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Mais de 20 anos se passaram e Resident Evil 3: Nemesis, um clássico do PlayStation 1, retorna totalmente refeito pela Capcom em sua gloriosa RE Engine. Com o imenso sucesso de Resident Evil 2, o hype estava nas alturas. E não é para menos: quem aqui não estava com saudades do Nemesis? Afinal, o Mr. X foi só um esquenta para a perseguição incessante do terceiro game.

Você pode chamar de remake, mas no fundo Resident Evil 3 foi completamente reimaginado – até mais que Resident Evil 2. Ambos os títulos deixaram de ser o que eram no PS1, oferecendo uma nova experiência com mudanças na progressão da história, no combate, no papel dos personagens, nos diálogos e nos objetivos a serem concluídos. É diferente do caso dos “HD Remaster” que rolaram até o momento, aprimorando os aspectos gráficos (e gameplay, em alguns casos) sem alterar a estrutura original.

Antes do adeus à Raccoon City

Na trama, que ocorre antes e depois dos eventos de Resident Evil 2, Jill Valentine e Carlos Oliveira enfrentam a infestação zumbi de Raccoon City enquanto lidam com os ataques da mais poderosa e implacável arma biológica da Corporação Umbrella. O game começa com visão em primeira pessoa, resgatando o gameplay proposto em Resident Evil 7. Pouco tempo depois, a câmera passa para terceira pessoa e assim permanece até o desfecho da campanha. Logo, a correria se inicia com Nemesis fazendo uma visita surpresa ao apartamento da Jill.

Muita coisa do jogo antigo foi mantida, embora tudo seja apresentado de forma inédita. O sobrevivente Dario Rosso se trancando no vagão de um caminhão? Tem sim. A amarelinha desenhada com giz no chão? Tem também. Porém o game vai além e revela, por exemplo, o que aconteceu com Robert Kendo e sua filha na loja de armas. Os bastidores da história principal continua, no entanto, sendo apresentado por anotações que você encontra pelo caminho. São histórias de civis, de policiais de Raccoon City, de cientistas e soldados da Umbrella.

Imagem do jogo Resident Evil 3
Tyrell e Jill, em uma cinematic in-game de cair o queixo.

A campanha de Resident Evil 3 é linear e sua história é de fácil compreensão, mesmo que você não leia todas as anotações. Assim como no game original, o jogador intercala entre Jill e Carlos para explorar pontos de vista diferentes. Até porque Carlos é considerado um inimigo, uma vez que ele faz parte da força militar particular da Umbrella, chamada U.B.C.S. Os dois unem forças para sobreviver, enquanto desvendam os mistérios em torno da epidemia e da criação de criaturas biológicas.

S.T.A.R.SSSSS

Logo nos primeiros minutos de jogatina se nota o quanto o Nemesis mudou. Ele surge como uma múmia gigante, com faixas pretas de couro enroladas pelo corpo, a cabeça coberta e um dispositivo de vacinas cravado no peito. Após pegar fogo, ele assume o visual icônico da franquia, com o rosto deformado e os dentões à mostra. Os zumbis, agora em maior quantidade em todos os mapas, receberam um trato no visual e sofrem mais danos visuais do que em Resident Evil 2. E Nemesis ganhou a habilidade de transformar estes zumbis em uma espécie de La Plaga, com um tentáculo saindo da cabeça. Eles atacam à distância, mas quando estão perto eles sugam sua cabeça para tentar sufocá-lo. E pra manter a tradição, o Nemesis continua derrubando maletas com itens importantes caso inventar de enfrentá-lo durante as perseguições. Pena que em quase todos estes momentos de correria, Nemesis reage de forma muito roteirizada.

Os zumbis transformados por Nemesis são mais resistentes e atacam de longe.

O bestiário sofreu mudanças bem-vindas, deixando os corvos e aranhas (pequenas e grandes) de fora do game. Os cães zumbi dão as caras, mas brevemente em alguns trechos do game (e nenhum pegando fogo). A minhoca gigante, chefão em dois combates do game original, também foi eliminada. Hunter Beta e Hunter Gama ganharam um novo visual, sendo que o Gama ficou bem maior (parece um dinossauro) e continua engolindo o jogador. O Licker volta a aparecer, mas somente na visita de Carlos à delegacia de polícia – a mesmíssima de Resident Evil 2. O destaque fica para Deimos, que agora pode implantar larvas em Jill que a matam rapidamente se ela não comer uma erva verde, induzindo ao vômito. E há também uma nova espécime, chamada de Pálido, super resistente e que regenera a todo momento.

Quanto aos cenários, eles ficaram maiores e com áreas inéditas para explorar, como a estação de metrô e a loja de brinquedos Toy Uncle. Os bonecos do Mr. Raccoon, do remake anterior, foram substituídos pelos bonecos do Mr. Charlie, mascote da loja. Ou seja, bonecos escondidos para você procurar e destruir. E na estação, onde você perambula por algumas galerias, fica o grupo U.B.C.S. liderado pelo comandado linha dura Nicholai Ginovaef. Infelizmente o seu sotaque russo, dublado pelo ator Neil Newbon, não convence tanto quanto o de Mikhail Victor, dublado por William Hope. O restante do elenco fez um excelente trabalho, especialmente Nicole Tompkins na voz da Jill.

Imagem do jogo Resident Evil 3
O primeiro encontro com a criatura Deimos é assustador.

Em termos de gameplay, o jogo tem poucas novidades. O inventário, sua expansão com pochetes, uso do baú e save, as modificações de armas, as combinações de recursos, tá tudo igual. O que mudou é a forma como você pega os itens pelo cenário, apertando o botão ao passar próximo deles sem ter que ver uma tela estática destacando qual item é. Essa pausa só ocorre com itens importantes, como a gazua usada para abrir travas. A esquiva do game original retorna de um jeito mais prático e é essencial para escapar dos ataques do Nemesis. Os zumbis também darão trabalho para você acertar o tempo da evasão. Eles ficaram realmente mais espertos e rápidos. Jogando com Carlos, no lugar da esquiva ele dá um empurrão ou soco.

No combate, Resident Evil 3 ganhou uma pitadinha de estratégia: o uso de geradores de energia como armadilhas de choque. Basta esperar os zumbis passarem por perto e dar um tiro no gerador para fritar todo mundo. Contra o Nemesis, é uma forma de baixar sua guarda para atacar ou correr e despistá-lo.

Faltou queijo nesse lanche

Originalmente, Resident Evil 3 oferece mais ação do que quebra-cabeças para resolver. No remake, os quebra-cabeças sumiram de vez. Restou um ou outro, como o sintetizador de vacina, que pede para o jogador equalizar três controladores de temperatura. Há um novo que propõe conectar estações do metrô, mas nada que coloque seu cérebro pra trabalhar de verdade. Entendo que nem todo mundo gosta da pausa obrigatória para os quebra-cabeças, mas tal decisão dos desenvolvedores contribuiu para a redução da duração média da campanha.

Imagem do jogo Resident Evil 3
Nemesis é um tanque de guerra com pernas, que não desiste por nada.

Ok, o jogo antigo também é curto, mas eu esperava que a Capcom fosse aprofundar mais as coisas como fizeram no remake de Resident Evil 2 – considerando a campanha com um único personagem, jogando pela primeira vez. Sem pressa, explorando tudo e procurando bonecos do Mr. Charlie, eu conclui Resident Evil 3 com 6 horas. É muito pouco, considerando a média de duração dos jogos atuais. Se não fosse pelo trabalho paralelo com Resident Evil Resistance, dava tranquilamente para expandirem a campanha com ideias frescas. O próprio ninho dos Deimos merecia mais atenção, com mapa maior para explorar e quem sabe um quebra-cabeça. Até a trama poderia ser esticada, inclusive para amenizar os clichês da época.

Ao terminar a campanha, uma loja é desbloqueada para você gastar pontos em moedas que aumentam seus status (recuperação, defesa e ataque), itens de campanha (sem ter que encontrá-los) e arsenal, como a lâmina Chapa Quente e a arma de energia RAI-DEN. Aliás, foi assim que destravei o uniforme S.T.A.R.S. da Jill, do primeiro Resident Evil. Quem fizer a pré-compra terá acesso às roupas clássicas de Resident Evil 3 – o único jeito de eliminar esse ninho de passarinho que o Carlos chama de cabelo.

Carlos tomando uma surra do Hunter Beta, que odeia pessoas cabeludas.

Resident Evil 3 é um ótimo game que, facilmente, poderia ter ficado melhor. Nicholai merecia um arco só para ele, explorando suas motivações e promovendo um duelo contra Carlos. O cientista Dr. Nathaniel Bard, novo na franquia, é outro que foi subaproveitado no remake. Nemesis acaba sendo o centro das atenções o jogo todo. Tal sentimento de perigo constante contribui para a diversão, claro, mas eu esperava mais. Até os extras são enxutos, com artes conceituais e modelos 3D para destravar. Mesmo que você jogue tudo de novo para concluir objetivos e ganhar mais pontos para torrar na loja, o replay não é tão incentivador quanto o do remake de Resident Evil 2.

Multiplayer diferenciado

Incluso no pacote está Resident Evil Resistance, um modo multiplayer online que promove testes científicos da Umbrella colocando suas criações contra cobaias humanas. Uma forma “controlada” de fazer pesquisas e aprimorar suas armas biológicas. São partidas no formato 1×5: um mentor vilão e cinco jovens sobreviventes. Começando pelas cobaias, o jogo oferece seis personagens com especializações diferentes para escolher.

A universitária Valerie dá suporte curando seus colegas. A hacker January ajuda com dispositivos eletrônicos e também sabe se defender. O bombeiro Tyrone é o mais forte e resistente da equipe. Assim como Samuel, um lutador frustrado. Martin é o geek do grupo, um personagem de suporte especializado em armadilhas. E por fim temos a guarda florestal Becca, uma fazendeira que entende de armas de fogo. Por motivos diferentes, todos eles foram parar nesse experimento doentio.

Imagem do jogo Resident Evil Resistance
O tutorial de sobrevivente dá uma boa noção de como as coisas funcionam.

Um breve tutorial explica o básico de tudo: os sobreviventes precisam escapar em 5 minutos, enquanto o vilão usa seus recursos para impedi-los e diminuir esse tempo. Como sobrevivente, a ação ocorre em terceira pessoa com objetivos para completar e assim escapar da instalação. Cada um possui suas habilidades; Valerie pode rastrear o cenário atrás de itens próximos, por exemplo. Outro breve tutorial explica como é ser o mentor: com visão em primeira pessoa, você controla as câmeras da instalação, cria armadilhas e invoca criaturas pelo cenário. E todos eles podem ser controlados, alternando a visão para terceira pessoa.

Como mentor, o jogador pode escolher um entre quatro vilões icônicos: as doutoras Annette Birkin e Alex Wesker, o agente de segurança Daniel Fabron e um dos fundadores da Corporação Umbrella, Ozwell E. Spencer. Assim como os sobreviventes, cada vilão possui suas próprias características. Exceto pelas câmeras, o acesso das coisas se dá por cartas que são disponibilizadas aos poucos. De início, somente Annette está disponível para escolher. Ao atingir o nível 5 com ela, você destrava Daniel e assim sucessivamente.

O tutorial de mentor te ensina a controlar o Mr. X.

Cada vilão possui suas próprias criaturas e arma biológica para usar: Annette controla o marido mutante G-Birkin, Daniel controla Mr. X, Alex controla Yateveo e Spencer controla D. Field. Por enquanto são quatro mapas (centro comercial, centro de pesquisa, cassino e parque abandonado), com áreas para avançar após completar objetivos variados. Tem bastante itens espalhados pelo mapa, bem como Créditos Umbrella para gastar em um baú que funciona como loja, onde você encontra munição, ervas, armas e mais.

O melhor jeito de se acostumar com tudo isso é entrando no modo de treino offline, seja como sobrevivente ou mentor. A Inteligência Artificial dá conta do recado e tal prática ajuda a entender melhor a coisa toda. De início é bem complexo, pra ser sincero. Leva tempo para evoluir com cada personagem e desbloquear as novas habilidades, mas o processo é bem divertido. Há também personalização pra tudo: visuais para os personagens e criaturas, modificações para as armas, comemorações etc. E, claro, há eventos diários e semanais que dão pontos e baús de cosméticos ao completar missões.

Imagem do jogo Resident Evil Resistance
O dano causado nos inimigos é indicado por números.

Por incrível que pareça a estrutura de Resident Evil Resistance contribui no equilíbrio da partida entre os jogadores. Com jogadores experientes ou não, o sucesso dos sobreviventes depende única e exclusivamente do trabalho em equipe. O mentor, embora sempre mais poderoso, precisa ficar atento aos erros dos jogadores para se beneficiar. Estratégia é tudo: um inimigo bem posicionado pode acabar com o equilíbrio da equipe adversária e atrasá-los. E vencer a partida, seja como mentor ou sobrevivente, é bastante recompensador.

Ainda tem chão para o modo online ficar redondinho. Há problemas de câmera e o matchmaking apresentou problemas técnicos na versão de PC e PS4 logo no primeiro dia de beta aberto. Resta torcer para a Capcom fazer seu trabalho direitinho, pois Resident Evil Resistance pode dar certo. Ou não, caindo definitivamente no esquecimento.

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