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Hoje em dia, usar um aplicativo de viagens rápidas é algo tão comum quanto respirar ou ir ao banheiro, a ponto de movimentar todo um mercado e se destacar como um dos principais meios de transporte da atualidade. Sei que a maioria dos leitores devem se encontrar no papel do cliente, mas não duvido que alguns aqui também trabalham com isso e sabem bem como uma má avaliação no seu perfil pode custar muito.

É seguindo essa premissa que chegamos ao jogo da vez: Neo Cab. Ambientando em uma Califórnia cyberpunk onde grande parte das pessoas já perderam seu emprego para a tecnologia e muitas outras estão perdendo até sua humanidade pelo mesmo motivo, nos encontraremos na pele de uma motorista que já tem problemas demais para lidar, mas que sempre viverá uma nova aventura ao lado dos clientes mais atípicos possíveis.

Os robôs roubaram meu emprego

Em Neo Cab assumimos Lina, uma jovem que trabalha como motorista em uma empresa de viagens rápidas como qualquer outra (essa que dá nome ao jogo). Lina está se mudando para Los Ojos, na Califórnia, para dividir um apartamento com sua melhor amiga – a mesma amiga que ela teve uma briga feia anos atrás.

Sem dinheiro e sem perspectiva de um futuro melhor, nossa protagonista aceita uma reconciliação para tentar um novo começo ao lado da pessoa mais importante da sua vida. O que ela não esperava é que sua amiga fosse desaparecer logo em sua primeira noite na cidade, e agora tudo que resta é procurar pistas desse paradeiro em uma cidade em que você é a única motorista humana.

O jogo é totalmente focado em narrativa, então tudo que faremos será apenas ler diálogos, participar deles quando possível e selecionar qual a próxima pessoa que iremos dar uma “carona”. Quem não fala inglês também poderá tirar todo o proveito deste título, pois ele veio totalmente localizado em português.

Saca só essa localização…

Dito isso, apenas reforço que aqueles que preferem jogos recheados de ação provavelmente irão odiar este título com todas as suas forças. O fato dele não ter dublagem colabora consideravelmente com a monotonia daquele universo, então tudo que te resta é sentar e ler todos os diálogos enquanto escuta as músicas futuristas que compõem a trilha sonora.

Tirando esses pesares, vamos para a parte boa com foco na narrativa. Ao longo do jogo precisaremos pisar em ovos em cada diálogo que tivermos, pois de uma hora para outra uma conversa amistosa pode ir por água abaixo. Tudo isso sempre irá influenciar na sua nota no aplicativo, pois assim como na vida real seus clientes também poderão te avaliar e, caso você não seja gentil com eles, já sabe o que vem depois. Se sua nota cair demais, Lina será demitida e é o fim da estrada pra você.

Sentimental

Pode parecer fácil demais simplesmente falar o que todos querem ouvir e manter boas relações com todo mundo, mas Neo Cab lida com isso de uma maneira sutil e muito inteligente. Apesar de você estar no controle de Lina, ela também tem controle sob você, pois ela é um ser humano com personalidade própria e opinião formada.

Não existe segredos entre Lina e o jogador. Ela sempre vai compartilhar o que pensa e também vai se recusar a falar coisas que não condizem com seu humor. Para isso, temos uma pulseira que indica como Lina está se sentindo pela cor: verde para tranquila, amarelo para incomodada e vermelho para zangada – mas existe uma vasta tabela de cores diferentes que indicam mais de uma emoção simultânea.

Escolha bem a sua clientela ou vai acabar perdendo o seu emprego.

É preciso estar sempre atento a como Lina está se sentindo, pois isso irá afetar todos os diálogos e poderá te custar estrelas. O jogo te dá a liberdade de escolher o próximo cliente, o que também deverá ser feito com cuidado. Analisar a foto do sujeito, sua descrição e sua nota são essenciais para garantir que Lina não acabe mais estressada ainda. Tudo isso deve ser feito ao mesmo tempo que administramos nosso dinheiro ao recarregar a bateria do carro.

O mais frustrante desses diálogos é que as coisas mudam da água pro vinho muito rápido. Em um momento o bracelete de Lina está verde e está tudo ótimo, mas basta o passageiro fazer qualquer citação à antiga empresa em que nossa protagonista trabalhava (e que substituiu todos os motoristas humanos por robôs) para que ela fique estressada e não deixe você escolher nenhuma opção de diálogo amigável. Tudo isso vai influenciando positivamente ou negativamente no seu final, que será definido pelo humor com que a personagem terminou o jogo.

Ainda assim, Neo Cab tem uma atmosfera muito legal que ajuda a te manter preso e imerso naquele mundo. Todas aquelas luzes neon e pessoas com implantes robóticos carregando personalidades, histórias e experiências diferentes faz você querer passar mais e mais tempo “trabalhando” somente para conhecer mais daquela gente e daquele mundo. É um jogo bem aconchegante, que faz você se sentir confortável naquela cidade ao mesmo tempo que reconhece suas imperfeições devido à dependência que a humanidade desenvolveu com a tecnologia (o que não foge muito da nossa realidade).

O sistema de emoções é complexo e decisivo no jogo.

O único problema de performance que vivenciei foi um bug que simplesmente quebra o seu jogo sem mais nem menos. Existe uma pequena possibilidade de um diálogo não ser continuado após você escolher a opção desejada, te obrigando a carregar o último save e iniciar aquela etapa do zero. Isso não é um erro tão irrelevante, já que o jogo só salva entre um cliente e outro e os diálogos sempre serão longos, então você perderá um bom trecho jogado caso isso aconteça.

Neo Cab é um daqueles indies diferentões que você joga para fugir um pouco da rotina densa dos jogos de ação. Ele proporciona uma experiência relaxante e satisfatória, mesmo que entediante e até frustrante em diversos momentos. O fator replay ainda é alto, pois muito provavelmente você não vai tirar um final legal na sua primeira jogada e vai querer jogar de novo para tentar a sorte mais uma vez. Vamos ver quanto tempo você sobrevive sendo tão humano nesse oceano digital.

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