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Arthur e seus bravos cavaleiros, lutando pela defesa da Bretanha contra os invasores saxões no final do século V da Era Comum. Épicos romances utópicos de cavalaria descrevem atos de virtudes cavalheirescas. O rei mais famoso da “Terra da Rainha” até hoje é citado como exemplo e herói, principalmente quando se trata de temas entre a história e o folclore. Mas em Sword Legacy: Omen esse conto tem uma virada inesperada. No jargão popularesco: virou Brasil.

Aqui acompanhamos a vida de Uther, um cavaleiro descrito pelo próprio jogo como decadente e perceptivelmente grosseiro. Seu acompanhante nesta jornada é Merlin, um feiticeiro mais para o lado da necromancia que qualquer outra coisa. E logo de cara percebemos o lindo futuro que isso terá: os dois se odeiam.

O Firecast Studio nos conta essa história em Sword Legacy: Omen, uma reimaginação dos contos arturianos com um toque considerável de distorção. Localizado no Rio de Janeiro, o estúdio escolheu uma abordagem que mistura momentos de visual novel com trechos narrados para vivenciarmos essa aventura. O gameplay fica por conta de um combate por turnos, que seria perfeito se não fosse a dificuldade instável.

Imagem do jogo Sword Legacy: Omen
Em todas as situações somos sempre surpreendidos. Isso já deixou de ser surpresa…

Um cavaleiro nada cavalheiro

Fui, logo de cara, surpreendido por uma maneira muito ríspida de se contar a história. Digo isso porque as primeiras falas de quase todos os personagens já continham uma dose considerável de agressão. Não digo isso de forma puritana ou como se algo do tipo me incomodasse, só não esperava que viesse uma pancada tão na cara como veio.

Passado o primeiro susto, me acostumei com um mundo onde todas as pessoas são absolutamente escrotas sem nenhuma necessidade, exceto por Duanne, o lanceiro. Duanne é uma fofura de pessoa, a ponto de irritante. Ninguém pode ser tão bom e honrado assim, ainda mais em um mundo desgraçado como esse! Bom… Acho que me deixei levar um pouco pelo ambiente do jogo.

A impressão que tenho é de que a narrativa é um pouco corrida, com as coisas acontecendo bem rápido e praticamente um personagem sendo adicionado a cada duas ou três missões. Isso pelo menos até a metade do jogo. Este fato é reforçado pela questão dos personagens todos conhecerem muito bem quem estamos indo atrás ou com quem buscamos falar, mas acaba que na maior parte do tempo nem me lembrei por que estamos correndo tanto. Atrás de quem estamos? Ou o que caralhos está acontecendo?!

Imagem do jogo Sword Legacy: Omen
Conheça o mapa de Broken Britannia.

Com isso dito, é de se ressaltar que vivenciar esse mundo que, por mais que os personagens contem sobre tempos melhores, parece ter sido sempre decadente é bem interessante. A ideia de distorcer contos clássicos para algo que parece ter saído da cabeça de um H.P. Lovecraft da vida sempre me fascina.

O universo é bem construído e sabemos mais dele procurando pelos cenários, mexendo e encontrando mais pistas, cartas e notas sobre o mundo. Poderia facilmente ser o alicerce para que a produtora reconte mais histórias conhecidas com esse viés sombrio.

Foi só um arranhão

Sendo um fascinado por jogos com combate por turnos (e não necessariamente alguém que é bom neles), acaba que o universo me traz vários deles para fazer reviews. Esclarecendo rapidamente, o combate não é o melhor que já experienciei. Admito que me irritou bastante no início para entender seu funcionamento e especificidades, principalmente por sentir muita falta de fluidez nas escolhas e movimentações.

Imagem do jogo Sword Legacy: Omen
A sensação é que o mundo todo é incompetente e nós somos os últimos.

Com o passar do tempo e um possível crescimento de uma Síndrome de Estocolmo, fui me afeiçoando cada vez mais à maneira singular com a qual o jogo funciona. Fazendo uma breve nota de rodapé que não fica no rodapé, Síndrome de Estocolmo é o nome normalmente dado a um estado psicológico particular em que uma pessoa, submetida a um tempo prolongado de intimidação, passa a ter simpatia e até mesmo de amor ou amizade perante o seu agressor. Certeza que vocês já se depararam com jogos que te frustram, te irritam, te fazem arrancar os cabelos, mas seu amor por eles acaba só crescendo (beijos Darkest Dungeon, seu lindo).

Com uma dificuldade estranha de compreender se está demais ou de menos, não consigo fazer um comentário sólido sobre a curva de dificuldade de Sword Legacy: Omen. Em diversos momentos me vi completamente incapaz de vencer os desafios apresentados. Logo após, me parecia que tudo estava fácil e simples demais. O curioso é que essa mudança acontecia depois que eu perdia um ou dois dos meus aventureiros.

Imagem do jogo Sword Legacy Omen
Depois dos homicídios, é hora da limpeza.

Mas minha principal crítica vai para um fator muito específico do jogo. Nos momentos de combate e exploração você lidera um grupo com até quatro aventureiros escolhidos no começo da missão. A cada maldita vez que você troca entre os personagens eles fazem algum som: “Hunf!”. “Hey!”. “Aoa!”. “Yha!”. “Yahoo!”. “EA Games, challenge everything!”. Chega uma hora que você fica completamente insano de tanto ouvir esses malditos gritando coisas sem sentido na sua cabeça!

Sword Legacy: Omen é um trabalho muito interessante. Acaba por não criar nada de novo na jogabilidade, mas faz suficientemente bem seu trabalho. O diferencial fica na história contada, com todos os pormenores já citados. Os personagens lembram os originais, mas possuem carisma e características muito próprias. Um produto final de boa qualidade e uma iniciativa nacional digna de aplausos – e que fique claro que não ganharam nenhum ponto por isso.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024