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Outward significa para fora. E ir para fora é um excelente termo para resumir este game da Nine Dots Studios, com distribuição da Deep Silver e produção de apenas vinte pessoas. Trazendo consigo a responsa de se auto-intitular The Adventurer Life Sim – algo como simulador da vida aventureira, foram necessárias poucas horas de jogo para observar um trabalho legal e atento ao que pode ser ofertado.

Tive em mãos um RPG honesto e divertido, onde suas falhas não atrapalham tanto a diversão. A ideia em si é semelhante ao que ocorre em nossas vidas: pegue sua mochila, suas coisas mais importantes e parta a explorar o mundo.

Responsabilidades de gente grande

O início entrega um pouco do que enfrentaremos ao longo da jogatina. Primeiramente, cria-se o personagem com opções básicas de cor da pele, cabelo, sexo e rosto. Posteriormente, durante a tela de loading, é contada a história.

Imagem do jogo Outward
Esteja pronto para um vasto e curioso universo.

Após este conto, acorda-se semi-nu em uma praia e a partir dos primeiros minutos do gameplay, somos orientados por outro sobrevivente a dormir. Ao acordar, estamos em nosso quarto na vila de Cierzo. Ao sair, parte dos vizinhos estão cobrando a morte de muitos na embarcação e o aluguel. A intenção dos desenvolvedores é jogá-lo no universo a fim de descobrir tudo pelas próprias mãos. Nunca serão encontrados tutoriais. Na dor ou no amor, descobre-se como lutar, pescar, caçar, craftar, duelar, cozinhar etc. Se vire!

Funciona bem. O próprio mapa é entregue sem ter o ícone do player por lá, sendo necessário estudá-lo para descobrir onde estamos. Tenta-se surpreender sem grandes novidades. Mesmo os iniciantes, que jogaram pouco RPG, não terão dificuldades.

Sendo um simulador, obviamente é necessário comer, beber e dormir. Neste quesito, um peculiar problema. Apesar de haver demonstrativos das suas necessidades, eles pouco alteram a maneira de seguir no jogo. Caso não beba, por exemplo, pouquíssimo prejuízo ocorrerá. O mesmo ocorre para comer. A única diferença é que dependendo do alimento, mais vida será adquirida. Fora isto, nem dê atenção. No caso de dormir há uma ação mais completa, pois também age como passar do tempo.

Imagem do jogo Outward
Estudar, verificar e entender onde vai dormir é importante.

Além disto, instalar um acampamento para descanso é um ponto alto em Outward. Escolher bem seu cantinho e reservar algumas horas da soneca para vigiar é importante. Há momentos onde ser atacado ou furtado acaba sendo normal.

Outra característica relevante é o save automático. Além de não avisar o momento, não é possível criar vários saves em um jogo só e muito menos escolher o momento para tal. É aquilo e ponto final. Por isto, pense bem cada passo já que um passo dado em falso pode atrapalhar todo seu esquema.

Morri! Calma, não é bem assim

A primeira vez que meu personagem morreu, acordei na Vila dos Bandidos e penei um pouco para escapar de lá. Na segunda vez, acordei na minha vila machucado e precisando descansar. A terceira vez me colocou numa cadeia. E será sempre assim. Não importa como, seja de forma brutal ou idiota, morte não faz parte do vocabulário.

Não foi fácil fugir dos bandidos. Pelo menos a vista compensou.

Quando se é derrotado, a história do processo pós apagão é contada mais uma vez no loading e limita-se a poucas situações. Poderia haver mais? Sim, poderia.

Ao morrer, sua mochila estará te aguardando no local onde foi consumada sua derrota. É pegar e correr para vingança, sendo que alguns itens podem não estar mais por lá.

Outward não será o jogo que te apresentará os melhores gráficos, os melhores polimentos e as melhores texturas. Pode-se dizer que, em alguns momentos, graficamente lembra muito os últimos jogos da era PlayStation 3. Há demoras de carregamento, fora problemas com sombras e luzes que ocorrem vez ou outra.

Caso se importante com isto, este não é um jogo para você. Caso contrário, embarque e seja entregue a excelentes paisagens, excelentes civilizações e muita vastidão de cenários. É neve, deserto, floresta, caverna, chuva, Sol, neblina… Trabalho completo! O jogo faz muito com pouco – lembrando que se trata de uma dev pequena onde apenas 20 pessoas criaram tudo isto. Os efeitos das magias também estão de parabéns!

Imagem do jogo Outward
Inúmeras e belas vistas serão contempladas por todo jogo.

Musicalmente é excelente, não há trilhas chatas e mal pensadas. Envolve-se com músicas medievais da melhor qualidade. Lembra muito o primeiro Fable.

Jogabilidade datada e pouco inovadora

As ações se resumem ao rolar, correr, andar e atacar, todas elas respondendo de maneira satisfatória, porém datadas. As batalhas lembram demais Dark Souls, sendo necessário estudar antes de atacar ou defender. Há também como marcar seu adversário, o que então lembra Zelda. É um conteúdo repetitivo. Achei a IA decente e não senti grande peso e diferença nas armas ou armaduras. Poderiam ter dado mais atenção.

O menu, em todos os aspectos, é intuitivo e rápido, não havendo qualquer problema para quem está começando. Combinar itens, o que na minha opinião é uma arte, traz zero problema. Gostei do atalho para eles, inclusive. São duas janelas (a partir do L2 e R2), sendo que é possível selecionar quatro. Segura-se o botão e seleciona.

Imagem do jogo Outward
Saber a hora de avançar e correr faz parte do processo.

Por fim, não há subidas de level, e sim aprendizados. Compra-se evoluções em batalhas, na cozinha e noutros aspectos, como também aprende-se caso encontre uma alma caridosa. Tal característica pode frustar quem curte upar um char. Mesmo sendo um ponto costumeiramente utilizado em outros RPGs, soa estranho para os experientes e detentores das maneiras clássicas.

Desenrolando-se de maneira lenta, não temos um trabalho marcante e nem porco. Optou-se por não arriscar, o que traz algo comum.

As primeiras horas nos colocam para tomar uma decisão. A resposta, obviamente, trará consequências e toda a história girará em torno disto. Não vá aguardando diálogos intensos e viradas de jogo a lá The Witcher. A história é bem básica, não reservando grandes surpresas.

Imagem do jogo Outward
Há muita coisa para se ver, mas pouco surpreende e prende.

Viagem ok e repleta de aventuras

De fato, a grande missão em Outward é explorar, explorar e explorar, o que é divertidíssimo. Gerir recursos e se preparar da melhor maneira para a aventura é o principal por aqui. E isto não é um ponto negativo.

Durante os trajetos ao redor do universo, muita beleza será encontrada, assim como cavernas, praias e lugares para conhecer. O que não será visto com frequência são os NPCs fora das vilas. Por vezes, senti o jogo sendo um walking simulator. Sejam as criaturas ou os humanos, não os encontraremos com frequência.

Este será seu melhor amigo ao longo de Outward.

O que veremos sempre e chega sim a incomodar são as telas de loading. Trocou de cenário? Loading. Entrou numa caverna? Loading. Foi derrotado? Loading. Super entendo serem necessários. Contudo, de uns tempos para cá, as telas de carregamento mudaram e hoje o incomum é encontrá-las toda hora. Que carregasse por longos minutos no começo e nunca mais, como muitos fazem.

Gostei do jogo. Noutro review, afirmei que video game, antes de tudo, é trazer diversão para o player, desligá-lo do mundo real. Aqui é possível, graças ao trabalho bem feito da dev. Nunca vivemos na Era Medieval, mas há jogos que nos levam até lá.

Há problemas, claro. Longe de serem insatisfatórios, poderiam sim ter sido mais trabalhados. Caso o fossem, trataria o jogo como aquele que chegou para marcar território. Ainda não é o caso.  Entretanto, entendendo as dificuldades e observando o esforço dos caras, coloco Outward como um jogo que precisa passar pela mão dos fãs (ou não) de RPG. Não tenha medo de marcar esta viagem.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024