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Sludge Life traz um mundo no qual tudo que se vê, fora os prédios e logos de grandes corporações, é um grande amontoado de gosma e sujeira. Assim, o que nos resta é se revoltar com essa vida praticamente condenada. No entanto, o combate armado está totalmente fora de questão, restando apenas uma batalha ideológica marginal. É assim que Sludge Life transmite sua mensagem, através do grafite “urbano”, no qual o principal objetivo é marcar território, fazendo com que sua Tag seja mais vista e reconhecida do que a de grandes corporações.

Com sua narrativa nada ortodoxa, acompanhamos nosso protagonista Ghost marcando todo e qualquer lugar possível da cidade. Seja escalando torres de contêineres, ou conversando com os esquisitões que também habitam a ilha. Sludge Life oferece de tudo para todos.

Grown Man Sport

Sludge Life tem como objetivo primário dar uma “ideia” de como é ser um grafiteiro. Escalar locais de difícil acesso para deixar sua marca é algo digno de habilidade, tanto física quanto mental, e o mesmo vale para a arte do grafite como pintura. Sludge Life nos apresenta esse local absurdo onde seres esquisitões vagueiam, alguns deles agressivos, outros idiotas e outros são cobras dentro do vaso sanitário. No entanto, apenas alguns são realmente importantes para a progressão da história.

Imagem do review de Sludge Life
Estilo é a palavra-chave para descrever o game.

Em grande parte, eles apenas estão vivendo sua vida suburbana – se é que podemos chamar assim -, contando os dias até que tudo mude, se é que vai mudar. Por outro lado, os outros grafiteiros da cidade estão à toda, alguns são amigáveis e outros desejariam jamais ter que interagir contigo. Mas com o tempo, até mesmo eles irão apreciar sua habilidade e vão aceitar um combo com Ghost, geralmente em outdoors da Glug, criando artes incríveis.

Enquanto vasculha essa estranha e poluída ilhota, além de explorar locais pouco convencionais, você é exposto a uma gama de “estereótipos” da vida suburbana norte americana. Breakdancers logo na entrada de um condomínio, fast food como algo pertencente do local, e uma quadra comunitária vazia e vandalizada. Claro que é uma visão potencializada criada por Sludge Life, mas ainda assim consegue muito bem explorar essa visão estereotipada de um bairro de baixa renda americano.

Arte subversiva

Uma vez que tenha se acostumado com os controles ao estilo FPS, o jogador deve explorar os prédios, parapeitos, janelas, sacadas e qualquer lugar que possa alcançar. Isso porque um dos objetivos do jogo é conseguir marcar todos os lugares onde aparece uma lata de spray. A cada 20 Tags novas, o jogador recebe um pedido de “colab” de outro grafiteiro, e uma surpresa caso consiga marcar todos os locais. Com mais de um final, o game possui caminhos adicionais a serem explorados.

Imagem do review de Sludge Life
Parece que o peso corporativo afetou o Ciggy.

Existem, ao todo, quatro itens no mundo de Sludge Life, e todos eles serão úteis em partes diferentes do jogo. Mas fora eles, é possível ainda encontrar outros tipos de itens, como programas para seu notebook/menu de pausa. Tal como o jogo Crypt Creeper, afinal nada melhor que jogar um jogo dentro de outro enquanto ouve o álbum do rapper Big Mud com suas rimas em “inglês”, já que ninguém fora da ilha fala “Sluguês”.

Caso esteja perdido ou precisando voltar para um local muito longe, isso é facilitado já que muitos locais possuem teletransportadores, que podem levá-lo a locais já descobertos pela ilha. A grande sacada de Sludge Life é a exploração livre e total, e utilizando sua câmera pelo mundo é possível ver os locais que podem ser grafitados. Caso ache alguns cogumelos Zoom, é possível ter uma experiência extracorpórea, sendo possível ver ainda mais. Para curar da ressaca, basta procurar uma cerveja Glug e acender um cigarrinho Ciggy, para passar a bad.

Imagem do review de Sludge Life
A arte sempre será maior que o dinheiro.

Com um estilo de arte bem simples, Sludge Life acaba chamando atenção, com personagens que parecem ter saído diretamente de uma capa de disco de rap. Artes como as presentes nos álbuns de MF Doom e Captain Murphy preenchem o mundo. No entanto, a cultura do grafite também influenciou diretamente o design de cada ser e estrutura aqui presente, além da trilha sonora de ponta, contando com beats suaves e melódicos que deixam o jogo ainda mais divertido e tranquilo de se jogar.

Sludge Life é uma mistura pouco convencional e ousada, mas isso é o que o torna ainda mais interessante. Ainda assim, o jogo se mostra bem curto e com um pouco número de formas a serem expostas, sendo sempre o mesmo fantasminha verde. Acredito eu que este seja o maior problema de Sludge Life, a pouca diversidade em artes em geral no game.  No restante, Sludge Life é um jogo bem divertido e interessante, com uma abordagem atípica para o gênero.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024