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Quando fiquei sabendo sobre Raji: An Ancient Epic, jogo de estreia do estúdio indiano Nodding Heads Games, logo me empolguei com a possibilidade de conferir uma obra que finalmente explorasse a mitologia indiana. Até então nenhum game de fato aproveitou a riqueza da cultura hindu para trazer algo grandioso para esta mídia. Tivemos o yogi Dhalsim em Street Fighter II, o líder pacifista Gandhi em Civilization V e VI, o deus Ganesha em SMITE e coisas do tipo, mas nada que aprofundasse pra valer.

A desenvolvedora localizada em Pune, cidade que fica ao oeste do estado indiano de Maharashtra, se mostrou bastante comprometida com seu projeto. Embora seja uma jornada simplória, da busca da jovem Raji por seu irmão mais novo Golu, raptado por demônios, o game demonstra um esforço descomunal – ou ambição em excesso – para entregar um título indie de qualidade. O resultado é um tuk-tuk bonito por fora, mas precisando de melhorias por dentro.

Gamer à moda indiana

Como filho de uma artista que foi pioneira da dança clássica indiana estilo Odissi no Brasil, óbvio que eu pegaria este jogo para avaliar. Não que eu seja especialista sobre o assunto, mas o trabalho de minha mãe (Silvana Duarte) me introduziu à essa cultura toda bem cedo. Já fui devoto de Sathya Sai Baba, amo comida indiana (especialmente Mattar Paneer e Samosa), sei um bocado sobre mitologia indiana, sou fã da banda de metal Bloodywood e me divirto muito com os filmes bollywoodianos. Principalmente os de ficção-científica, no nível nonsense do clássico Enthiran.

Imagem do jogo Raji: An Ancient Epic
A arte do game promove cenários bem interessantes.

Raji: An Ancient Epic chegou primeiro ao Nintendo Switch, sem muito alarde. Mas seu lançamento nas plataformas PC, PlayStation 4 e Xbox One já tem data marcada: 15 de outubro. É de senso comum que a versão de Switch seja a mais capada, e este game não foge à regra. Só de comparar os gráficos dos trailers você notará a diferença. Eu particularmente não me incomodo com gráficos desde que o downgrade não influencie na performance. Infelizmente, na versão de Switch, a queda de frame rate é constante e atrapalha a experiência.

Na trama, os demônios invadem o reino humano trazendo caos e destruição. A jovem Raji é escolhida pelos deuses para defender a raça humana, enfrentar o lorde dos demônios Mahabalasura e salvar seu irmão Golu. A história é contada por animações que simulam o teatro de sombras da Índia, com locução da deusa Durga (uma caçadora de demônios na mitologia hindu). Durante o gameplay, ela narra passagens importantes da aventura e também bate papo com Vishnu (deus da proteção) sobre a evolução da protagonista.

Imagem do jogo Raji: An Ancient Epic
Hora de dominar o poder do tridente de Shiva.

Com câmera afastada da personagem e cenários amplos, o jogo pega de base o gameplay dos primeiros God of War (de PlayStation 2) e elementos de parkour emprestados dos primeiros jogos 3D da franquia Prince of Persia. Raji aprende a pular obstáculos, fazer malabarismos e a usar armas como o tridente Trishula, o arco Sharanga, a espada Nandaka e o escudo Srivatsa (estes dois usados em conjunto). Ou seja, um arsenal para combates corpo-a-corpo e a distância, com a possibilidade de alternar entre eles a qualquer momento.

Execução com acertos e erros

Visualmente, o game faz um panorama da mitologia indiana com inspirações vindas do Mahabharata e Ramayana, com direito a templos suntuosos, arquiteturas medievais do Rajastão e até mesmo mitologia balinesa. Apesar de não ser super detalhado, a ambientação pintada à mão e com renderização 3D combina muito bem com a proposta do jogo. Uma pena que os gráficos do modelo da Raji e demônios fiquem tão serrilhados com a câmera afastada. Detalhe técnico que se agrava durante o efeito de tremor e desfoque da câmera.

Raji: An Ancient Epic funcionaria melhor com um gameplay mais simples e rápido, mas ao invés disso temos o parkour somado a um combate com variações de combos, especiais e finalizações à lá Kratos. Acontece que tudo isso é pobremente executado, dando a sensação de que Raji é pesada e realiza seus movimentos de forma muito artificial, sem leveza, como se ouvesse um ímã entre ela e os adversários. Não há contra-ataque nem nada, apenas o apertar frenético dos botões.

Imagem do jogo Raji: An Ancient Epic
Mesmo com problemas, o combate promove bons momentos.

O mesmo problema de polimento é visto nas sessões de plataforma, em que Raji precisa pular de um lugar a outro. Em minha jogatina, em vários momentos pulei no tempo certo e mesmo assim cai no buraco, como se houvesse uma barreira invisível me atrapalhando. Pulando em pilares a movimentação é ainda mais linear, o que não exclui a margem para erros ou bugs. E os tutoriais, que deveriam orientar com clareza, se tornam áreas bloqueadas para avançar enquanto você não realizar o movimento certo obrigatório. E acredite, não é tão fácil como deveria ser.

Há uma árvore de evolução com melhorias para o uso do tridente, do arco, da espada e do escudo, onde o jogador gasta as orbes coletadas para ativar vantagens como atordoar inimigos, causar dano elétrico, dano de gelo, entre outras opções. Na metade da aventura Raji adquire a espada Nandaka e o escudo Srivatsa e, bem, o tridente Trishula perde sua utilidade no combate. Com a possibilidade de arremessar o escudo à lá Capitão América, até o arco deixa de ser tão importante (exceto contra alvos muito distantes).

Imagem do jogo Raji: An Ancient Epic
Rangda precisa de uma boa manicure.

Arriscando com um pouco de tudo

Para alternar entre os momentos de exploração e combate, o jogo oferece painéis interativos pra contar histórias sobre os deuses hindus e alguns quebra-cabeça para resolver: formar imagens de Raji e Golu rodando cinco áreas de um círculo, encaixar partes rotacionáveis de uma árvore e resolver a ordem das engrenagens de um mecanismo. O desafio é baixo, mas pelo menos cria fôlego entre as batalhas. Já os chefões merecem destaque, especialmente a rainha demônio Rangda, “a devoradora de crianças” da mitologia balinesa.

Raji: An Ancient Epic reúne um apanhado de referências para deixar seu gameplay o mais completo e variado possível. Até a sessão de esconde-escode de Batman: Arkham Asylum com o Espantalho são replicados aqui com a cobra Naga. Este esforço todo há de ser reconhecido, embora o jogo passe longe da perfeição. Seria uma experiência mais prazerosa se o combate fosse mais fluído e não houvessem essas falhas nas sessões de plataforma e tutoriais. Ainda assim, é um indie corajoso que se arriscou a entregar um resultado acima da média.

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