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Okami é um daqueles jogos que você lembra toda vez que comentam dos melhores jogos do passado e não é para menos. Sempre aclamado pela sua direção de arte e história, o trabalho do falecido Clover Studio, estúdio que fechou logo após o lançamento original para PS2, já ganhou versões remasterizadas para Wii e PS3. Mais de uma década depois, finalmente a nova geração de gamers terá a oportunidade de jogar essa obra de arte e um dos meus jogos preferidos por trabalhar brilhantemente a mitologia japonesa como tema.

Retratos do Mundo Flutuante

Para a minha alegria, falar desse jogo é sempre muito agradável por, além de tudo, ter desenvolvido como tese de mestrado um assunto relacionado à Ukiyo-e (traduzido ao pé da letra como Retratos do Mundo Flutuante), simploriamente resumida e facilmente explicada como pintura tradicional japonesa. E qual o motivo disso tudo? Simples! Okami HD explode a qualidade visual e elementos desse estilo artístico nas telas 4K que temos hoje em dia, deixando tudo mais bonito e agradável durante as mais de 30 horas pelo universo mítico japonês.

Imagem do jogo Okami HD
Nada como uma paisagem belíssima para conquistar qualquer um.

O jogo se passa no Antigo Japão e, após um vislumbre do passado, descobrimos como Shiranui, o lobo branco que controlamos, e o guerreiro Nagi aprisionaram Orochi, uma serpente de oito cabeças, para salvar Nami, o amor de Nagi e até então o sacrifício desejado pelo demônio que ameaçaca destruir o Vilarejo de Kamiki. 100 anos depois, Susanoo, um descendente do guerreiro Nagi, quebra o selo e liberta a maligna serpente, destruindo a vida existente na Terra.

Com a ajuda de Sakuya, um espírito das árvores e guardiã do Vilarejo de Kamiki, Amaterasu, a deusa do Sol, é invocada para trazer de volta à vida Shiranui para que a maldição que cai sobre a Terra seja desfeita. Amaterasu se torna Okami e assume a forma de um lobo branco para restaurar a beleza de Kamiki e da Terra, ao lado do minúsculo Issun, um artista ambulante.

Imagem do jogo Okami HD
Nada que uma pincelada não resolva.

O diretor Hideki Kamiya abusou do cel-shading para demonstrar visualmente o estilo do Ukiyo-e quando utilizamos o poder do “Celestial Brush”. Ligado à sua missão de colorir a Terra e banir a maldição de Orochi, a arte se funde aos puzzles para justificar o estilo artístico e ser um dos pontos positivos dentro da construção narrativa. Nesse jogo você não sai simplesmente pintando por aí, mas passa por situações que se assemelham aos jogos de plataforma e ação, pontuados pelo uso do dos analógicos (ou o PlayStation Move, caso você tenha um) a fim de completar caminhos, constelações, paisagens ou até mesmo personagens, para seguir na aventura. Talvez muitos não se apeguem à proposta, fazendo que em alguns momentos o jogo fique um pouco enfadonho e até mesmo quebrando a cadência dos acontecimentos. No entanto, as 13 evoluções disponívels para o pincel celestial no decorrer do jogo deixam tudo mais dinâmico e interessante, além de acrescentar elementos de RPG. Afinal, seria muito simples não ter limitadores para exigir a progressão do personagem durante o jogo, não é mesmo? Ou você achou que teria tinta infinita ou que com o mesmo pincel desde o começo seria possível chegar até o fim?

Uma obra de arte quase perfeita

As mecânicas continuam interessantes, seja pelo gameplay livre para você explorar e combates bem resolvidos, utilizando sua arma celestial, ou até mesmo pelos detalhes pontuados pelo resgate cultural: energia solar como a barra de vida do lobo branco, bolsa astral como um recurso para reviver o personagem, carteira para o seu dinheiro e, claro, os potes de tintas disponíveis. Tudo muito simples de aprender e utilizar, com combos no ataque, movimentação coesa e hit box muito bem definidos, reservando aos chefes os maiores desafios, se comparados aos inimigos comuns. Não é à toa que Okami sempre foi comparado com The Legend of Zelda, até mesmo por Kamiya ser um grande fã da franquia, trazendo para o seu próprio jogo um look and feel muito próximo da aventura por Hyrule. Isso não é o suficiente para limitar o potencial do jogo que abusa da criatividade para os cenários, com fases bem construídas e muito bem ilustradas, mas sem nenhum grande feito no level design. Você não terá algo tão bem construído como os estágios de Mario, mas também não será nada simples como os jogos de plataforma da geração retrasada apresentavam: lineares e sem apostar na exploração ou curiosidade do jogador.

Imagem do jogo Okami HD
Um pouco de mitologia e história sobre o Japão em um único lugar.

Infelizmente a Capcom junto com a salada de estúdios envolvidas com Okami apostaram apenas num remaster para a nova geração e não olharam em possibilidades que os consoles atuais oferecem além dos gráficos. A versão de PlayStation 4 que eu utilizei para essa análise teve o touchpad do controle simplesmente deixado de lado, já que o Celestial Brush poderia muito bem ser controlado pelo toque dos dedos, já que isso vem nativo no teclado, não é mesmo?

Outro ponto negativo é a câmera que sofrem com diversos problemas, desde os primeiros plataformas poligonais. Não é fácil você precisar de um pouco mais de precisão e sua visão parar atrás de alguma árvore, ou você enfrentar algum chefe e a sua câmera, ao invés de subir para dar amplitude como vista aérea, simplesmente fica presa nas pedras que formam a arena de combate. Pode ser preciosismo meu? Sim, mas um simples remaster tão próximo de outras duas versões talvez não chame atenção dos jogadores mais novos, por notarem um mesmo título saindo constantemente por três gerações seguidas.

Imagem do jogo Okami HD
Até a HUD se mantém como destaque e compondo a obra de arte que é Okami HD

Atemporal

Ao final do jogo, com uma sequência muito bonita, a sensação que fica é de que estamos presencioando um jogo atemporal. Talvez também aquela dúvida se realmente precisávamos de um remaster ou se bastasse a vontade de ligar os nossos consoles antigos e colocar Okami para rodar. Por mais que o visual e a trilha sonora sempre foram o grande destaque, esse que também é um dos últimos lançamentos de um ano repleto de excelentes títulos peca por não inovar em nada e ser apenas como um simples remaster. Poderiam até mesmo incluir Okamiden, a continuação lançada exclusivamente para Nintendo DS, como bônus, mas como sempre a Capcom insiste em fazer trabalhos simples e contidos ao atualizar seus jogos antigos.

O mais irônico disso tudo é a Nintendo possuir um jogo exclusivo da “série Okami” e não receber o remaster no Nintendo Switch! Vai entender essa Capcom. Enquanto isso a gente segue pela mitologia oriental, salvando a Terra com tintas e cores.

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