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Em 2009, a From Software mudou a cara dos RPGs de ação de uma maneira que ninguém esperava. Com cavaleiros negros, dragões e criptas escuras recheadas de criaturas, Demon’s Souls chegou ao Playstation 3 com uma história enigmática e atmosfera opressiva, dando o pontapé no gênero Soulslike. Nesse ínterim, Mortal Shell traz e dobra as apostas de desafio do gênero.

Mortal Shell é sem dúvida uma das melhores entradas que joguei do gênero, me trazendo nostalgia de quando zerei o primeiro Dark Souls no PC. No mundo daqueles chamados “Reverenciados”, nosso protagonista não é Chosen Undead, Bearer of the Curse ou Ashen One. Aqui somos uma espécie de criatura que habita as carcaças daqueles derrotados pelo caminho, possuindo os corpos esquecidos de guerreiros que foram derrotados antes de nós.

Violento na medida certa

Já vi gente achando que usar uma espada é igual aos animes, onde vemos um personagem levantar uma espada maciça de 15 Kg sem problema algum. Mas na realidade, em três ou quatro golpes a pessoa estaria colocando os pulmões para fora. Mortal Shell traz esse peso e violência para seu jogo, um RPG Soulslike realmente obscuro e violento. Controlamos uma espécie de entidade que consegue se apoderar dos corpos de guerreiros que pereceram em combate.

Imagem do review de Mortal Shell
Parei a sanguinolência um pouco para fazer carinho no gato.

Ou seja, ao invés de trocarmos de armaduras, trocamos literalmente de corpo, cada qual com sua build específica. O mais interessante é que cada corpo possui uma efígie própria que permite que o jogador troque de corpo durante o combate. Claro que há um custo absurdo de vida para realizar a ação, mas vale a pena ver que os devs resolveram facilitar a mudança de carcaças durante o jogo. Além de, é claro, poder explorar melhor os diálogos com os NPCs, que reagem de maneira diferente dependendo da carcaça habitada no momento.

A missão de nosso personagem é trazer abaixo os supostos deuses e ídolos destas terras ermas. Semelhante à série Souls, o jogador possui um QG, onde pode interagir com NPCs e receber ou comprar upgrades. Cada caminho o levará para uma região diferente deste mundo, e cada região conta com uma arma a ser encontrada e uma carcaça nova. Até o momento, pude ver o pântano, uma cripta, uma “fundição” e uma espécie de castelo de cristal.

Caminho dos espinhos, cacos de vidro e tétano

A maior diferença é que aqui não há bonfires e nem mesmo algo semelhante a frascos de estus. Para aqueles que não estão familiarizados com a série Souls, nela existem fogueiras – lanternas, no caso de Bloodborne – que servem como checkpoints. Aqui, temos uma entidade que parece com a Fire Keeper de Dark Souls 3. Quando falamos com ela, temos a opção de consumir o Piche, moeda do jogo, que funciona como as almas e ecos de sangue. Assim podemos comprar upgrades daquela carcaça, cada qual com suas skills próprias, sejam ataques novos ou habilidades passivas de recuperação de vida.

Imagem do review de Mortal Shell
Hadern, o guardião das armas espalhadas pelo mundo.

Aqui o jogador pode encontrar pelo mundo cogumelos e espetos de ratos espalhados pelo mundo, que servem para recuperar a nossa vida. Mas um item como o frasco de estus é inexistente, a não ser que eu tenha esquecido de obtê-lo. A grande diferença no entanto aqui é a habilidade de se petrificar. Os jogadores devem usar esta habilidade junta do Selo, obtido do prisioneiro encontrado no QG.

O Selo permite que o jogador faça um parry se executar o comando no momento exato, abrindo a chance para um contra ataque em resposta. Mas para os que preferem jogar de maneira mais segura, há essa habilidade de petrificação, que transforma o jogador em uma estátua, permitindo que o mesmo sofra uma quantidade de dano que será absorvido pela rocha. No entanto, uma vez que saia deste estado, é necessário esperar em torno de 5 segundos para usá-la novamente.

Imagem do review de Mortal Shell
Ó, o caminhão do leite…

Reverenciando os esquecidos

Em Mortal Shell, além das quatro carcaças, existem quatro armas a serem obtidas, cada qual com sua peculiaridade. Elas são a espada sagrada, arma com a qual começamos, a espada bastarda, semelhante a uma Zweihander, uma maça longa imbuída em chamas, um martelo e um cinzel. Todas elas são protegidas por um guerreiro chamado Hadern, que deve ser derrotado a fim de se conseguir a arma em questão, já que quando as encontramos, elas estão sempre petrificadas junto de estátuas.

Como as carcaças, as armas também possuem itens de fácil acesso que permitem que os jogadores as troquem durante as dungeons, deixando tudo mais fluido. As armas podem ser aprimoradas em forjas, cada uma possuindo um item específico como fragmentos de lanças, cristais e têmperas que habilitam habilidades únicas para elas, além de poder infundi-las com ácido, aumentando o dano físico. O jogo possui poucos itens, mas a maneira fácil de acessá-los permite que o jogador mantenha sempre uma ou duas cartas na manga.

Imagem do review de Mortal Shell
Pensa em uma carcaça cheia de vida e defesa!

O visual de Mortal Shell é magnífico e captura muito bem o que pode se esperar de um jogo Soulslike, com construções góticas e opressivas, de uma escuridão sufocante e apavorante, ainda mais quando não sabemos o que esperar ao cruzar uma porta ou corredor. O peso das armas torna as batalhas espetaculares: um exemplo disto é quando acertamos um ataque pesado com a maça em um oponente, lançando o mesmo ao ar em chamas.

A trilha sonora também não deixa a desejar, trazendo vida ao mundo e emoção às batalhas. Mas mesmo com todos estes pontos altos, o jogo possui uma pequena quantidade de pontos negativos. Um destes é a barra de habilidade acima da barra de vida, que se mostra um tanto quanto inviável, estando sempre vazia quando mais precisamos dela, seja para executar um parry, ou utilizar as habilidades das armas. Outro grande problema é a maneira como a mira se comporta algumas vezes, dificultando o combate contra um ou mais inimigos.

Meu filho vai terrrr nome de santuuuuuuuu…

Outro grande problema que tive em Mortal Shell é que os bosses não são tão interessantes quanto esperava, e nem mesmo os reverenciados são tão marcantes. No entanto, isto não acaba por tirar o mérito de Mortal Shell de ser um incrível título Soulslike, trazendo à tona minha expectativa ao ver o trailer de que era um Dark Souls um ainda mais porradeiro e visceral em seus golpes. Então vista a sua melhor carcaça, use a sua lâmina mais afiada, e aqueça bem a cabeça de sua maça para partir crânios e lançar corpos. Está na hora de criar novas carcaças mortais.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024