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Podemos contar nos dedos o número de parcerias na indústria de games que possuem tanta química quanto essa da desenvolvedora japonesa Level-5, especialista de longa data em JRPGs, e do Studio Ghibli de animações, responsável por longas como A Viagem de Chihiro e O Castelo Animado. Essa incrível união resultou em um dos melhores JRPGs que muitos tiveram o prazer de jogar na geração passada, Ni no Kuni: Wrath of the White Witch.

Pouco se especulava sobre uma possível sequência, afinal Ni no Kuni é um jogo único com começo, meio e fim, e sinceramente não tinha mais como prolongar a história do jovem Oliver e seu fiel companheiro Drippy. Para a surpresa de muitos, Ni no Kuni II foi oficialmente anunciado durante a PlayStation Experience 2015, prometendo uma nova aventura com novos personagens possuindo objetivos completamente diferentes do primeiro protagonista, porém tudo ambientando no mesmo universo. Chegou a hora de descobrirmos se Revenant Kingdom conseguiu carregar com êxito o legado de seu antecessor.

O rei do mundo inteiro

Ni no Kuni II se passa milhares de anos após o primeiro, em um mundo com um longo período de paz prestes a ser perturbado. O protagonista da vez é um menino meio humano meio Grimalkin (a raça humanoide de gatos desse universo) chamado Evan Pettiwhisker Tildrum, esse que herdará o reino de Ding Dong Dell (quem jogou o primeiro game já conhece esse lugar) após a súbita morte de seu pai. Porém no dia da sua coroação se dá início um golpe de Estado comandado por Mausinger, o conselheiro do antigo rei e o líder da raça Mousekin, os principais rivais dos Grimalkin (gato contra rato, entenderam?).

Felizmente nem tudo está perdido para o jovem Evan, pois no dia da conspiração ele ganha um valioso aliado, Roland, esse que vivia no nosso mundo e era o presidente de uma nação, e acabou sendo misteriosamente teleportado para Ding Dong Dell após sofrer um atentado. Juntos, eles irão iniciar uma jornada para construir um novo reino e para que Evan possa cumprir sua promessa feita para uma velha amiga: se tornar o rei do mundo inteiro e trazer mais um longo período de paz para que todos possam viver felizes para sempre.

Imagem do jogo Ni no Kuni II: Revenant Kingdom
Acho que conheço essa estátua…

Vale ressaltar aqui que nada que jogamos no primeiro foi desconsiderado nesse, porém a história de Revenant Kingdom se passa tanto tempo após o anterior que o legado de Oliver acabou virando só uma lenda, uma história de um herói passada de geração em geração. Os mais atentos também poderão notar alguns cameos e referências ao jogo anterior, só para dizer que não teve nada. Se comparado ao antecessor, podemos dizer que o enredo desse é bem mais bobinho, pois no primeiro jogo a carga emocional e dramática da história era muito maior, com momentos que realmente emocionavam o jogador, e aqui é apenas uma história de superação protagonizada por um jovem determinado que não desiste por nada.

Ao longo da sua jornada Evan conhecerá novos aliados que se juntarão a sua causa, dentre eles o líder dos Piratas Aéreos, Batu, e sua filha Tani. É bem legal podermos explorar mais desse mundo tão rico de Ni no Kuni e conhecer novos locais com novos povos e novas culturas, mas ainda assim eu sempre ficava com a impressão de que tudo ainda está à sombra do primeiro. Nenhum personagem é tão carismático quanto qualquer um do jogo anterior, e os locais visitados sempre parecem ser muito genéricos. É claro, a direção de arte continua elogiável e os cenários estão tão caprichados quanto no anterior, e olha que no primeiro jogo já era tudo muito bonito. Visitaremos cânions, florestas e cidades, cada um com seus próprios nativos e história por trás, o que deixa tudo muito mais incrível.

Imagem do jogo Ni no Kuni II: Revenant Kingdom
Algumas armas tem um visual muito maneiro.

Ainda assim, o jogo todo parece apenas como uma grande tentativa de apenas expandir o universo de Ni no Kuni, não abordando profundamente toda a mitologia desse mundo mas sim apenas o mundo em si. Você conhecerá novas regiões e novas criaturas, mas as coisas que realmente enriqueciam esse jogo não serão exploradas devidamente, como todo aquele lance de “soul mate” por exemplo. Infelizmente não contaremos nem mesmo com as incríveis cutscenes produzidas pelo Studio Ghibli, o que deixou um buraco imenso no jogo, pois era uma das suas principais características. O Studio Ghibli teve sim participação no desenvolvimento, mas apenas no design de personagens e outras coisas do gênero, então toda cutscene que assistirmos será na engine do jogo, o que é uma pena.

A Level-5 resolveu usar uma receita de bolo para dar sequência à marca, o que não é ruim mas o que também colabora bastante com a constante comparação com o jogo anterior. O protagonista continua sendo um garotinho, que será acompanhado de uma criatura pequena e de pavio curto (nesse jogo será o Kingmaker Lofty, que não chega nem aos pés do Drippy), um homem mais velho que servirá como seu tutor (antes Swaine, agora Roland), uma garota leal e determinada (antes Esther, agora Tani) e um líder forte e destemido que se rende à liderança do protagonista (antes Marcassin, agora Batu). As criaturinhas que lutavam por nós no primeiro jogo continuam aqui, mas esse é um dos fatores que foram radicalmente alterados nesse jogo, e aqui entra o nosso divisor de águas.

Temos que pegar?

Se no game anterior um dos nossos principais objetivos era ir capturando as criaturinhas que enfrentávamos no caminho e as usando como aliados no campo de batalha, bem no estilo Pokémon da coisa, em Revenant Kingdom isso foi totalmente erradicado. Os Familiares do jogo anterior foram substituídos pelos Higgledies, criaturas elementais que agem em conjunto e não podem ser controladas. Nós não as capturamos do jeito convencional, só podendo obter mais Higgledies encontrando pedras especiais que fazem um desejo, e satisfazendo o desejo dessa pedra uma nova criaturinha se junta ao seu grupo. Isso não só limitou um bocado a variedade de aliados que temos em batalha, como também deixou a participação deles nas lutas puramente cosméticas, e logo eu já explico o porquê.

Imagem do jogo Ni no Kuni II: Revenant Kingdom
Essas são as novas criaturinhas do jogo…

O primeiro jogo usava um sistema de batalha chamado Active Dimension Battle, que foi claramente inspirado e adaptado de Final Fantasy XII. Nesse esquema a batalha acontece em tempo real, mas não igual a um hack and slash – você deve dar ordens aos seus personagens como quem atacar e qual ataque usar, e deve ir administrando tudo em tempo real enquanto os inimigos também estão atacando. É um sistema dinâmico e muito estratégico e que particularmente me agrada bastante. Já em Revenant Kingdom, o ADB foi substituído pelo bom e velho RTB (Real Time Battle) e se tornou um Action RPG, seguindo a mesma onda de Final Fantasy XV. Agora toda a estratégia das lutas foi por água abaixo e tudo que fazemos é massacrar o mesmo botão para se livrar dos inimigos em instantes.

Seu grupo será composto por três personagens e você poderá controlar qualquer um deles, tanto no mapa quanto no campo de batalha. Cada um possui suas habilidades e sua especialidade, mas sinceramente, toda essa variedade de gameplay é puro capricho, pois as lutas são exageradamente fáceis demais e mal duram 5 segundos em sua maioria. Você provavelmente irá escolher qual personagem é o seu preferido bem rápido e jogar com ele do início ao fim, pois os NPCs agem muito bem por conta própria e ajudam de verdade, derrotando vários inimigos e facilitando ainda mais as coisas pro seu lado.

Imagem do jogo Ni no Kuni II: Revenant Kingdom
Cada personagem age de um jeito no campo de batalha e você pode controlar todos.

Os Higgledies ficam espalhados pelo campo de batalha esperando a sua ordem para atacar, mas eles só podem colaborar em determinados momentos, e quase sempre nem vai dar tempo, pois é tudo tão fácil que você irá terminar a luta antes mesmo deles ficarem prontos para atacar. Cada bichinho tem sua especialidade, onde alguns te curam, outros causam dano de fogo, outros de escuridão, e isso varia de acordo com o elemento de cada um. Limitar o uso das criaturas que eram essenciais no primeiro para isso é uma baita desconsideração com as raízes e muito potencial jogado fora. Só para dizer que eles não são inúteis por completo, eles também auxiliam na exploração, liberando caminhos que seriam impossíveis de alcançar sem os seus poderes.

A mudança drástica no estilo de combate não foi algo ruim, mas acabou facilitando ainda mais o jogo, pois se o primeiro já era fácil, o segundo beira o ridículo no nível de desafio. Todas as lutas contra mobs que esbarram conosco no caminho são fáceis ao extremo e acabam em instantes, e quando finalmente vamos enfrentar um boss, não importa o quão intimidador ele seja, chega a dar até dó dele quando a luta começa. São tantos ataques diferentes encima do chefe, vindo não só de você mas também dos seus NPCs, e combinado com o auxílio dos Higgledies, a boss fight vira um passeio no parque em um dia ensolarado. É legal ser overpower, mas quando não existe desafio algum tudo se torna entediante demais, e é isso que acontece em Ni no Kuni II.

Construa seu próprio reino

Uma coisa bem legal que foi implementada nesse título é a construção de um reino do zero. Quando eu digo do zero, é literalmente do princípio, pois você começará em um campo vazio só com algumas tendas e terá que providenciar tudo para que seu reino prospere. Antes de tudo você terá que conquistar aquele território para poder se assentar ali, e terá que continuar lutando para expandir seus domínios.

Imagem do jogo Ni no Kuni II: Revenant Kingdom
O início de um grande reino.

Para isso foi implementado o Skirmish, uma batalha de exércitos, e isso sim vai exigir bastante estratégia por parte do jogador. No Skirmish você enfrentará outro exército e lutará por aquele pedaço de terra, e tudo acontece em tempo real, mas você deve ir dando ordens para seus soldados e administrando muito bem seus pontos de batalha para conseguir a vitória com tranquilidade. Com esses pontos você pode usar ataques devastadores no exército inimigo ou conjurar reforços para substituir seus soldados caídos, então use-os com sabedoria.

Conforme se avança na história você conhecerá novas pessoas dispostas a fazerem parte do seu reino, e cada uma desempenhará uma função diferente nele, indo desde cozinheiros até construtores e guardas. Todos são essenciais para que seu reino prospere, e você só conseguirá tal feito avançando na história e explorando bastante cada canto do jogo. Uma coisa que não dá pra botar defeito nesse conjunto continua sendo a trilha sonora, que está ainda mais estonteante que a do primeiro game, com belíssimas músicas instrumentais que conseguem embelezar ainda mais cada região e momento do jogo.

Imagem do jogo Ni no Kuni II: Revenant Kingdom
Skirmish é surpreendetemente divertido.

Ni no Kuni II fica bem atrás de seu antecessor, mas passa longe de ser um jogo ruim e é recomendado para todos que jogaram e amaram a história do jovem Oliver. Mesmo com mudanças drásticas em sua jogabilidade e com um enredo nem tão impactante quanto do primeiro, o jogo não falha em te entreter por boas 40 horas de campanha, já incluindo missões secundárias e tudo que temos direito (o que é metade do que o primeiro jogo oferece, mas não deixa de ser um ótimo tempo de jogatina). Suas mudanças com certeza não agradarão a todos, mas ao menos torna o game mais atrativo para um público nem tão “RPGzeiro” assim, e o fato da sua história ser independente do primeiro acaba tornando o título acessível para todos. Se você já ajudou Oliver a se tornar o maior mago da história, então não custa nada ajudar Evan a se tornar o rei do mundo inteiro.

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