo Pokémon ou até mesmo se busca uma história muito bem escrita, aqui tudo é regido pela excelência e mal posso aguardar para ver onde a franquia irá daqui para frente. Já tem um fã.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024