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“⁠Não cabe amizade onde há crueldade, onde há deslealdade, onde há injustiça. Quando os maus se reúnem, fazem-no para conspirar, não para travarem amizades. Não são amigos, são cúmplices.”

Etienne de La Boétie – Discurso da Servidão Voluntária

É inegável que os RPGs de mesa servem de inspiração para muitos jogos eletrônicos. Mesmo em gêneros que destoam bastante do estilo, muitas mecânicas são recicladas de aventuras como Dungeons and Dragons e Shadowrun. Além da influência natural no mundo dos jogos eletrônicos, existem alguns títulos que buscam dar um passo além e emular completamente a experiência de jogar um RPG com um grupo de amigos. Solasta: Crown of the Magister busca, assim como outros títulos, transportar o universo das aventuras narrativas para a sua tela, mas de uma maneira mais completa.

Muito similar a títulos como Baldur’s Gate e Divinity: Original Sin, Solasta: Crown of the Magister tem todos os elementos que esperamos de um RPG: muitas opções de personalização e uma narrativa envolvente. É claro que os jogos citados anteriormente também possuem essas características, mas o que faz desse um título tão interessante?

Alea jacta est

Por já ter jogado as franquias Wasteland e Divinity, eu já havia imaginado o que iria encontrar por aqui. Contudo, todas as minhas expectativas foram expandidas a partir do momento que entrei na tela de criação dos personagens.

O processo de criação de personagens é bem detalhado.

Posso dizer que Solasta: Crown of the Magister tem o melhor esquema de personalização que já vi em um RPG moderno. A experiência é, de fato, bem similar a de um RPG de mesa, onde as classes possuem peculiaridades e subdivisões. Até mesmo o processo de decidir seus atributos ocorre por meio de dados.

Além das classes e dos atributos, há um foco na personalidade dos seus heróis. Caso você queira que seu personagem tenha uma formação acadêmica na escola de magos, por exemplo, automaticamente o jogo entenderá que a linguagem dele será mais erudita. Por outro lado, caso o seu personagem tenha sido criado e forjado na batalha, seu linguajar será bem mais casual. Parecem mecânicas simples, mas, no decorrer do jogo, as diferentes formas de comunicação podem mudar completamente o rumo de uma missão.

Diz-me com quem tu andas…

Todo mundo que tenha tido o mínimo contato com RPGs já sabe bem as principais classes do estilo. Por ser ambientado em uma época que lembra bastante a Idade Média, Solasta: Crown of the Magister possui muitos desses clichês já consagrados no estilo.

Entretanto, mesmo com o padrão de mago, guerreiro e ladino, as subclasses adicionam uma profundidade enorme, tanto no combate quanto na narrativa. Durante as cenas interativas, toda a fala dos personagens será pautada na sua personalidade, algo está inerentemente ligado à sua raça, classe, formação e outros atributos.

As diferentes classes devem ter uma boa sinergia durante as batalhas.

É interessante notar como personagens que tiveram uma educação formal, por exemplo, podem utilizar seu conhecimento para descobrir características de um local. Todas essas ações especiais também usam o esquema de dados, onde o seu sucesso é determinado pela sorte.

Às armas!

Um grande elemento dos RPGs em turno é justamente o combate. A exemplo de títulos como Divinity: Original Sin, Solasta: Crown of the Magister deixa o jogador explorar diversas possibilidades durante os conflitos.

Misturando diversas classes, o jogo não esconde os elementos que envolvem a parte de regra e lançamento de dados. A sensação é realmente muito próxima de se jogar um RPG de mesa, já que praticamente todas as ações são decididas pelos dados, sendo que esses possuem uma representação gráfica no jogo. Para aumentar a imersão, é possível até mesmo personalizar a cor e o estilo dos dados de acordo com a habilidade usada.

Para aumentar a dificuldade dos combates, o fator iluminação é adicionado ao jogo. Lutar em lugares sem iluminação acarreta uma grande desvantagem ao jogador, o que torna necessário achar lâmpadas a fim de conseguir maior precisão nos golpes.

Lugares escuros acarretam penalidades de acerto.

A variedade de ataques e poderes também se faz presente. Magos só podem memorizar e lançar um certo número de habilidades durante um determinado tempo. Após todas as magias se esgotarem, é necessário um período de descanso para ser capaz de utilizá-las novamente.

Além do componente mágico, outras habilidades podem ser inerentes à classe dos seus personagens. Há uma infinidade de poderes que não são necessariamente magias normais, mas sim elementos que o personagem poderá usar sem penalidade alguma no combate. Descobrir poderes novos a cada novo nível deixa a experiência muito mais cativante.

Um concorrente de peso

Solasta: Crown of the Magister é um projeto ambicioso. A implementação das mecânicas de D&D tornam esse um dos RPGs mais fiéis ao pai do estilo. Contudo, a dificuldade e a complexidade das regras podem deixar iniciantes do gênero perdidos, mas nada que não se resolva com um pouco de leitura e paciência.

Os grandes CRPGs possuem um concorrente que, apesar das limitações técnicas, expande as perspectivas de combate e narrativa. Apesar dos gráficos, Solasta: Crown of the Magister é excelente em sua proposta, garantindo horas e horas de diversão. Se você é fã de RPG, esse é, sem dúvidas, um título obrigatório.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024