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Uma menina que nunca viu o Verão acorda no meio da neve e toma uma decisão que irá alterar sua vida e conduzir esse jogo: caminhar até terras ensolaradas e conhecer o Verão, não importando a distância ou os percalços em seu caminho.

É claro que a pé ela não irá muito longe e logo entra em cena a principal mecânica do jogo: um carro improvisado de madeira, que quebra ao longo da jornada diversas vezes. Porém, esse não é um jogo sobre corridas ou obstáculos. Summer Catchers é sobre os amigos que fazemos pela travessia.

Pé na estrada

À primeira vista, no exato momento em que você coloca o pé na estrada e precisa reagir aos empecilhos que brotam pelo caminho, você jura de pés juntos que esse título é um “runner”. O gênero (ou subgênero, depende de para quem você pergunta) ganhou fama (ou má fama) nos dispositivos móveis como um passatempo casual para a fila do banco ou o ponto de ônibus. São aqueles jogos onde você corre sem propósito ou história, desviando de muretas, pulando por cima de buracos, passando por baixo de galhos baixos, esse tipo de coisa. Títulos populares como Temple Run ou Subway Surfers venderam como água e até a aventureira Lara Croft aproveitou a onda e deu suas corridas com Relic Runner.

Summer Catchers
GENTE!

Entretanto, “runner” não é o nome exato do gênero (ou subgênero, depende de sua má vontade). O nome correto é “infinite runner”, porque não importa o que faça, o quão bom você seja, quantas filas de banco ou pontos de ônibus você gastou com esse jogo, ele nunca terá fim. Seu personagem nunca terá descanso e tudo que você faz é superar a si mesmo, acumular prêmios marotos na forma de personagens desbloqueáveis e, eventualmente, gastar dinheiro real para ganhar mais tempo ou vantagens.

O título de estreia dos quatro desenvolvedores que formam a FaceIT não é eterno, posto que é chama, mas é infinito apenas enquanto dura, com o perdão do poeta. Nossa menina tem um propósito, tem uma história e sua jornada tem um final. Summer Catchers se apropria das mecânicas de um gênero (ou subgênero, enfim, você entendeu) para contar uma fábula que remete a “Gravity Falls” ou “O Segredo Além do Jardim”, misturando elementos modernos com personagens fantásticos e carisma.

Mais do que colecionar poderes que podem ajudar a contornar os obstáculos na estrada, a nossa heroína está colecionando amigos. A cada zona desbravada, ela está mais próxima do Verão, atravessando planícies assoladas por tornados ou florestas sombrias, mas também vai conversando e conquistando seus habitantes. A dinâmica é sempre a mesma a cada região: um simpático e exótico habitante desse mundo mágico ajuda a menina com conselhos e consertos gratuitos para seu veículo, em troca de favores simples que tornam a região melhor para todos. Os diálogos são afiados e divertidos em forma de texto, enquanto os personagens na tela emitem sons fofíssimos e nossa imaginação vai lhes dando vozes reais.

Summer Catchers
Lobo Mau!? Não, muito pelo contrário!

Esse foco na amizade e na viagem em si, ao invés de uma fixação no destino, é evidenciado nas caixas postais que ela também encontra nesses pontos de parada. Em cada uma delas é possível enviar e receber cartas tradicionais daqueles com quem ela já cruzou o caminho, mantendo contato através do jogo. É um toque delicado em um jogo que transborda carisma. Além disso, nosso diário de viajante acumula fotografias dos momentos mais marcantes de cada zona e é possível adquirir cartões postais dos pontos turísticos. Outros itens servem de souvenirs para a jornada e vão se acumulando em sua mochila, assim como animais de estimação que passam a acompanhá-la rumo ao Verão.

A trilha sonora acompanha a proposta e completa o tripé quase “hipster” do jogo: gráficos em arte pixel, personagens descolados e música elegante. Summer Catchers é um título para relaxar e refletir sobre essa grande estrada da vida em que todos estamos e pensar nas pessoas legais que fazem parte dessa travessia.

Corra, quebre, repita

A aleatoriedade pesa na hora em que Summer Catchers respira fundo e decide ser um “jogo de verdade” e isso pode incomodar ou frustrar alguns jogadores. Cada tentativa de se cumprir as missões ou escapar de uma região (fugindo do que poderia ser chamado de um chefe de fase) significa uma seleção randômica de habilidades e uma seleção igualmente randômica de obstáculos. Utilizar a ferramenta correta na hora certa exige reflexos e entendimento das mecânicas do jogo, mas também significa ter a ferramenta correta disponível na hora certa, o que nem sempre acontece. Montar sua seleção é possível, mas é como um card game: nem sempre você tem à mão a carta que necessita.

Summer Catchers
Não use isso na sua bebida

Em contrapartida, mesmo que a sorte te sorria e você tenha todos os power-ups alinhados para usar na hora certa e contornar tudo que aparecer, ainda assim eles são finitos, mas a pista não. Os obstáculos continuarão a aparecer e você irá falhar, a menos que esteja saindo da região de vez.

Então, você irá correr até onde conseguir ir (o veículo suporta um número limitado de impactos), quebrar, voltar a pé arrastando o carro, comprar uma nova seleção de ferramentas, tentar de novo. E de novo. E de novo. E de novo…

Summer Catchers
Vai dar ruim…

Felizmente, Summer Catchers não é tão cansativo quanto um “infinite runner” real e bem menos agressivo na necessidade de repetir corridas. Primeiro, porque o jogo possui diferentes níveis de dificuldade, incluindo um dedicado àquele pessoal que deseja apenas curtir a história. Segundo, porque, ao contrário do gênero em que se inspira, Summer Catchers não se limita a corridas e diversos mini-jogos aparecem pelo caminho para testar outras habilidades de seu jogador. Terceiro, porque há uma grande variedade de cenários criativos, obstáculos inusitados, diálogos diferenciados e animações surpreendentes entremeados com a repetição: a receita da jogabilidade pode se tornar óbvia depois de um tempo, mas nunca seus ingredientes. Ainda assim, acredito que o jogo se beneficiaria se fosse uma ou duas zonas mais curto.

É impossível não se apaixonar por Summer Catchers e torcer para que a menina chegue no Verão, mesmo que isso signifique realizar dezenas, centenas de corridas de olho nas ferramentas corretas.

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