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A Deadalic Entertainment é um estúdio independente alemão que não costuma trazer projetos inovadores, mas não dá para negar que os seus trabalhos são bem interessantes e acabam trazendo uma experiência satisfatória em sua maioria. Analisamos State of Mind recentemente, o título mais fresco da desenvolvedora que, apesar de ter suas falhas, não é um jogo ruim. Agora, passados 3 anos desde o lançamento inicial no PC e em plataformas mobile, SKYHILL finalmente está chegando aos consoles.

SKYHILL é um roguelike completo, pois apesar do gênero estar na moda, todos os títulos que vêm sendo lançados por aí são classificados apenas como roguelite. Isso por não terem a tríplice aliança que compõe um roguelike: morte definitiva, mapas gerados aleatoriamente e combate em turnos. Pois bem, SKYHILL possui esses três fatores e isso o torna um legítimo roguelike, contando ainda com elementos de sobrevivência e RPG.

War never changes

Em SKYHILL você controla um homem que, no meio de uma viagem de negócios, se hospeda no hotel de luxo que dá nome ao jogo. Essa grande hospedaria possui 100 andares, tem uma suíte VIP em seu topo e é lá que nosso protagonista ostentoso resolve passar a noite. Paralelo a isso, a Terceira Guerra Mundial está acontecendo mundo afora e, nessa mesma noite, uma bomba nuclear é detonada próximo ao hotel, transformando quase toda a população em mutantes e instaurando o caos.

Como o quarto em que estamos hospedados é blindado contra ameaças biológicas, nosso personagem não é afetado pela radiação e se torna um dos únicos sobreviventes do ataque – mas é claro que ele não pode se esconder lá para sempre e logo se vê obrigado a encarar todos os perigos daquele prédio em busca de comida e, é claro, de sua sobrevivência. Tudo isso é contado em uma cutscene inicial muito breve, em forma de história em quadrinhos com narração e, tirando o final do jogo, é apenas isso que veremos de história neste game.

Imagem do jogo SKYHILL
Algo me diz que vou me dar muito mal se entrar naquele quarto…

Nosso objetivo é descer os 100 andares do prédio e chegar até o térreo, onde está a saída – conseguindo escapar do edifício você termina o jogo. Isso pode ser uma tarefa rápida ou consideravelmente demorada, já que tudo é relativo ao modo como você joga: depende da dificuldade selecionada, da sua disposição de explorar cada andar, se você luta com cada inimigo que aparece ou só contra os que forem obrigatórios e por aí vai. Também não adianta tentar correr, pois toda vez que trocamos de quarto perdemos 1 ponto de fome e, por conta disso, é essencial vasculhar cada canto em busca de comida e suprimentos, afinal este também é um jogo de sobrevivência.

As mecânicas são muito simples e a curva de aprendizado é basicamente instantânea, o que torna o jogo muito fácil de se jogar por qualquer um e até bem viciante. Ele funciona como um point and click, você só aponta o quarto que quer entrar e dentro de cada um interage com os pontos disponíveis, que podem te prover itens ou nada. Nesse port os desenvolvedores não criaram um cursor de mouse, como é comum vermos nos ports de jogos de PC para consoles – apenas usaremos o analógico para indicar o quarto que queremos, os gatilhos (L2/R2 ou LT/RT) para alternar entre os pontos de interação e o X/A para interagir com esses pontos. Foi tudo bem adaptado e não deixa de ser simples e fácil de jogar.

100 andares abaixo

O modo como SKYHILL funciona também é de uma simplicidade extrema. Cada andar possui apenas três quartos: o da escadaria, que fica no meio, e mais dois, um de cada lado das escadas. Os mapas são gerados aleatoriamente, então você nunca vai explorar o mesmo hotel duas vezes. Além dos layouts de cada quarto, os itens também serão completamente aleatórios, assim como quais quartos terão inimigos, quais inimigos serão, quais terão eventos aleatórios e quais estarão trancados.

Nas escadas também temos o elevador que só funciona caso consertemos a energia naquele andar, o que vai te custar suprimentos, mas valerá a pena. O método mais eficaz de voltarmos para nosso quarto inicial é por meio do elevador e apenas lá poderemos usar a bancada e a cozinha para construir armas muito poderosas ou refeições que nos sustentem por mais tempo. Não que isso seja um recurso que você vá usar muito, já que como os recursos que encontramos são totalmente aleatórios, acaba se tornando pouco prático ficar retornando à cobertura do prédio apenas para construir outros itens.

Imagem do jogo SKYHILL
Vai se acostumando…

Como dito antes, o combate de SKYHILL é por turnos, lembrando bastante o sistema de combate dos Fallout mais clássicos e até dos modernos, quando usamos o V.A.T.S. nos inimigos. Nos depararemos com diversos tipos de mutantes pelo prédio, onde quanto mais baixo for o andar, mais forte eles ficam. Geralmente teremos três pontos diferentes para atacar, cada um com uma determinada chance de acerto e os pontos mais difíceis de acertar são os que causam mais dano.

É possível aumentar as chances de acerto, assim como dano e chance de esquiva, conforme vamos upando de level e distribuindo nossos pontos nos atributos desejados, mas mesmo assim tudo parece aleatório demais. É muito comum você errar o ataque em um ponto com 90% de chance de acerto enquanto seu personagem raramente consegue desviar dos ataques dos inimigos, mesmo com uma destreza alta. Chega até a ser meio desanimador tamanho desequilíbrio nos combates, porque mesmo bem equipado e com uma personagem forte, ainda podemos facilmente levar uma surra de qualquer tipo de inimigo.

O que renova nosso interesse pelo game e nos motiva a continuar jogando mesmo após perder todo o progresso de uma longa partida, são os perks que vamos desbloqueando. Uma vez desbloqueados, podemos ativar dois tipos de perk antes de iniciar outra partida – um ativo e outro passivo. Temos uma vasta variedade que pode nos garantir benefícios dos mais diversos jeitos, seja nos provendo turnos extras no combate, destrancando todas as portas do prédio ou um pacote extra de comida para usarmos na hora do aperto. Cabe apenas ao jogador ir testando várias combinações e descobrir o melhor meio de sobreviver no game, o que ajuda a manter a longevidade do mesmo.

Imagem do jogo SKYHILL
Nem precisa escolher demais, as chances de errar são altas.

Sobrevivência para todos

Dentre tantos títulos roguelike de sobrevivência que já experimentei, SKYHILL é um dos mais fáceis. O nível de dificuldade influencia apenas no HP dos inimigos e no dano que eles te causam, então escolhendo os perks certos torna até o Very Hard bem acessível para todos. Ao menos as conquistas do jogo propõem um grau considerável de desafio para o jogador, como por exemplo, terminar o game comendo apenas vegetais, o que não será uma tarefa fácil considerando que eles não aparecem com frequência e quando aparecem quase sempre estão estragados, podendo te causar uma intoxicação alimentar. Cabe exclusivamente ao jogador decidir o quão disposto ele está em seguir esses desafios alternativos.

Para quem quer mais motivos para continuar jogando com um propósito, ele ainda possui três finais e a obtenção de dois deles depende totalmente da sua exploração e no descobrimento de certos itens ao longo da sua partida. O único problema nisso é que existem alguns eventos aleatórios em que devemos digitar usando o teclado virtual do console – o que não era um problema no PC, já que temos um teclado nele – e nem sempre isso funciona devidamente. Por vezes o jogo parece não reconhecer o que foi escrito, mesmo dentro das limitações do que é proposto ali, e pode acabar não desencadeando os eventos recorrentes – te impedindo até mesmo de obter o final secreto, em um caso mais extremo. São apenas bugs que muito provavelmente serão corrigidos por meio de patches futuramente.

Imagem do jogo SKYHILL
Tá tudo bem, moça?

Os gráficos são bem minimalistas e pouco charmosos, não chamando muito a sua atenção em nenhum momento e ainda compensando toda a falta de poderio gráfico na escuridão dos cenários – mas não é nada que vá estragar sua experiência. A trilha sonora é basicamente inexistente já que o jogo só conta com uma música que tocará do início ao fim do seu jogo enquanto se explora o hotel.

Se SKYHILL te passou batido no PC e nos celulares, essa é sua chance de encarar um simples e divertido roguelike de sobrevivência nos consoles. Ele não impressiona em nada, mas cumpre muito bem o que promete, trazendo mecânicas simples e um fator replay bem alto. Só vá se preparando para algumas sessões de fisioterapia, pois descer 100 lances de escada não é pra qualquer um.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024