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Em plena geração de mundo aberto, com seus jogos intermináveis em que até mesmo Final Fantasy sacrificou sua narrativa em prol de DLCs e cenários gigantescos, a Bandai Namco foi na contramão e nos presenteou com uma história bem desenvolvida, personagens interessantes e bastante exploração, mesmo em cenários delimitados. Um ano após seu lançamento no Japão, Tales of Berseria chega ao ocidente surpreendendo por ser um RPG de ação que não víamos igual há anos.

O novo capítulo da série Tales of chegou conquistando ainda mais fãs, agora totalmente traduzido para o português. Após 16 títulos já lançados na Terra do Sol Nascente, a Bandai Namco confiou na evolução que a série alcançou e acertou ao ir em direção contrária aos RPGs mais recentes e até mesmo se diferenciando de todos os jogos da própria série, apostando numa história mais sombria e, pela primeira vez, com uma protagonista feminina.

Velvet Crowe e sua turma
Velvet Crowe e sua turma

Jogando um animê

Por mais que o jogo tenha saído inicialmente para PS3, a Bandai Namco conseguiu fazer um remaster (em pouco tempo) para que Tales of Berseria conseguisse acompanhar, de certa forma, os visuais exigidos para a nova geração. Em muitos momentos conseguimos captar a excelente qualidade gráfica quando estamos em um cenário arbóreo ou em uma cidade nevada, conseguindo até mesmo perceber detalhes ricos do cenário num rápido movimento de câmera.

Claro que tudo tem sua limitação. Afinal, as dungeons desse jogo são muito simples, repetitivas e, quando analisamos o visual, vemos sempre ambientes muito fechados. São corredores e mini-ambientes, independente dos cenários serem cavernas, prisões, masmorras ou florestas. Esses cenários sofrem também por não serem renderizados por completo, ocasionando em pausas para “loading”, mesmo que muito breves, entre uma área e outra.

Nada disso chega a atrapalhar a diversão, pois além do belíssimo visual, o jogo conta com muitas sequências em animê. São várias cutscenes entre um acontecimento importante e outro, além de diálogos animados (ativados opcionalmente pelo próprio jogador), que complementam significativamente o passado de cada personagem e o lore de Berseria.

Uma história de vingança e ódio

Nesse novo capítulo da série Tales of, nós acompanhamos a jornada de Velvet Crowe em busca de vingança contra Artorius Collbrande, um Exorcista do Império Sagrado de Midgand. Tudo isso após os acontecimentos iniciais envolvendo Velvet, seu irmão Laphicet e um período de três anos em Titania, uma prisão.

Até poderia ser One Piece, mas não é!
Até poderia ser One Piece, mas não é!

Velvet jurou caçar e consumir todos os Exorcistas, Malakim e todos que sucumbirem ao Daemonblight, uma misteriosa doença que transforma as pessoas em monstros. Consumir? Isso mesmo! Velvet deixa de ser uma aprendiz de exorcista para se tornar uma Therion, espécie de mutação demoníaca capaz de absorver outros Daemons.

Ela não estará sozinha nessa jornada, encontrando Rokurou, Magilou, Eleanor e três Malakim: Número 2, Eizen e Bienfu. O interessante desse grupo é, além da característica marcante de cada personagem, perceber o crescimento de cada um deles. Todos passam a explorar os seus passados, expondo para quem está jogando e servindo como artifício para enriquecer a história, dando força ao relacionamento deles como companheiros e não apenas um grupo.

Diálogos aleatórios durante o jogo ajudam bastante no desenvolvimento dos personagens
Diálogos aleatórios durante o jogo ajudam bastante no desenvolvimento dos personagens

O mérito da história está em brincar com a dicotomia entre emoção e razão que, por meio de reviravoltas na narrativa, passa a desconstruir elementos da história para surpreender o jogador e construir o caminho para o fim que seria digno de um filme hollywoodiano mediano, mas que a Bandai Bandai conseguiu transformar o que seria apenas clichê numa narrativa atrativa e viciante a ponto de nos prender a cada sequência animada.

Combate frenético e estratégico

O estilo de batalha que nasceu com os RPGs ocidentais se torna cada vez mais normal em títulos nipônicos. Em Tales of Berseria a maneira de combate livre combina com o movimentar dos personagens, com a interação com seus companheiros e na forma como seus poderes ou mutações contribuem para a finalização. Tudo muito bem amarrado e deixando até mesmo as batalhas como parte importante para a história, sem serem gratuitas para ganhar level ou aumentar o tempo de jogo.

A Bandai Bandai se preocupou em apresentar um refinamento surpreendente ao combinar a ação do combate livre de turnos e em tempo real com os ataques inimigos, explorando muito bem a configuração das habilidades e magias como elemento estratégico importantíssimo para os combates.

Campo de batalha frenético e tela limpa!
Campo de batalha frenético e tela limpa!

Dentro de todo combate, o importante é você saber quantas almas você possui para delimitar o número de ações, além de se concentrar em atordoar os inimigos para “roubar” ainda mais almas sem deixar que roubem as suas com golpes críticos. O mesmo vale para você tentar finalizar cada combate desferindo o último golpe, ganhando bônus equivalente ao maior combo executado e, dessa maneira, alcançando level maior com menos batalhas.

Claro que, para deixar as batalhas ainda mais incríveis, as animações das habilidades especiais surgem na hora certa para te salvar e preencher a tela com uma belíssima sequência visual, sempre acompanhado de uma boa trilha sonora.

Berseria, Zestiria e mais Tales of

“Esse é 16º jogo da série Tales of… Preciso jogar os outros?”. A resposta é: NÃO! Alguns jogos possuem ligações, mas nada que impeça você de começar por este e se empolgar em continuar pelo mundo que conhecemos em Tales of Berseria.

Tales of Zestiria: 500 anos depois de Berseria
Tales of Zestiria: 500 anos depois de Berseria

A Bandai Namco lançou em 2015 Tales of Zestiria, jogo que se passa 500 anos depois dos acontecimentos envolvendo Velvet e Artorius. Além disso, Tales of Zestiria X é um animê e também possui ligação direta com os dois games, tendo até mesmo a participação de Velvet. Todas essas ligações servem para enriquecer a narrativa e não amarrar o jogador fazendo-o consumir as demais histórias, mas sim complementar o lore de Wasteland, Gleenwood ou até mesmo as ilhas do arquipélago sob controle do Império Sagrado de Midgand.

Todo esse trabalho é resultado do talento do produtor Yasuhiro Fukaya, na série Tales of há 10 anos e mestre em trabalhar elementos transmídia. Não é à toa que essa é uma das séries mais consolidadas no Japão até hoje e sem perder sua força entre os fãs, além de conquistar novos jogadores a cada título lançado.

Contos de mais um game para sua coleção!

Não é por acaso que a Bandai Namco se preocupou em trazer esse lançamento para o Ocidente. Berseria nada mais é do que um jogo completo, desde sua história, personagens, visual até sua trilha sonora.

Pensado para ter uma estrutura próxima dos animês mais modernos, com cada capítulo sendo responsável por manter a atenção e o interesse do jogador, Tales of Berseria consegue ser um RPG que não deixa você descansar do início ao fim. Um jogo que merece sua atenção e que com certeza estará na sua coleção ao lado de outros jogos, afinal você sentirá aquela vontade de explorar mais jogos da série.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024