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Estamos vivendo a ascensão do retrô! Não é algo de agora, porque já tem alguns anos em que basicamente 80% do nicho indie dedicou todas as suas forças a jogos bem semelhantes aos antigos games que a gente tanto ama. Seja por saudosismo ou simplesmente por falta de recursos, é inegável que, querendo ou não, sempre aparece algo do tipo e alguns acabam nos agradando até demais, simplesmente pelo fato daquilo ser tão nostálgico que automaticamente o torna bom. Esse é o caso de Reverie, do estúdio neozelandês Rainbite.

Reverie é o tipo de jogo que não precisa de muito pra te ganhar, com um enredo simples (até demais), uma jogabilidade mais simples ainda e elementos de muitos jogos antigos, tudo junto e misturado. Quem é gamer desde a época do SNES e GBA com certeza vai adorar este título, mas o que torna ele tão charmoso e divertido? A equipe criativa, formada por apenas três caras, escolheram os jogos certos para se inspirar, pois Reverie é o casamento de Zelda com Earthbound e, se você está órfão desses clássicos da Nintendo, seus problemas acabaram.

Overdose de nostalgia

Em Reverie você controla Tai, um garotinho que foi passar as férias na casa de seus avós, em uma ilha chamada Toromi. Essa ilha não é tão normal quanto aparenta e possui um passado bem obscuro: ela foi pescada do fundo do mar por um pescador chamado Heke e o mesmo foi assassinado pelo seus quatro irmãos, que dominados pela ganância conspiraram para ficar com a ilha para si. O resultado disso foi a maldição que Heke jogou em seus irmãos e todos se tornaram espíritos malignos, que assombram a paz e o curso da natureza daquela ilha até os dias de hoje. Agora cabe a você encontrar e libertar esses cinco espíritos para que os habitantes de Toromi possam viver tranquilos novamente.

Liberte os cinco espíritos para que a paz possa reinar novamente.

Por quê toda essa responsabilidade está sendo jogada nos ombros de um garotinho? Não há um porquê, mas nisso já fica nítida a inspiração em Earthbound, onde todos os protagonistas são crianças. O enredo não é nem um pouco profundo e mal é explicado, com apenas uma cutscene inicial que conta a história dos cinco irmãos. Depois disso, o jogo já começa com seu avô te pedindo para partir em uma jornada e salvar a ilha. Temos pequenos diálogos que colaboram muito pouco com a narrativa, e é isso – não espere uma história maluca, abstrata e bem elaborada como vemos na série Mother.

A inspiração em Zelda fica no gameplay, que é idêntico aos Zeldas das antigas, principalmente A Link to the Past e Minish Cap. Os gráficos são muito semelhantes, mas as sprites dos personagens remetem mais a Pokémon, outra franquia poderosíssima da Nintendo. Até mesmo a animação do personagem atacando é idêntica à animação de Link usando sua espada em Minish Cap. Os desenvolvedores não pouparam referências aos jogos que lhe inspiraram, inclusive no modo como Tai coleta itens importantes. Link deve estar se sentindo contemplado.

A ilha possui um mapa nem um pouco extenso, dividido em cenários, cada um possuindo seu próprio tamanho. Temos alguns ambientes diferentes para explorar, como florestas, praias e até vulcões, e nosso objetivo é encontrar as cinco dungeons do jogo, vencer o chefe em cada uma e enfim concluir sua aventura. Tudo isso é totalmente reaproveitado do padrão Zelda, no qual você terá que encontrar itens importantes que dão acesso a novas áreas do mapa e assim ir descobrindo tudo aos poucos.

A cidade de Pallet…

As dungeons também não fogem muito do Zeldinha, tendo vários andares e várias salas para explorar e enfrentar vários inimigos para ganhar chaves, além de resolver puzzles com os itens encontrados. Mas pra quem está acostumado com os desafios de Zelda, os puzzles e combates de Reverie serão um passeio no parque em uma tarde ensolarada, porque o jogo é bem fácil no geral. Os puzzles são muito simples e intuitivos (tirando um ou outro da última dungeon, que me deram um pouco de trabalho) e os combates conseguem ser menos desafiadores ainda, pois os inimigos não costumam te atacar, simplesmente andam aleatoriamente no cenário e partem pra cima de você quando estiverem próximos. Muitas vezes compensa mais desviar de todos e partir para a próxima sala do que ficar lá espancando animaizinhos.

Minimalismo é a solução

A jogabilidade de Reverie é literalmente igual à de Minish Cap. Tai pode rolar no chão para desviar de ataques e possui três botões de ação, onde equipamos nossa arma (que será um bastão de críquete do início ao fim) e os acessórios que usaremos nos puzzles, como uma pistola de dardos, um iô-iô e até uma pedra com olhos. Cada um possui sua função no jogo e com cada novo acessório obtido é aberta uma série de novos locais a serem explorados na ilha, então vale a pena revisitar tudo de novo para encontrar novas penas, os colecionáveis do jogo.

Um exemplo de um design de chefe bem preguiçoso…

A maioria das penas não está sequer escondida e você as acha andando pelo cenário, mas outras exigirão esses acessórios já citados para serem alcançadas. Isso não estende muito a vida útil do jogo após o zeramento, pois há poucos colecionáveis e coisas a se fazer, limitando-se apenas a caçar as penas restantes ou explorar a dungeon secreta que desbloqueamos no término da história. A campanha também não é nada longa e os experientes na série Zelda conseguem finalizá-la em cerca de 3 a 4 horas, já quem for mais tranquilo e não tiver pressa consegue estender mais umas 2 horas, no máximo.

Apesar de ter mais Zelda do que Earthbound nele, a semelhança com essa franquia maluca da Big N não fica apenas no protagonista. Reverie também tem muita bizarrice ao seu próprio modo, onde podemos jogar hockey contra um microondas, tomar banhos com animaizinhos falantes e encontrar alguns Kiwis (o pássaro, não a fruta) com diversos planos de carreira, onde um quer ser cozinheiro, outro nadador, e por aí vai. É um nonsense bem mais leve que o da série Mother, mas ainda assim não deixa de ser legal.

Jogar hockey com um microondas, quem nunca?

Se você foi um jogador de Zelda Minish Cap do GBA ou de Earthbond do SNES, com toda certeza o que vai te ganhar logo de cara são o visual e a trilha sonora. As músicas remetem bastante ao MMO “das antigas” Maplestory, que por coincidência também tem um visual pixelado e muito bacana. O único ponto negativo disso tudo é que, em muitos cenários, parece que não houve muito capricho na hora de “enfeitar” esses lugares, já que em Zelda temos uma vasta riqueza de detalhes e aqui vemos apenas algumas coisinhas espalhadas pelo chão de uma maneira bem preguiçosa, principalmente nas dungeons. Parece que o cara simplesmente não fazia ideia de como enfeitar o cenário e espalhou tudo aleatoriamente.

Jogar Reverie é como jogar Zelda Minish Cap com outras sprites e, mesmo que isso tire um bocado da identidade do jogo, não achei ruim. Tudo foi feito para ser nostálgico e nesse ponto ele é impecável, mesmo que não seja um jogo encantador ou com uma proposta inovadora. É óbvio que a fórmula dele não funciona tão bem com quem não jogou esses títulos na época, mas quem simpatiza com aventuras retrô pode acabar curtindo também. O melhor disso é que Reverie também foi lançado para PS Vita, o que achei ideal, já que o estilo de jogo é perfeito para se jogar em um portátil, naquelas horas em que queremos jogar algo pouco exigente e ainda divertido.

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