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Vamos fazer um exercício? Concentre-se e deixe bem claro em sua mente paisagens um tanto quanto confusas, repletas de figuras sombrias, cadavéricas e de animais grandes como porcos, além de flores, pedaços do corpo humano como cérebros, olhos e faces. Vá um pouco mais além e tente adicionar efeitos sonoros sem ritmo onde, mesmo sem música, uma trilha sonora pode ser ouvida a partir de efeitos bizarros e picos de volume em momentos chaves.

Com tudo isto, introduzamos vozes de incentivo (ou não?) para uma garota que, minuto por minuto, ação por ação, é lembrada da necessidade de esvaziar a mente a fim de buscar todas suas memórias. Está então feito Path to Mnemosyne, puzzle game que desembarcou em abril no Nintendo Switch após passagem de uns anos no PlayStation 4, Xbox One e PC (via Steam).

Com uma arte visual única criada a partir do preto e branco, desenhada como se tivesse sido feita à mão, tive acesso a uma quase obra prima, onde simples detalhes não tornam o jogo perfeito em tudo aquilo que propõe. Path to Mnemosyne é um indie criado pela dev espanhola DevilishGames que, de fato, mexeu com meus sentimentos e me fez quebrar a cabeça inúmeras vezes.

Reconstruindo memórias

O início do jogo apresenta exatamente aquilo que está por vir ao longo de, pelo menos, duas horas de jogatina. Curto, o game é moldado na busca pelas seis memórias de uma garotinha que, ao que tudo indica, navega em seus sonhos/pesadelos mais pesados e conflitantes de sua aparente curta vida. Os primeiros diálogos virão de fora por uma voz masculina que nunca dará as caras.Sem dar qualquer spoiler, digo qual foi minha primeira impressão: que aparentemente lidava com uma pré-adolescente em coma, onde a conversa vem de alguém que a conhece e precisa direcioná-la a quase todo o momento.

Imagem do jogo Path to Mnemosyne
Eis que, a cada momento, um pouco da aterrorizante história é contada.

Trafegando sempre por um corredor onde a paisagem é das mais assustadoras possíveis, a conclusão de inúmeros quebra-cabeças é a chave na busca pelo fim desta confusão toda. Podendo apenas ir para frente, para trás, e para os lados esquerdo e direito, os ambientes pelos quais a protagonista anda estão repletos de dicas para as soluções dos puzzles.

Mais complicados de acordo com o avanço, cada um dos seis capítulos oferece um tipo específico de desafio, onde dicas de como passar estão espalhadas pelos cenários. Por isto, preste sempre muita atenção aos detalhes e tenha um bloco de notas em mãos. Há momentos onde a necessidade de anotações é prioritária, sendo meramente impossível prosseguir sem estudar.

Desconcertante e aflitivo

Do início ao fim, o mundo de Mnemosyne, para mim, tem um pé nos quadros sombrios retratados pelo artista polonês Zdzislaw Beksinski. É uma grande e conflitante bagunça que acompanha todo o ritmo, também sombrio, do game, e os dois casam muitíssimo bem.

Para quem gosta ou admira arte deste tipo, prato cheio já que excelentes imagens, sempre muito bem colocadas, são vistas por todo os cantos e te acompanham sem intervalos. O clima, acompanhado de uma trilha única, consegue transmitir aflição sem apresentar nada. É suspense em sua mais literal tradução.

Imagem do jogo Path to Mnemosyne
É este tipo de paisagem que irá acompanhar a personagem.

Sou um grande fã de Hitchcock e o admiro pela capacidade de evocar medo nas mínimas coisas, mesmo quando estas coisas nem ao menos por lá estão. Caso algum de vocês já tenha assistido a Rebecca: A Mulher Inesquecível, sabe muito bem do que estou falando. O sentimento aqui é o mesmo. Não sabia do que se tratava, nem ao menos sabia se aquilo existia, mas mesmo assim, sentia a presença a cada passo e a cada nova fase.

Medo presente e passageiro

Apesar de ser um excelente jogo, Path to Mnemosyne peca em determinadas coisas que, pelo menos para mim, atrapalham a experiência como um todo. Começo pela dificuldade. Sempre difícil e com inteligentíssimos desafios, já falei que avança em conjunto do game. Contudo, perto do final, mais precisamente nos últimos capítulos, há uma acentuada queda na dificuldade oferecida.

De um bom nível, que te confunde, é encontrado um conteúdo mais simples, que não leva a fritar os neurônios como outrora. Será que acabou a criatividade dos caras? Será que tiveram a necessidade de encerrar o game logo? Não sei. Só sei que não foi um alento, pois o ritmo é espetacular até esses tais momentos.

Imagem do jogo Path to Mnemosyne
Se o clima e as paredes tem esta pegada, imagine só o nível dos puzzles.

Outro ponto que merece um puxão de orelha válido é o final. Obviamente, não o contarei. Apenas digo ser frustrante. Longe de ser clichê, peca pela falta de profundidade e perde por ser muito, muito simples. Todo o enredo que nos acompanha tinha absolutamente tudo para encerrar um ciclo formidável construído desde o primeiro momento. Infelizmente, não é o que acontece.

Que cabeça mais confusa e divertida

Ao longo dos meus reviews aqui no site, busco fugir do meu óbvio a fim de expandir meus conhecimentos e sabedoria em gêneros que não estou acostumado e familiarizado. Quando optei por avaliá-lo, mal sabia em que barco estava embarcando. A fotografia e a música me chamaram atenção e achei que terminaria por ai. Só que não.

Recheado de puzzles incríveis, ritmo quase perfeito e duração ideal, Path to Mnemosyne possui poucos erros que, apesar de frustarem um pouco, não jogam todo o trabalho no ralo. Temos aqui um trabalho único, diferente, que arrisca e surpreende. E, convenhamos, jogos únicos e com identidade não são encontrados aos montes, ainda mais neste gênero. Vale muito a pena quebrar a cabeça na busca da solução deste impressionante trabalho da DevilishGames. Recomendadíssimo!

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