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Após muita espera, Shenmue III finalmente está entre nós. A sequência começa exatamente no mesmo lugar onde o game anterior terminou, lá na caverna com Ling Shenhua em 1987, continuando a busca pelo assassino do mentor e pai do jovem Ryo Hazuki. E este sonho só foi realizado graças ao apoio da comunidade de fãs que financiou o projeto no Kickstarter, que apoiou a desenvolvedora Ys Net com mais de $6 milhões de dólares. Junto, veio uma imensa responsabilidade para o time de Yu Suzuki.

Shenmue III é um RPG com uma história misteriosa, cativante e cheia de emoção. Ela também dá espaço para uma boa aventura, muito Kung-Fu, minigames e principalmente conhecer a rotina charmosa de seus NPCs, onde muitas vezes será necessário participar e respeitá-las para progredir em suas missões. Diferentemente dos jogos atuais, com suas mecânicas e interações cada vez mais complexas, aqui as coisas acontecem de maneira mais simples e lenta, já que a jogabilidade é quase a mesma dos jogos anteriores. Manter essas características traz aquele sabor nostálgico para alguns, porém quem não acompanha a série certamente estranhará a jogabilidade e pode facilmente considerá-la datada e antiquada.

Caminhando na contramão

Buscando entender os mistérios por trás do Espelho de Fênix, artefato que é cobiçado pelo assassino do seu pai, Ryo continua explorando as belas montanhas de Guilin na China. Nesta jornada, você finalmente poderá conhecer as paisagens rurais dos pequenos vilarejos de Bailu, aquele que em Shenmue II só podíamos ver através das fotos. O visual é encantador e repleto de detalhes, com uma população que é acolhedora e está cheia de curiosidades sobre sua presença neste local tão pacífico e distante das cidades. Os mais velhos parecem saber muito sobre o item que você carrega, além de alguns terem conhecimentos que podem melhorar seu treinamento e prepará-lo para os próximos desafios. Portanto, fazer amizade com eles ajudará durante sua missão. Se você caiu de paraquedas nesta história, não se preocupe: logo no início há uma opção para recapitular os acontecimentos até aqui.

Imagem do jogo Shenmue III
Esse cara precisa se soltar, relaxar um pouco.

Shenmue surpreendeu muita gente em 1999, apresentando aos jogadores muitas funcionalidades inéditas, coisas como o mundo aberto para explorar e NPCs com seus afazeres independentes do protagonista. Ter que aguardar o momento certo para prosseguir em uma missão ou mudanças de clima que alteram o comportamento das pessoas são detalhes incríveis até hoje. O segundo título expandiu essas ideias e trouxe algumas novidades. Como toda sequência, esperava-se que os desenvolvedores aprimorassem a jogabilidade e apresentassem novas ideias (como aconteceu com The Witcher, por exemplo). Mas não é exatamente isso o que acontece em Shenmue III, que até possui novidades, mas muitas das mecânicas vão na contramão desta ideia evolutiva para manter a jogabilidade conhecida da série.

O tempo não passou para Ryo como passou para nós e sua movimentação ainda é travada a ponto de parecer um robozinho. Claramente o visual é mais bonito, mas as animações que anos atrás eram o suficiente, hoje parecem muito restritas. Além disso, os comandos estão organizados nos mesmos padrões que anteriormente. É impossível não sentir uma pitada de nostalgia nas primeiras cenas, já que é muito semelhante à forma como acontece nos dois primeiros episódios. É como voltar no tempo possuindo um belo par de óculos, pois a beleza é um dos destaques, mas convenhamos, seria bom uma repaginada neste modelo de jogabilidade.

Em Guilin você também precisará interagir com os mais diversos objetos e pessoas para procurar itens. Essas buscas vão mostrar o quanto os cenários são ricos em detalhes. Você pode, por exemplo, abrir cada gaveta de uma imensa estante para conferir o que há dentro. É mais uma mecânica conhecida que oferece um trabalho de paciência, já que os comandos são bem pausados. O problema é que atualmente esse recurso pode tornar a jogatina cansativa. Certamente tudo isso teve a intenção de agradar os fãs e a manter o estilo caricato deste universo, mas esse ritmo lento talvez não seja atraente para os novos jogadores e pode até incomodar aqueles que tanto esperaram pelo game.

Imagem do jogo Shenmue III
É cansativo, mas abrir essas gavetas rende algumas surpresas.

Durante o dia, a saúde de Ryo vai diminuindo e, para renovar, é necessário se alimentar constantemente. Isso é algo bem interessante pois é imersivo, incentivando o trabalho para a compra e o consumo dos diversos alimentos vendidos nas barracas. Mas Shenmue III não é feito só de gráficos bonitos e mecânicas clássicas: há novidades como o nível de Kung-Fu, que somam as melhorias de sua resistência e força de ataque. Esses dois status recebem pontos conforme os níveis de suas habilidades são evoluídos dentro dos treinos e combates. Melhorar seu nível será importante para o balanceamento durante os combates contra inimigos, que algumas vezes podem ser um tanto desafiadores.

O combate ocorre no formato familiar de Shenmue, com a diferença de que aqui as lutas são um pouco mais rápidas e articuladas graças às animações. Os golpes agora são mais simples de realizar e você também pode criar atalhos fáceis para os combos e habilidades. Com isso, a luta ficou mais dinâmica e até estratégica. Alguns combos ainda acontecem através de Quick Time Events, porém o timer de comandos solicitados nestes momentos é tão acelerado que é difícil executá-los. O mesmo acontece em cenas de ação que pedem esse tipo de interação. Felizmente (ou não), caso você erre esses comandos terá que repeti-los e o jogo não se dá o trabalho de mudar as sequências, então basta decorar.

Imagem do jogo Shenmue III
A ambientação de Shenmue III é maravilhosa.

Conhecendo o lazeres que Shenmue III tem a oferecer

Outra novidade está no diário de Ryo, que agora possui marcadores separando os diferentes assuntos durante sua jornada. Você pode visualizar a guia de pistas principais, anotações de pontos de interesse, solicitações secundárias, mapa e contatos. Para tornar as coisas ainda mais agradáveis, este é o primeiro título da série a contar com legendas em português (será o fruto do apoio dos brasileiros durante a campanha de financiamento?). Com esses recursos fica fácil acompanhar a progressão da narrativa e entender todas as tarefas secundárias que o jogo oferece, que inclusive são muitas.

Assim como nos outros episódios, você já deve saber que os acontecimentos de Shenmue III tem data e hora para acontecer. Enquanto aguarda, o vilarejo de Bailu e as outras localizações do jogo estão repletas de atividades para te entreter. São diversos jogos de azar e outros vão exigir habilidades para dominar os controles para vencer. Todas elas recompensam com fichas, que você poderá trocar por prêmios colecionáveis que, se você quiser, pode vender para comprar coisas úteis como alimentos. Lembrando que ainda estamos em 1987 e aqui as máquinas de brindes famosas da série ainda estão presentes e repletas de bonequinhos carismáticos – que também podem ser vendidos separadamente ou em conjuntos para ganhar maiores valores.

Imagem do jogo Shenmue III
Tira casaco. Põe casaco.

Outra forma de ganhar dinheiro é através do trabalho, você poderá realizá-lo em diversos locais como, por exemplo, cortar lenha para as lojas. Uma outra solicitação é reunir plantas para criação de remédios. São muitas atividades acontecendo paralelamente aos seus objetivos. Elas te mantém ocupado durante toda a jogatina e o que mais surpreende é que você acaba criando uma rotina junto aos NPCs. Para alguns essa experiência pode ser agradável, mas muitas vezes você ficará preso às missões por ter que focar muito mais no dia a dia do vilarejo, seja para conseguir juntar uma determinada quantidade de dinheiro ou para encontrar itens onde você será obrigado a ir e voltar falando com as mesmas pessoas para elas finalmente cederem o objeto.

A cultura da cordialidade e respeito é representada com frequência em Shenmue III. Todas as manhãs Ryo cumprimentará Shenhua, que lhe responde dizendo que aguardará sua chegada ao anoitecer. Esse detalhe também ocorre com todas as outras pessoas no jogo. O respeito é tanto que Ryo é obrigado a retornar pra casa às 9 da noite não importando se estiver resolvendo uma missão. É legal ver essas ações tradicionais embora possam ser incômodas, já que se repetem constantemente e interrompem a gameplay. Poderiam apenas incluir os diálogos enquanto perambulamos dentro da casa, sem a necessidade de parar o jogo para mostrar tais momentos.

Imagem do jogo Shenmue III
É impossível não se surpreender com esse visual.

O game oscila entre a jogabilidade clássica (que algumas vezes pode causar uma certa estranheza) e as novidades de gameplay. É fácil se envolver e se apegar ao titulo, já que a narrativa é instigante, com personagens carismáticos e uma ambientação encantadora, inclusive com músicas que combinam bem com o estilo de vida rural. É claro que em meio a tantos detalhes, algumas coisas poderiam se sair melhor, como os comandos que já citei. Alguns menus mereciam um trabalho melhor e as animações de NPCs podiam ser mais polidas para os diferentes climas do jogo pois, quando chove, eles poderiam ao menos se proteger com guarda-chuvas (algo que acontecia no primeiro jogo). Ao invés disso, eles permanecem sem alterar suas posições.

Shenmue III trouxe tudo aquilo que os fãs já estão acostumados em termos de jogabilidade, e as novidades são bem-vindas. A experiência permanece similar aos jogos anteriores, o que é bom por não descaracterizar o título, mas em alguns momentos desagradam já que se tratam de mecânicas datadas. O jogo pode não satisfazer a todos, mas é assim que a Ys Net escolheu dar continuidade à jornada de Ryo Hazuki, história que não chega ao fim neste terceiro episódio.

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