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Stranger Things está na moda, mas não dá pra negar que é uma moda boa demais para ser ignorada. Bebendo da fonte de grandes filmes de aventura e terror das décadas de 1970 e 1980, a série original do Netflix conta a história de quatro meninos que vivem em uma cidadezinha esquecida dos Estados Unidos e passam a testemunhar acontecimentos bem esquisitos por lá – coisas como menininhas com poderes telecinéticos, monstros devoradores de gente e a existência de um reflexo sombrio do nosso mundo.

Enfim, se você está lendo este texto, muito provavelmente já sabe muito bem o que é Stranger Things e recusa qualquer explicação. No dia 4 de julho aconteceram muitas coisas: não só foi o Dia da Independência dos Estados Unidos como também aconteceu o lançamento da terceira temporada da série e da sua adaptação para os videogames!

O jogo foi produzido pela BonusXP, que também desenvolveu a adaptação do game da primeira temporada (exclusivo de mobile). Ele recria os eventos dos episódios mais frescos com uma fórmula totalmente retrô, seguindo a mesma vibe da série. Será que honra o legado desse sucesso do Netflix ou é apenas uma tentativa descarada de arrancar dinheiro dos fãs?

Os Demogorgons comeram meus vizinhos

O jogo aborda de cabo a rabo toda a terceira temporada, então se você ainda não assistiu, nem pense em começar a jogar até terminar tudo. Todas as missões, diálogos e cutscenes são inspiradas em cenas e momentos da série – é claro que de uma maneira muito mais limitada, afinal o jogo tem um visual pixelado inspirado na era 16-bit, mas ainda assim com spoilers descarados.

À primeira instância, o game lembra muito Zombies Ate My Neighbors e Ghoul Patrol, dois clássicos da LucasArts que até possuem algumas semelhanças com a série. Esses jogos se baseiam em explorar cenários bem grandes em visão isométrica, coletando armas e matando vários monstros e criaturas retiradas de filmes de terror.

Dustin pode usar seu laquê de cabelo para intoxicar geral.

Em Stranger Things 3, você pode controlar quase o elenco inteiro, mas não todos de uma vez. Você começa somente com Mike e Lucas e deve progredir na história para ir liberando os outros. Cada um possui seu próprio estilo de combate e um ataque especial, o que os tornam realmente únicos e úteis ao seu próprio modo. Alguns ainda possuem habilidades exclusivas que dão acesso à novas áreas no mapa, então muitos locais secretos só ficam acessíveis bem tarde no jogo, quando você libera alguns personagens chave.

Você sempre será acompanhado por dois personagens, um que você controla e outro controlado pela IA do jogo. Esses BOTs não costumam ajudar muito, mas conseguem atrapalhar bastante quando você só quer seguir até o objetivo sem parar para enfrentar os inimigos. Eles tem uma péssima mania de sair no soco com qualquer coisa hostil, mas quando um personagem está sendo controlado pela IA, seus ataques ficam muito menos poderosos do que quando estão sob seu comando (o que é uma forma de impedir que os BOTs facilitem demais as coisas), ou seja: eles ficam presos e cercados por inimigos com muita facilidade, te obrigando a ir ajudá-los.

Jogar em co-op local é a melhor solução para evitar esse problema dos BOTs, mas o modo como fizeram o splitscreen poderia ser melhor. A tela é dividida o tempo inteiro e não se mescla quando os dois personagens estão próximos demais, o que não faz muito sentido. Mas ao menos existe a opção de jogar com um amigo, o que já é bem legal.

Eleven é uma das personagens mais OP do jogo.

Our never ending story

O jogo funciona a base de missões, deixando o jogador livre para explorar todos os mapas livremente a hora que quiser (é quase um mundo aberto). Dividido em oito capítulos, cada um recria os fatos de um episódio, então é tudo bem fiel a produção e com certeza quem assistiu vai gostar bastante de jogar.

Os cenários estão fiéis e bem reproduzidos aos presentes na série. É bem legal poder visitar locais como o shopping, o Laboratório Hawkins, a festa do 4 de Julho e por aí vai. Porém, uma coisa que com certeza vai incomodar em algum momento é a trilha sonora. As músicas não são ruins e também são carregadas daquele synthpop místico que é bem característico de Stranger Things, mas elas se repetem demais! Eu estaria chutando bem alto se afirmasse que o jogo tem umas cinco faixas diferentes, chegando um momento que fica simplesmente maçante continuar ouvindo a mesma música em todo lugar que você vai.

Mete a tesoura nessa véia!

Apesar de ser legal acompanhar todos os principais momentos da série, o jogo parece se estender demais e chega uma hora que acaba ficando cansativo. Ele sempre segue uma rotina de explorar dungeons repletas de inimigos e resolver puzzles. Os puzzles são bem feitos e criativos, então não tem do que reclamar, mas as dungeons acabam sendo meio desanimadoras, pois o combate é muito desbalanceado e se torna chato rapidamente. Os inimigos quase sempre usam o mesmo ataque e demoram muito para morrer, além de abarrotarem as salas, te impedindo de esquivar ou fugir.

O maior defeito do jogo é o quão fácil você enrosca nas coisas. Se ficar próximo demais de um inimigo, fica preso; se ficar próximo demais da quina da parede, fica preso. Tudo prende seu personagem neste game, parece que existem barreiras invisíveis em tudo e, além de atrapalhar, irrita bastante.

Mas nem só de dungeons e puzzles é feito Stranger Things 3 e você também poderá partir em uma caçada à gnomos e bancar o bom samaritano, fazendo sidequests para os cidadões de Hawkins. Os gnomos são os colecionáveis que retornam do primeiro game e vale a pena procurar todos apenas pelas grandes referências que cada um deles carrega à personagens da cultura pop. As sidequests são legais para quebrar um pouco a rotina e receber recompensas como dinheiro e artefatos que te garantem atributos especiais.

Ninguém segura essa dupla!

A campanha dura em média oito horas para quem buscar fazer tudo no jogo e, para os apressados, em três horas já é possível concluir a história. Ao zerar você libera o modo Eliminador, onde poderá rejogar tudo com um desafio extra: morte definitiva para os personagens. Se você perder alguém no meio do caminho, terá que continuar com os que sobrarem, tentando chegar até o final sem perder todos. É um modo bem legal que acrescenta uma boa dificuldade e tensão ao gameplay.

Stranger Things 3: The Game é uma adaptação honesta da terceira temporada da série, mas não esperem um jogo absurdo que oferece uma experiência inesquecível. Ele é simpático e divertido, nada mais. Para quem já terminou de assistir e está buscando mais conteúdo de Stranger Things para consumir, essa é uma boa opção para diminuir a espera até o lançamento da quarta temporada. Agora resta a dúvida: onde foi parar o jogo da segunda temporada?

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024