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Imaginem se Life is Strange e Dishonored tivessem um filho, e este fosse depois criado por Bioshock Infinite. O resultado seria semelhante ao de The Council, cujo primeiro episódio já está disponível. A descrição parece difícil de digerir? Vem cá que eu explico.

Peguem os diálogos interativos e a exploração na perspectiva “por cima do ombro” encontrados em Life is Strange. Adicionem a direção de arte, o sistema de habilidades e itens consumíveis de Dishonored. Por fim, confeitem isso com o passado distorcido e temas cabeça de Bioshock Infinite. Palmirinha ficaria orgulhosa!

Um convidado muito enxerido

O primeiro aspecto notável do game da Big Bad Wolf Studio é seu contexto histórico. Numa espécie de realidade alternativa (será mesmo?), há um conselho secreto que reúne diversas figuras importantes da política e da religião, assim como membros de outras sociedades secretas.

Nessa história, o jogador assume o papel de Louis Maras de Richet, membro da sociedade The Golden Order que vai à ilha de um misterioso lorde para descobrir o paradeiro de sua mãe, com a qual colaborava em investigações diretamente relacionadas a ocultismo. Lá, se depara com uma lista de convidados ilustres, entre eles George Washington e Napoleão Bonaparte.

Logo que chega na ilha, o jogador pode explorar objetos de interesse diversos, assim como engajar em diálogos ainda misteriosos. A ênfase na exploração também ajuda na imersão, como uma série de easter eggs envolvendo cartas lacradas que é um dos pontos altos desse início – essas que despontam nomes como Joaquim da Silva Xavier (incorretamente escrito ‘Mr. Joaquina”) e R. Galbraith, pseudônimo atual de J.K. Rowling.

O primeiro episódio, intitulado The Mad Ones, contém cinco capítulos de duração razoável e faz um bom trabalho de envolver o jogador em seu microcosmo, embora a história demore a engatar. O que mais chama a atenção na estrutura adotada são as possibilidades de experimentação, e estas são bastante satisfatórias. Isso, no entanto, não está apenas relacionado à qualidade do enredo.

Imagem do jogo The Council - Episode 1
A interação entre Louis e sua mãe é o bastante para dar motivação à busca

Orientação vocacional

Nos minutos iniciais da jogatina, The Council apresenta seu primeiro grande diferencial enquanto adventure: a escolha de três vocações diferentes. Bem implementado na história, o leque de opções inclui as classes Diplomata, Ocultista e Detetive. Cada uma delas possui suas vantagens, como habilidades especiais a serem usadas na exploração e oportunidades novas durante os diálogos. Claro, há um porém: ao escolher uma das classes, as habilidades das outras até podem ser adquiridas, porém a um custo maior de skill points (pontos de habilidade).

Tal variedade de estilos agrega muito ao valor de replay do episódio, que disponibiliza três slots de save, presumidamente um para cada classe. Ao terminá-lo uma primeira vez como Detetive, com percepção apurada de comportamentos e um dom para a interrogação, tentei a mão como Ocultista e já pude perceber possibilidades muito distintas, como por exemplo a habilidade de identificar membros de outras sociedades secretas sob um pseudônimo e também um domínio maior das ciências.

Bater boca nunca foi tão divertido

O segundo grande diferencial de The Council é um pelo qual prezo em games do tipo mas que raramente se dá nos diálogos: a sensação constante de risco. Esse sentimento surge na maneira como as conversas se desenrolam e também nos diversos detalhes que o jogador deve ter em mente. Desta vez, não só se deve ficar atento à “roda” no centro da tela, como também aos discretos trejeitos dos personagens e, mais importante ainda, os effort points (pontos de esforço) que restam a Louis.

Imagem do jogo The Council - Episode 1
Cuidado, encher a cara pode dar ruim

Mas o que são effort points (vou chamá-los de EP)? Estes funcionam como a barra de energia do jogador, que deve ser preenchida com o consumo de mel. Isso mesmo, mel. Cada ação ou fala conectada diretamente a uma habilidade especial tem seu custo de EP, que pode ser aliviado ao subir de nível.

Há também outros itens à disposição do jogador, caso este explore devidamente os cenários (que contam com uma direção de arte positivamente distrativa). Devil’s Thorn concede a habilidade de descobrir as imunidades e vulnerabilidades de cada personagem por um período de tempo, enquanto Carmelite Water permite o uso gratuito de uma habilidade em diálogo. Louis também pode ler livros a partir do início de cada capítulo, melhorando habilidades diferentes.

Por fim, também importante, é o Golden Elixir, que cura Louis de efeitos negativos sofridos após confrontos. Tais confrontos, então, funcionam como seções de combate, que priorizam astúcia sobre força bruta. Como o próprio jogo expressa, são momentos em que não se deve ser tímido no uso de cada habilidade, assim como exigem também a já mencionada exploração para a leitura de cartas e documentos pessoais que ajudem a convencer ou desestabilizar seu oponente. Cada confronto tem uma quantidade diferente de passos, e caso o jogador erre um deles, pode ter seu desempenho posterior diretamente afetado.

Imagem do jogo The Council - Episode 1
Um dos ótimos e tensos confrontos travados no primeiro episódio

Intenção que realmente vale

Como se pode perceber, The Council é inesperadamente complexo para um game de seu tipo. O estúdio Big Bad Wolf está de parabéns por dizer muito bem a que veio com seu jogo, assim como visaram um bom custo-benefício, fornecendo horas e horas de conteúdo caso o jogador faça replays. Ainda assim, há alguns aspectos a serem levados em conta.

Já que se trata de uma série ainda em seu início, não há como garantir que a jornada inteira valerá a pena. Além disso, quem espera animações faciais sofisticadas pode ficar decepcionado – sem mencionar a fraca dublagem do protagonista, que não está à altura das outras vozes do elenco. E como havia dito antes, a história demora a engatar, portanto este primeiro episódio pode parecer um bocado insatisfatório para quem quer se apaixonar logo de cara.

Também falta localização para o português brasileiro, e a verborragia de época tão vista em diálogos e textos do game pode ser um empecilho para o aproveitamento de quem não possui alguma fluência no inglês. Claro, localização não é algo que sai barato, principalmente para uma produtora menor como a Focus Home Interactive, mas espero que seja uma opção disponível futuramente.

Imagem do jogo The Council - Episode 1
Uma mansão vasta e cheia de mistérios

Ao todo, o episódio de estreia de The Council apresenta uma alternativa de peso para os jogos adventure narrativos, que há algum tempo carecem de alguma renovação. A história pode não contar com os momentos fofos ou a fantasia de Life is Strange e nem o senso de humor de Tales from the Borderlands, mas The Council ainda tem muito de novo e interessante a mostrar.

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