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Com o advento da internet, o mundo musical ganhou uma excelente forma de divulgar seus diversos estilos. Alguns desses estilos até surgiram graças à internet. Através de experimentações, misturas e até mesmo a busca por memes foram gerados os mais diversos estilos musicais. Vaporwave é um destes estilos, que serviu de inspiração para o jogo PUSS!

Enaltecendo o consumismo dos anos 80 ao mesmo tempo que o repudia, abraçando a nostalgia de antes do início do segundo milênio, sem contar com uma uma forte estética visual carregada de cores chocantes e muito neon, o vaporwave se mostrou um movimento muito maior do que se esperava.

Ao tocar o cursor, os blocos disparam o som de uma TV antiga sendo sintonizada.

A E S T H E T I C S

Minha primeira reação ao jogar PUSS! foi a de pensar que o jogo era uma completa perda de tempo, mas então bateu aquela sensação de melancolia de quando ouvi pela primeira vez o remix de “It’s Your Move” de Diana Ross, feito por Vektroid, mais conhecida como MACINTOSH PLUS.

Mas o que é Vaporwave, afinal? É um estilo musical nascido da internet que tem uma fascinação nostálgica e que busca influência em grandes marcos da época, como sons de jogos, animes, lounges, jazz e músicas de elevador como samples, trazendo uma crítica satírica ao consumismo capitalista, cultura popular e o new age. Ou seja, imagine que você está em um lixão ouvindo essa música em um toca fitas antigo ao mesmo tempo que está assistindo anime em VHS, e esse lixão está em um Japão pós-apocalíptico… no céu.

Sinta o vaporwave… Cheire o vaporwave… Seja o vaporwave.

Parece absurdo, mas é esse absurdo que torna a obra interessante e permite que PUSS! atinja o seu máximo como jogo. Algo que está sempre presente nas obras de vaporwave é a estética visual, e PUSS! acerta em cheio neste quesito. As cores vibrantes mas ainda frias, a constante mudança e volatilidade dos estágios que estão sempre em movimento representam perfeitamente o ponto mais importante do gênero e criam uma experiência única.

Durante a aventura controlamos um gato que entrou dentro de uma TV após ver um pedido de ajuda na tela. Depois de entrar nesse mundo é nosso papel guiar o felino. Nessa busca descobrimos que quem pediu ajuda são os guardiões do Vaporwave e temos que os libertar para podermos derrotar os gatos que estão tentando subverter o gênero para algo sombrio e aterrorizante.

Realmente parece algo sem noção guiar um gato por labirintos voláteis para libertar golfinhos, fadas e outros seres, mas aí é que está a genialidade de PUSS! Utilizando esses elementos visuais o jogo consegue se manter perfeitamente dentro do tema proposto, ou seja, abraçar algo e subverter ele completamente, mostrando que nem sempre é necessário usar as mesmas receitas, inimigos, heróis e ajudantes que estamos acostumados a ver. Até o golfinho do famoso meme do ícone de computador está presente.

Nada mais aterrorizante do que um gato líder de seita que fala igual ao Microsoft SAM.

O gameplay também segue a mesma maneira de pensar. Claro, o pessoal da teamCOIL poderia ter feito um jogo de plataforma, um shooter, um point and click, mas isso são games que estão sempre saindo. Era necessário fazer algo diferente, algo que fosse um jogo, mas ao mesmo tempo não parecesse um jogo moderno e sim antigo.

Controlar o felino é uma tarefa realmente difícil: você precisará atravessar as plataformas que surgem por alguns instantes, correr por corredores que se movem pela tela e que podem te matar caso não seja rápido o suficiente. Há também a constante estática que surge quando se toca nas paredes, blocos ou tiros, que deixam o jogador tonto e confuso.

A trilha sonora é um verdadeiro espetáculo: ao mesmo tempo que segue o estilo do vaporwave, rolam misturas com cortes de músicas conhecidas para criar algo totalmente inédito. Às vezes soa a Vaportrap de Blank Banshee, o Future Funk de Super Sex 420 e outros remixes de músicas famosas, usando inclusive sons de inicialização de programas como AOL, ICQ e até mesmo frases de animes e jogos.

Parece um boss, mas não é!

Ouvir a trilha sonora de PUSS! me fez lembrar ainda mais da minha primeira interação com esse gênero musical. Me fez lembrar porque sempre adorei toda a estética visual dos anos 80 e 90 e qual era a sensação de poder ouvir os grandes clássicos daquela geração em CDs e fitas que minha mãe mantêm até hoje. Aquela sensação de que o futuro é uma porcaria e que existe todo esse universo que abrange toda essa nostalgia.

キャコウェーブ 1994

É importante ressaltar que PUSS! não é pra qualquer um. Além de ser um jogo de nicho, que pode não ser compreendido inteiramente pelos jogadores, seu visual pode induzir vômitos, tontura, cansaço e até mesmo espasmos e convulsões. As imagens que surgem caso você morra repetidamente podem chocar algumas pessoas. Isso pode fazer com que algumas pessoas repudiem o jogo, mas talvez captem a mensagem que ele quer passar.

PUSS! é um lixo de jogo? Sim, propositalmente. E é justamente por isso que ele é bom. É também um ótimo representante do estilo musical que é o Vaporwave, reproduzindo uma forma de arte que está em constante evolução e experimentação.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024