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Eu nunca imaginei que isso aconteceria, mas nós estamos em 2010 e eu estou escrevendo sobre Pac-Man. Mesmo reconhecendo a importância que o “come-come” tem para com os videogames, jamais acreditei que pensaria em um jogo do ícone com sincero interesse e não apenas com sentimentos de leve nostalgia. No entanto, eis que a Namco Bandai foi capaz de criar Pac-Man Championship Edition DX, algo que, enquanto essencialmente continua sendo um Pac-Man, recebeu retoques e releituras que o deixam moderno, perfeitamente condizente ao que espera-se do meio nos dias de hoje.

O cerne do que deve ser feito é aquilo já arraigado ao instinto de todo ser humano; controlando a bocarra amarela, deve-se comer os pontos espalhados pelos labirintos, aumentando assim sua pontuação. Em número mais limitado existem as power pellets, que quando ingeridas conferem a habilidade de poder-se abocanhar os fantasmas que andam pelo cenário.

Apesar dos moldes das regras básicas permanecerem os mesmos, é através da maneira pela qual elas são aplicadas que surgem as diferenças. Primeiramente, os pontos (os que devem ser comidos, não os que compõem sua pontuação) não estão já dispostos em todo o mapa. Inicialmente, eles aparecem em quantidade bem pequena, sendo bem simples consegui-los todos. Uma vez que a maioria é pega, uma fruta surge em algum ponto e, quando esta é ingerida, a configuração de metade do labirinto é transformada, gerando novos pontos e power pellets.

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A outra grande coisa que muda é a disposição dos fantasmas. Porque, além dos velhos conhecidos Blinky, Pinky, Inky e Clyde, dezenas de outras assombrações encontram-se espalhados pelos mapas, mas, ao invés de seguirem suas próprias rotas de acordo com seus padrões, esses estão dormindo. Apenas quando passamos ao seu lado que eles despertam e, após um momento, começam a nos perseguir. A perseguição é feita copiando exatamente cada movimento feito por Pac-Man, sem nunca tentarem ser mais espertos do que ele, fechando sua rota ou coisa do tipo. Eles estão sempre em uma velocidade fixa, logo atrás, como um grande rabo atrás da boca amarela. Em um primeiro momento seus perseguidores podem ser poucos, mas em sua busca por mais pontos é inevitável passar ao lado de algum fantasma que dorme. Feito isso, não demorará para que ele se junte à fila, que o segue implacavelmente. Em poucos minutos você já verá o delicioso caos que isso provoca; além dos quatro fantasmas rodando o labirinto à sua própria maneira, dezenas de outros estão logo atrás em seu encalço. E aqui, dezenas não é força de expressão; mesmo com a minha suprema falta de habilidade em Pac-Man Championship Edition DX, não era incomum que oitenta espectros estivessem em minha cola, entopindo diversos dos corredores que abrigam os tão cobiçados pontos, tornando as rotas de fuga cada vez mais escarças.

Mas eis o mais interessante – ter essa fila seguindo-o é algo positivo, pois proporciona um dos melhores atrativos de Championship Edition DX. Isso porque, mesmo se tratando de muitos, a fraqueza dos fantasmas continua sendo a mesma. Coma uma power pellet, e eles se tornarão vulneráveis às suas bocanhadas. Se eliminar quatro deles nas versões originais de Pac-Man já era imensamente prazeroso, imagine isso multiplicado à enésima potência. Todo um corredor, abarrotado com dezenas (e possivelmente centenas) desses inimigos, todos levados suscetivamente e implacavelmente para dentro do bucho do “come-come”. Eu admito não ser uma pessoa de prazeres comuns, mas se você não consegue em absoluto ver a beleza desta cena, não seria má ideia rever seus conceitos.

Quanto mais pontos você faz em sucessão, mais rápida se torna a ação. A velocidade de todos os elementos na tela cresce gradualmente, chegando a níveis insanos. Em seu auge, é às vezes difícil ter certeza do local em que Pac-Man está, ou ser ágil o suficiente para virar em corredores específicos. Ainda assim, esses são os momentos mais divertidos de todos, em que fica claro como a situação está fora de seu controle, mas ainda assim é pedido que nós tentemos puxar suas rédeas. Isso não quer dizer que o jogo simplesmente lhe dá um tapa na cara e espera que você tenha um manejo perfeito; à sua disposição estão bombas, que automaticamente levam todos os fantasmas de volta à caixa no centro do mapa. A única consequência de se utilizar do artifício é que a velocidade da ação cai, o que, consequentemente, diminui suas chances de obter uma maior pontuação. Além disso, quando estamos perto de sermos atingidos por um fantasma tudo fica em câmera lenta – ou em bullet-time se você preferir – dando tempo de sobra para que seus olhos parem de sapatear dentro das órbitas, você respire e consiga escapar do perigo.

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Para complementar a jogabilidade, todo o aspecto estético de Championship Edition DX é bastante atraente. A filosofia do amor ao neon aparece em vigor, ajudando a dar ao clima um quê de alucinógeno, que complementa muito bem o ritmo frenético da ação. Não apenas isso, mas o estilo visual de diversos outros Pac-Men podem ser usados à vontade em cada um dos vários labirintos, que por sua vez têm diferenças grandes entre si, mudando substancialmente o estilo de jogo em cada um deles.

O desejo de alcançar pontuações mais altas é alimentado por um sistema de leaderboards que facilmente o compara não apenas a jogadores de todo o mundo mas também aos amigos em sua lista. Assim, por mais que eu saiba que nunca terei chance de quebrar o recorde dos mestres que decoraram o padrão de todas as telas, ver que um colega está apenas algumas centenas de pontos na minha frente é suficiente para incitar-me a tentar melhorar, pelo menos mais um vez – e assim vai-se embora uma tarde inteira. É só estranho que a lista dedicada a amigos não contenha a nossa própria pontuação. É necessário olhar uma tela separada, ver os próprios números, para então saber em posição se está em relação aos conhecidos.

A única coisa que deve impedi-lo de aproveitar Pac-Man Championship Edition DX é caso você não seja o tipo de jogador que se interessa por ganhar mais pontos, subir nos ranques ou comer dezenas de fantasmas em seguida. Pois, despido disso, a jogabilidade de Championship Edition DX não demorará a ficar repetitiva, sem dar incentivos para que você retorne. Agora, se o desejo de superar seus amigos – e desconhecidos também, por que não? – é algo que o incita, da mesma maneira como aconteceu em Geometry Wars 2 há um tempo atrás, então saiba que, estranhamente, um jogo que estrela Pac-Man será um dos títulos que mais irá lhe agradar no ano de 2010.

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