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Desde o início dos tempos, todos os temores do homem se resumem à morte. O medo de morrer e de perder seus entes queridos é algo instintivo e natural, sendo a força primordial que por eras auxiliou a humanidade a lutar pela sua própria vida. Enquanto para alguns a morte é apenas uma passagem, para outros é o fim de um legado. No final, a única certeza que temos é que ela atinge todos indiscriminadamente.

ONINAKI aborda o delicado assunto da morte como tema central. Com um estilo infantilizado bem característico de animes e alguns JRPG, ele trata de assuntos delicados relacionados ao luto, ao impacto da perda e o quão longe isso pode levar uma pessoa – mas tudo envolto a sua própria mitologia.

Admirável mundo novo

Em ONINAKI, a base da vida é a morte. As pessoas não temem a morte, pois isso não marcará o seu fim, apenas um novo começo. Quem morre sempre reencarna, porém nunca se sabe como voltará na próxima vida e se haverá um reencontro com as pessoas que amou durante seu tempo no plano terreno.

Só há uma coisa que pode atrapalhar esse ciclo: o luto. Quando uma única pessoa sofre pela morte de alguém, sua alma vagante fica presa entre o mundo dos vivos e dos mortos e não consegue realizar a transição. O único jeito de libertar essa alma seria aceitando sua morte de todo coração ou abrindo mão de sua vida para que ambos possam partir em paz.

Kagachi pode transitar entre o plano dos vivos e dos mortos.

Para garantir que todas as almas encontrem o seu caminho, existem os Watchers, pessoas especiais que podem transitar entre os dois planos e conversar com almas vagantes para descobrir o que ainda as prende no mundo. Nossa história gira em torno de Kagachi, um homem que sofreu com a morte de seus pais muito cedo e hoje é considerado um Watcher perfeito por não criar vínculos emocionais com nada nem ninguém.

Tudo isso é apenas a contextualização do universo de ONINAKI, mas uma coisa que o jogo peca é em definir logo de cara qual é o nosso objetivo. A história se arrasta por um bom tempo e jogamos várias horas sem saber qual a nossa finalidade ali e pelo que estamos lutando. A impressão que dá é que estamos apenas jogando a rotina de Kagachi como Watcher e que nada de extraordinário irá acontecer além do nosso trabalho de libertar almas vagantes.

Pouco a pouco novos personagens chave são apresentados, mas falando bem por cima, todo o enredo gira em torno de uma entidade misteriosa conhecida como Night Devil, que vez ou outra aparece para levar consigo o maior número de vidas que conseguir. Resta a Kagachi e seus aliados investigarem a origem desse ser e encontrar um meio de derrotá-lo.

You can’t pet the dog in ONINAKI.

O jogo tem pouco mais de 20 horas de duração, o que é bem abaixo do padrão RPG, mas é um bom comprimento considerando o estilo de gameplay, que tende a ficar repetitivo bem rápido, e a história pouco interessante das primeiras horas de jogatina. Alguns podem desistir de continuar logo no início, mas no final pode valer a pena persistir.

Flertando com a morte

Como Watcher, Kagachi pode transitar livremente entre o plano dos vivos e o plano dos mortos. Independente se estamos em uma cidade ou em algum mapa de exploração, existem atividades para realizarmos nas duas perspectivas.

Os inimigos estão presentes em qualquer um dos planos, então você pode enfrentar todos em um e depois alternar para matá-los novamente (é um bom jeito de ganhar muitos levels em pouco tempo). Baús com itens só podem ser encontrados no plano dos mortos, assim como almas vagantes que podem nos dar algumas sidequests.

ONINAKI é um RPG de ação, então quem não gosta tanto dos turnos da velha guarda pode curtir mais este jogo. Com visão isométrica, tudo se resume a chacinar todos os monstros que encontrar e caminhar até o objetivo. O combate é bom e razoavelmente dinâmico graças aos Daemons, entidades que também vivem entre os dois mundos, porém são desprovidas de qualquer sentimento e não lembram nada do seu passado em vida.

Cada Daemon possui um estilo de combate e habilidades únicas.

Os Daemons formam um elo com os Watchers e Kagachi encontrará vários ao longo do jogo. Cada um altera drasticamente o seu estilo de combate com armas, movimentos e habilidades novas. Trocar de Daemon significa usar uma arma nova e se adaptar a um estilo de luta totalmente diferente.

Quanto mais você usa um Daemon, mais habilidades novas poderá desbloquear em sua árvore de skills e um laço maior entre ele e Kagachi vai se criando, o que garante diversos benefícios. Cada inimigo derrotado dá mais elo com seu Daemon, liberando um limit break que precisa ser usado o quanto antes, pois quanto mais elo acumulado, maiores serão os efeitos colaterais em seu personagem. É uma mecânica interessante que incentiva o jogador a variar mais em combate.

No geral, mesmo com a abundância de estilos de luta e habilidades a se explorar, tudo se resume a metralhar um único botão e matar incontáveis inimigos. Por isso o jogo pode se tornar enjoativo com o tempo, ainda mais pelo ritmo dos combates ser bem lento e pouco desafiador. As lutas contra os chefes são consideravelmente mais difíceis, mas qualquer um que já esteja bem familiarizado com suas habilidades consegue vencê-los sem grandes problemas.

Escolher o Daemon certo para cada situação é fundamental no combate.

O visual do jogo é bem fofinho e cartunesco ao estilo de animes e mangás, com personagens de corpo pequeno e cabeça grande. Apesar da temática ser pesada, isso não tira o brilho do game e o deixa mais característico, lembrando até os remakes dos Final Fantasy III e IV. A desvantagem é que esse estilo tira totalmente a emoção e seriedade de momentos mais dramáticos, inclusive limita consideravelmente a movimentação dos personagens, deixando tudo robótico demais.

Os gráficos não são nada exuberantes, mas o contraste de cores entre o plano dos vivos e dos mortos destaca bem seu charme, assim como a trilha sonora notável que faz jus a um RPG com o selo da Square Enix.

ONINAKI é um bom jogo, no geral. Sua temática é interessante, mesmo que o enredo pareça confuso e sem rumo nas primeiras horas de jogatina. O gameplay é simples e divertido, mas pode se tornar fácil demais e enjoativo em pouco tempo. Felizmente, a campanha não é tão longa, então é possível insistir até o final tranquilamente. Não é um dos JRPG mais marcantes que você irá jogar, mas trará algumas reflexões e questionamentos interessantes sobre como lidar com a morte e valorizar mais a vida.

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