Skip to main content

Desde os primórdios da franquia, Oddworld é uma parte importante da história do PlayStation e é realmente impressionante ver que a série resistiu até aqui. Desde Oddworld: New ‘n’ Tasty, lançado em 2014, Abe andou meio sumido – mas cá estamos, sete anos depois e na nova geração de consoles, com um título inédito que não só dá sequência aos acontecimentos de New ‘n’ Tasty, mas também reimagina o clássico de 1998, Oddworld: Abe’s Exoddus.

Soulstorm é muito familiar para veteranos da franquia e nada amigável para novatos. Definitivamente é um Oddworld como nós bem lembramos e nunca deixou de ser, com todos os elementos que compõem cada um de seus jogos, mas ao mesmo tempo não deixa de ser bastante datado e meio ultrapassado. Abe está acompanhando a nova geração de consoles, mas talvez não tenha se preparado bem o bastante para isso.

Lutando pela liberdade

Para quem não conhece a franquia, Oddworld sempre tratou de um tema bem mais pesado do que aparenta. Abe é um Mudokon, uma raça de criaturinhas olhudas que foram escravizadas e vivem sob o domínio de Mullock, o bom e velho capitalista que só pensa nos lucros. Abe não é dos mais corajosos, mas acidentalmente consegue movimentar uma rebelião e salvar seu povo de RuptureFarms, as fazendas de Mullock. O início é uma continuação direta aos fatos de New ‘n’ Tasty, onde os Mudokons continuam sendo caçados e, para variar, cabe a Abe salvá-los novamente.

Para quem já está familiarizado com Oddworld, logo de cara já vai notar algumas coisinhas novas. A primeira delas é o pulo duplo, que pela primeira vez está marcando presença em um jogo da franquia e vai nos poupar muitas mortes desnecessárias. A segunda é um sistema de crafting, que consigo também trouxe mecânicas de pickpocket e loot, mas falamos disso mais para frente.

Abe virou uma lenda entre os Mudokons.

Soulstorm segue nos moldes de seus antecessores, então temos aqui mais um jogo de plataforma e puzzles com uma pitadinha de stealth. O objetivo principal sempre será fazer bom uso de todas as habilidades de Abe para abrir portas, liberar caminhos e superar desafios, além de comandar um pequeno exército de Mudokons, que respondem aos nossos comandos.

Já com respeito às novidades, agora temos a possibilidade de assumir um gameplay mais agressivo, ao invés de ficar somente no stealth. A furtividade ainda é necessária e se faz presente o jogo inteiro, mas Abe pode arremessar garrafas de água e álcool e isso pode ser usado a nosso favor, seja em puzzles ou contra inimigos. O álcool, por exemplo, pode incendiar áreas específicas e transformar inimigos em cinzas, então é sempre bom ficar bem atento aos arredores para tirar vantagem de tudo.

De volta para o passado

Logo no começo do jogo somos agraciados com um belíssimo CG e pensamos “Uau, os gráficos deste jogo estão incríveis!”. Já a qualidade do visual nos gameplays não está ruim, mas definitivamente está bem inferior à das cenas e isso é um tanto desanimador, principalmente levando em consideração o potencial do PlayStation 5.

No geral, Oddworld: Soulstorm é um jogo difícil, mas não por ser complexo demais e sim por causa de sua fidelidade com os padrões de jogos mais antigos, o que acabou por tornar este um título bem datado. O melhor exemplo que posso encontrar disso são nos momentos em stealth, onde o menor dos barulhos – que por sinal, você é obrigado a fazer, como dar um pulo ou desempenhar uma ação – alerta os inimigos e, mesmo não estando no campo de visão deles, eles conseguem te ver! As primeiras fases são um show de frustração, pois mesmo fazendo tudo certo você ainda pode acabar morrendo muitas vezes.

O stealth do jogo é um show de frustração.

Outra coisa que parece não ter mudado nada desde o primeiro é a movimentação de Abe. Alguém precisa passar um óleo nas articulações desse bicho, pois em nenhum momento ela é suave ou transmite o mínimo de realidade. Isso fica ainda mais evidente em trechos que precisamos nos balançar em madeiras, já que o bicho mal se mexe quando está pendurado – é muito feio!

Já se tratando das mecânicas novas, foi um adendo interessante, mas quanto mais eu jogava, mais eu achava desnecessário. Ao coletar itens roubando guardas ou looteando caixas, você pode usá-los para construir coisas que serão úteis em sua jornada. Algumas são obrigatórias, mas a maioria é supérflua, então esse recurso acaba ficando lá só de enfeite. Eu já tinha passado da metade do jogo e ainda dava para contar nos dedos quantas vezes usei esse sistema de crafting. Parece que ele simplesmente foi jogado lá de qualquer jeito, sem uma adaptação adequada para torná-lo algo realmente essencial.

Mullock está digno de um vilão de Ratchet & Clank neste jogo.

A boa notícia é que, a essa altura, já foi lançado um patch que corrige boa parte dos bugs de lançamento, porque a situação estava bem crítica. Agora já não existe mais nenhum bug fatal, mas ainda é comum que a IA dos inimigos simplesmente desligue e acabe te ferrando no processo, já que eles ficam parados em um lugar só e te impedem de prosseguir. Voltar para o checkpoint anterior costuma resolver esses problemas, mas que é chato, é.

No geral, Oddworld: Soulstorm não é um jogo ruim e ainda carrega todo o charme e legado da franquia, mas também é um título que parou no tempo. Ele poderia ser muito mais, um verdadeiro marco para as desventuras de Abe, mas é só outro Oddworld que ficou na mesmice. Porém, o fato dele estar gratuito na PlayStation Plus é uma boa vantagem, então se você conseguiu resgatar, não custa nada dar uma chance.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024