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Em 1988, quando o arcade de Gain Ground foi lançado mundialmente, eu tinha apenas 6 anos. Mas não demorou nem 2 anos pra começar, junto de outros amigos corajosos, a desbravar o salão de fliperamas mais próximo de casa. Afinal, não era permitido frequentar estes locais inapropriados para menores, cheios de marmanjos fumantes e mal encarados. No fim eram jogadores como nós, apenas mais velhos e igualmente curiosos para conferir os lançamentos.

Gain Ground foi um destes casos de fliperama que vi somente uma vez na vida e não cheguei a jogar. Em 1991, o game da Sega foi portado para Master System e Mega Drive e novamente não vi nem a cor, pois já estava trocando meu Master System pelo recém-lançado Super Nintendo, no Natal daquele mesmo ano. Resumindo o drama, levei 27 anos pra finalmente jogar Gain Ground com a coleção Sega Ages.

Procurando a saída mais próxima

Levando totalmente em conta que este é um jogo antigo, encarei a jogatina em prol da curiosidade. Já adianto que a experiência funciona melhor jogando com amigos, até 3 ao mesmo tempo. Sozinho, como fiz, não foi lá tão divertido assim. O objetivo é simples: chegar até a área de saída ou matar todos os inimigos antes que o tempo acabe. No início é tranquilo, porém aos poucos as fases vão ficando cada vez mais brutais.

Imagem do jogo Gain Ground
Tem fases com cores bem escolhidas, como esta. Consegue ver alguma coisa?

São 5 rounds com 10 fases cada, sendo a última com chefão. No arcade original há 4 rounds, totalizando 40 fases. Já esta versão inclui o round extra (com mais 10 fases) do game para Mega Drive e Master System. Cada round representa um período: Idade das Trevas, Idade Média, China pré-revolucionária, Presente e Futuro. Os cenários mudam aos poucos, bem como os inimigos e seus respectivos ataques. Alguns são rápidos, outros lentos e há aqueles que exigem mais de um hit de dano pra morrer.

Por ser um emulador do jogo de arcade, dá pra colocar quantas fichas quiser, além de abusar do recurso de rebobinar do Sega Ages. Ainda assim o desafio é altíssimo, principalmente quando há muitos inimigos na tela. Apesar de ser possível desviar do fogo cruzado até alcançar a saída, o fato de termos que salvar cada um dos personagens vivos sempre abre a possibilidade de morrer no trajeto. Se você tem 10 personagens liberados, tem que chegar na saída com os 10 ou matar geral pra passar de fase. Acredite, a segunda opção é sempre mais viável.

Por falar nos personagens, este é o ponto mais interessante de Gain Ground: são 20 heróis distintos, cada um com uma velocidade, tiro normal e uma habilidade. Os primeiros heróis são bem básicos, mas ao salvar os outros você pode usar suas respectivas habilidades. E são várias: arremessar lanças, rodar dando tiros pra todos os lados, jogar um bumerangue, soltar flechas com fogo, usar um lança-míssil… Tem até magias, como bolhas de água que bloqueiam os inimigos e um redemoinho de vento. Ao morrer com um, você recomeça com outro (com escolha livre) e a possibilidade de salvá-lo novamente.

Imagem do jogo Gain Ground
Sai dessa trincheira e vem no braço, vem!

Não dá pra negar que o gameplay envelheceu mal, com decisões de design que deixarão muitos jogadores putos da vida. Se você pegar um herói lento, mesmo que mais poderoso, pode ter certeza que um inimigo vai te alcançar rapidinho sem dar a menor chance de evitá-lo. Outro exemplo são as fases com variação de nível de terrenos: há heróis que não oferecem habilidade de jogar alguma coisa pra cima, como uma granada, contribuindo no desbalanceamento da dificuldade.

Corredor polonês

As fases geralmente promovem uma chuva de disparos inimigos, sendo difícil de desviar de tudo. Durante minha jogatina, em muitas fases preferi sair correndo mesmo, pois o tempo é curto demais pra matar todos os inimigos. Embora seja possível diminuir a dificuldade e aumentar o tempo de limite das fases no menu de opções, o game continua desafiador. A título de comparação, sofri horrores pra concluir as 50 fases na dificuldade nível 4 (em uma escala de 8).

Imagem do jogo Gain Ground
Desviando de bombas mais do que o próprio Bomberman.

Gain Ground é, literalmente, um corredor polonês. Você correndo desesperadamente torcendo pra não levar chumbo. Divertido no início, estressante nos últimos 2 rounds. Os chefes então, minha nossa, haja paciência para vencê-los. Mesmo que o tempo acabe, o continue é infinito e o cronômetro reinicia ao voltar pra ação. No arcade, era um jeito de comer as fichas dos jogadores. Aqui, é apenas um detalhe que muda o seu placar final, compartilhado online.

Além da opção de rebobinar, disponível para ligar somente no Original Mode, a M2 adicionou o Full Member Mode: você começa o game com todos os 20 personagens desbloqueados. Não dá pra rebobinar, mas ter esse leque todo de opções ajuda bastante a lidar com a dificuldade crescente e descobrir quais são os melhores heróis. E isso você descobrirá na base da aleatoriedade, já que o menu de escolha não informa qual a habilidade de cada um. Nem o papel de parede ajuda.

Imagem do jogo Gain Ground
Cyber possui minha habilidade favorita: uma chuva de mísseis na malandragem.

Sega Ages: Gain Ground não é um game fácil de recomendar, exceto se você for fã de retro gaming. Diferente de Alex Kidd in Miracle World, que funciona bem até para os padrões de hoje, este é um típico jogo de arcade que rapidamente desanima o jogador com seu desafio elevado. Mas, sinceramente, não sei se ele permaneceria interessante com dificuldade abaixo do nível 4. É um jogo simples, com uma única música rodando em looping eterno, mas que ainda assim possui seu próprio charme. Se for dar uma chance, jogue na TV. No modo portátil do Switch só recomendo se for rotacionar a tela para jogar na vertical, com os joy-cons desacoplados.

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