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Não há palavras suficientes no dicionário para descrever o quanto amaldiçoei Spelunky 2. Nas minhas centenas de mortes, eu sei porque o jogo faz questão de apontar o quanto eu era insistente após alcançar a incrível marca, experimentei toda a frustração e agonia de ver o quanto era ruim no jogo. Desculpem o palavreado informal, mas mano, é um absurdo. E sabe o que é pior? É divertido demais.

Cada morte que passava não me dava a sensação que aquilo era impossível. Bastava descer uns andares e entrar numa porta. E olha que nem é tão longe assim. Porém, ele me mostrava a cada rodada o quanto eu estava distraído, ruim de cálculo, que não observei direito ou coisas do gênero. Aí você, sabendo o quanto cada fase pode levar segundos, se pergunta “por que não?” e segue novamente para outra aventura. Mesmo que ela termine no mesmo lugar que a anterior.

Não desanime com a morte

Spelunky 2, seguindo o modelo do primeiro game, é um roguelite que produz os cenários de forma procedural e seu único objetivo é sobreviver enquanto passa pelas fases. Morrer significa voltar ao início de tudo e refazer todo seu caminho. É a melhor definição que podíamos limitar aqui e dizer o quanto ele cumpre o seu papel de forma perfeita. Ele pega tudo que o primeiro jogo acertou e torna proporções maiores, deixando tudo ainda mais divertido. Pena que também deixaram tudo mais difícil também.

Mas, apesar da mágoa, não achem que isso me desanimou no título não. As várias mortes me fizeram aprender muito mais como ele funciona do que várias coisas que tinha lido sobre ele antes do lançamento. Dando um verdadeiro show de level design e de elementos, o game é uma verdadeira aula sobre os jogos eletrônicos e em como a sua reação é o único elemento que define a vitória ou derrota.

Imagem do review de Spelunky 2
Aula número 1 de sobrevivência, cuidado com as bombas.

Para começar, todas as armadilhas daqui funcionam de forma igual a todos os fatores do ambiente. Se você passa na frente de um totem, levará uma flechada. Se um morcego controlado pela inteligência artificial passar, ele receberá também. Se um dos seres que vivem escondidos na lua sair correndo e cair de uma altura considerável, ele vai se esborrachar. Já te aviso que você também. Chão com espinhos, criaturas escondidas abaixo da terra, maldições agem do mesmo modo e isso, pessoalmente, achei incrível. E engraçado também, diga-se de passagem.

Além disso, o jogador tem uma liberdade impressionante. Posso afirmar que passará horas e você ainda não terá a menor noção de tudo que Spelunky 2 pode fazer. Pegue algo da loja in-game e não pague, para ver o dono metendo a espingarda goela abaixo. Ouse roubar um peru do seu dono e tenho certeza que será bem difícil sobreviver também. Tudo que enxerga tem algum tipo de interação e, quanto mais descobrir, mais aquilo tudo entrará na sua equação.

Imagem do review de Spelunky 2
Roubar resulta em morte, nem adianta tentar ser esperto.

Falando em equação, desde a prova do ENEM que eu não me sentia tão matematicamente testado. Não sei se alguém lembra do desenho Action Man, que passava nos anos 2000 na TV Globinho, mas o protagonista tinha uma habilidade que tudo ao seu redor parava e ele calculava cada fator para agir numa sequência maneira e vencer os desafios. Aqui isso rola o tempo todo. Você não pode errar, um passo em falso e você é jogado para o início de tudo.

E o pior é que não estou brincando, a cada caminhada você tem de observar tudo e tomar uma ação que traga a menor quantidade de dano possível ao seu personagem. Isso considerando que tem apenas quatro corações para passar por todo o jogo. Obviamente pode conseguir ou recuperar depois, o problema é chegar lá. Os recursos também são escassos, mas que podem ser obtidos novamente através da grana que acumula enquanto explora.

Imagem do review de Spelunky 2
O jogo já é difícil, agora imagina no escuro…

Spelunky 2 não é injusto

Aí você pensa “Ah, o Diego que é noob. Spelunky 2 não deve ser tão complicado assim”. Meus amigos e amigas, ele só não é mais complicado porque a maioria do tempo eu estava jogando sozinho. O multiplayer local torna as coisas ainda mais difíceis para até quatro pessoas e, se já é difícil encontrar um gênio que consiga fazer tudo até o grande final, imagine dois ou mais. É este nível de maldade que os produtores criaram para o título.

A melhor parte de tudo é sentir que não está sendo injustiçado. Quem já jogou de tudo sabe, alguns jogos te matam por algum bug ou uma deficiência daquele sistema. Aqui, falo com propriedade, você nunca sente que morreu por culpa do game. Isso pode te fazer sentir pior, já que a culpa inevitavelmente será sua, mas são coisas tão bobas que duvido que não acabe dando mais uma chance logo em seguida.

Imagem do review de Spelunky 2
Não se engane pela fofura, aqui a coisa é macabra.

Ele, para mim, só é comparável com Dark Souls. Apenas o seu melhor vai te tornar um campeão por aqui. Um descuido vai trazer o fracasso. Simples assim. E a comparação não termina na dificuldade, caso tenha paciência, a lore do universo do jogo é tão rica que é capaz de não conseguir explorar tudo que é possível para descobrir as nuances que se escondem dentro dali. Mesmo parecendo infantil, admito que há elementos sinistros até demais no meio, coisa que esperava de um Silent Hill ou The Evil Within por exemplo.

Para os mais curiosos, Spelunky 2 também reserva para si um bestiário, itens obtidos e uma lista de personagens que encontra no caminho. Assim pode saber mais daquele universo e dos inimigos que encontra no caminho. E é bom você dar uma olhada de vez em quando, às vezes há informações valiosíssimas ali que vão te poupar de uma morte ou outra durante o trajeto.

Imagem do review de Spelunky 2
O bestiário pode te ajudar bastante, se souber onde buscar.

Para quem está lendo até aqui, deve achar que odiei a experiência. Não me chamem de masoquista, mas muito pelo contrário. Curti muito, ri demais e mesmo morrendo bastante, eu ainda estou engajado em descobrir os mistérios que o jogo esconde. O único fator negativo que aponto aqui, que é minúsculo, é que esse tipo de jogo é extremamente hostil com iniciantes e, se você não curte o gênero, passe longe. Além de não passar a gostar, pelo contrário você odiará.

De resto, se você curtiu o primeiro jogo ou é fã de roguelites, Spelunky 2 se torna a experiência definitiva na atual geração. Aumentando tudo visto antes de forma perfeita, o time da Blitworks e da Mossmouth acertou em cheio e criou a obra-prima da carreira de ambas as empresas. Com muita agilidade e exigindo o máximo de si, não se arrependerá nem por um momento de começar essa nova jornada.

Imagem do review de Dicefolk

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