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Você está em um novo planeta, completamente diferente de tudo que conhece. A admiração pelo desconhecido é tão grande quanto os perigos que ali habitam e é necessário ficar atento a todo momento. Esse foi exatamente o primeiro sentimento que tive ao jogar Planet Alpha. Na pele de um astronauta azarado, cujo a nave sofre uma pane e muda o seu destino, somos introduzidos à um planeta deslumbrante e igualmente inóspito.

Enquanto as mecânicas do jogo vão sendo introduzidas lentamente, os perigos também se apresentam. Há plantas hostis, seres voadores, monstros gigantes e até robôs que patrulham este estranho planeta. O jogo não apresenta história mas, aparentemente, os seres orgânicos e os inorgânicos estão em guerra pelo domínio do planeta. Cabe ao jogador explorar este mundo para tentar sair vivo dele, enquanto soluciona vários puzzles e faz uso da habilidade de controlar o dia e noite.

Paralelos com Inside

Durante todo o jogo eu não conseguia parar de fazer associações com Inside, tanto pelas similaridades como pelas particularidades. Em ambos os jogos o maior risco é a fragilidade do protagonista, que está à mercê de tudo naquele lugar. Mas enquanto Inside é um mundo escuro e sem vida, Planet Alpha abusa das cores fortes e vibrantes. O planeta é ameaçador mas não desolador, transpira vida com fauna e flora variada. Você passa por ambientes grandiosos, saindo de uma densa floresta para chegar à uma área vulcânica e completamente diferente.

As narrativas são similares, com muitos segredos e uma certa dúvida do que é verdade no ar. A princípio o protagonista está ali sem um propósito, mas aos poucos vai interagindo com os acontecimentos como se estivesse destinado a estar ali. A trilha sonora é fundamentalmente complementar em ambos os jogos, criando o clima de cada um dos lugares, mas sem atingir aquele clima mórbido de Inside. A diferença na trilha se dá pelo estilo sci-fi espacial, com sintetizadores ao máximo.

Imagem do jogo PLANET ALPHA
O planeta é coberto por paisagens exuberantes.

Em termos de controle, a jogabilidade é fluida e com a resposta da animação impecável. Uma certa tridimensionalidade deixa o jogo mais interessante, com os desafios transcendendo ao plano do personagem. É necessário ficar atento ao que acontece tanto no fundo quanto na frente da tela, pois essas camadas complementares ao caminho linear do personagem transformam a jogabilidade – que seria limitada de outra forma – em algo recheado de surpresas.

Tudo se resolve no ritmo

O fator mais importante da jogabilidade de Planet Alpha é o ritmo e é primorosa a forma como se desenvolve. Existem momentos que a calma e a paciência são recompensadas, em outros a ousadia e a velocidade. A variação entre um ritmo alucinante e momentos de calmaria é cuidadosa, o que faz com que o jogo não seja nada repetitivo. Após um momento de alta tensão, há sempre um tempinho para respirar.

Essas variações não são gratuitas e existe um sentido de construção desses momentos em que os cenários, os inimigos e até os próprios puzzles influenciam em como o ritmo é construído. Pela mudança no ambiente e a música se antecipa como vai ser dali pra frente e essa completude é ótima para construir o sentido do jogo. As cenas de tensão acontecem majoritariamente em ambientes quentes, com muita coisa acontecendo. Já os puzzles mais difíceis, que requerem mais tempo e reflexão, costumam aparecer nas partes do cenário que remetem ao frio.

Imagem do jogo PLANET ALPHA
Os inimigos são variados entre robôs e seres orgânicos.

Um dos maiores méritos do jogo é tentar se renovar a todo momento, introduzindo coisas inéditas a sempre que possível. Quase na metade do jogo uma nova mecânica altera completamente a forma de jogar, forçando o jogador a se readaptar rapidamente, mas sem deixar pra trás o que foi superado até ali.

Falta coragem

Ainda utilizando Inside como comparação, e pelas similaridades é difícil não comparar, senti falta de mais coragem ao construir os puzzles. Nenhum é difícil o suficiente e nunca exige mais do que uma ou duas tentativas. Morri mais vezes pulando em lugares indevidos do que sendo punido pelos quebra-cabeças do jogo. A maioria deles se resolve em apenas uma tela e quase nunca é necessário a exploração ou pensar fora da caixa.

Infelizmente, a mecânica principal não é utilizada em seu potencial máximo. Com a mudança no cenário seria possível fazer coisas muito mais interessantes do que efetivamente são feitas, normalmente o crescimento de alguma coisa ou um objeto aparecer ou desaparecer. A mudança do dia acaba sendo um recurso desperdiçado, com sua introdução tardia e a falta de diversidade na utilização.

Imagem do jogo PLANET ALPHA
A arte é impecável, mas os puzzles são limitados.

Também falta carisma para o protagonista, que em momento algum gera empatia. É importante temer pelo destino do personagem, principalmente quando ele assume papel fundamental no desenvolvimento daquela narrativa. Mesmo sem falar ou sem ter uma expressividade mais forte, é fácil sentir empatia e medo por personagens de jogos como Limbo e Journey. Em Planet Alpha não há, em momento algum, essa aproximação com o personagem. Tudo é mecânico e impassível.

Para quem busca experiências similares a Inside e a Limbo, Planet Alpha pode ser uma boa opção. É um jogo sólido de plataforma e puzzle que faz bem o que se propõe. Poderia ser muito mais do que isso, arriscando com ideias inovadoras, mas preferiu se basear em mecânicas consolidadas e igualmente manjadas. Não é uma experiência tão recompensadora como se espera, mas proporciona umas boas horas de diversão.

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