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Cá estamos. O game episódico The Council chegou ao seu fim, após passar cerca de nove meses intrigando e entediando em medidas iguais. A história do detetive / diplomata / ocultista Louis de Richet, que vai a uma misteriosa ilha à procura de sua mãe, demorou… e demorou… e demorou para alçar voo – mas será que o jogo da Big Bad Wolf finalmente conseguiu, mesmo que na reta final?

The Council, de início, era sustentado por um conceito interessante de jogabilidade, que pretendia reunir adventure narrativo e RPG. Havia grande promessa, então, na trama de conspiração estabelecida debaixo de seu gameplay, deixando a impressão de que aquela ilha cheia de gente suspeita seria um verdadeiro playground para os aficionados por resolver mistérios.

Porém os episódios vinham, e nada de muito novo era introduzido à fórmula. Um puzzle aqui, uma reviravolta ali – e problemas técnicos em todo lugar -, mas não dava pra sentir uma progressão satisfatória ao que foi estabelecido no primeiro capítulo. Foi apenas no quarto capítulo que a trama – e o jogo – abraçaram seu lado mais fantástico, realmente oculto, mas até essa mudança se deu de forma bem tímida.

Imagem do jogo The Council
Peças num tabuleiro.

Chegamos, então, ao quinto capítulo, Checkmate, que em tese deveria mergulhar nas possibilidades deixadas ao final do anterior como se não tivesse mais nada a perder, além do que restou do nosso interesse. Infelizmente, por mais que o novo episódio tenha seus acertos, acaba sofrendo por diversas outras razões, algumas individuais e outras relacionadas ao game inteiro.

Abrindo o tabuleiro

Começando pelos positivos, uma das grandes vantagens de Checkmate é chegar num momento em que a trama já está bastante delineada e todas as peças estão devidamente posicionadas no tabuleiro, oferecendo uma experiência mais direta. Outra vantagem fica por conta de sua jogabilidade expandida, que – SPOILERS – agora inclui os poderes demoníacos que Louis conquistou ao final do episódio anterior.

Outro ponto que vale ressaltar quanto a Checkmate é seu trabalho visual. Não me entendam mal: o game continua apresentando os mesmos problemas gráficos – serrilhados e glitches – e de performance – quedas de frame, loadings excessivos -, mas digamos que desta vez a Big Bad Wolf se permitiu viajar mais na concepção visual de suas ideias, visto que Louis deu de cara com questões metafísicas.

Imagem do jogo The Council
Esse quadro realmente salta aos olhos. 

Embora as animações também não sejam as melhores, os dois atos finais deste episódio tentam refrescar um pouco daquele visual repetitivo de antes com cenas fantasiosas, com manipulações do tempo e do espaço e algumas visões bastante surreais – com direito a Louis entrando e saindo de quadros, a la Super Mario 64 ou aquele episódio de Looney Tunes. Esse segundo ato, em especial, ainda faz bom uso da iluminação, com luzes coloridas e saturadas que remetem a um terror giallo.

Mas, novamente, as animações não são das melhores, e muitas dessas tentativas de adentrar o fantástico acabam caindo por terra. Sem dar muitos detalhes, mas aquele que deveria ser o grande embate final entre Louis e o vilão fica com cara de peça de teatro infantil – uma feita por crianças. Como se o orçamento de efeitos especiais tivesse acabado momentos antes, os personagens apontam as mãos uns pros outros dramaticamente, como se brincassem de jedi sem ter a força. Só faltou fazer sons com a boca.

Como o ponto final de uma narrativa ambiciosa, Checkmate também decepciona. Enquanto os capítulos anteriores se atinham a uma construção paciente que levava a um clímax ou reviravolta no final, o episódio final entrega reviravolta após reviravolta, às vezes sem qualquer peso ou seriedade. Quando um dos personagens-chave é encontrado morto, por exemplo, a reação de Louis e o restante do elenco poderia ser comparada com um simples “ah, tá”.

Minha exata reação ao final de The Council.

Já que há um excesso de viradas e ideias no final de temporada, tudo fica mal amarrado ao final, como se a ideia fosse dar continuidade em uma segunda temporada mas sem um gancho que instigue essa possibilidade. Todas as escolhas do jogador, inclusive, levam a uma frustrante sequência de letreiros que detalham o destino de cada um dos personagens, lidos por uma voz monótona que poderia muito bem ser a de um robô – ou do Google.

Maratona em passos de bebê

Entretanto, o grande problema de The Council, que pode ser sentido com ainda mais força aqui, continua sendo sua estrutura episódica. No caso, a segmentação do jogo em partes espalhadas através de meses é contraditória com sua ideia de imersão, na qual os jogadores deveriam passar um bom tempo investigando o cenário e lendo cada documento com atenção para se atentar a detalhes que serão importantes no futuro e fortalecer seu personagem.

Quando essa experiência é entregue de forma tão dispersa e bagunçada, com a quantidade de exploração variando radicalmente de um episódio para outro – apenas no quinto episódio é permitido explorar o cenário todo – e poucos recursos que ajudem o jogador a memorizar a localização de itens e personagens além de um fraco mapa, a imersão é quebrada e o tédio reina durante as muitas caminhadas sem rumo.

Imagem do jogo The Council
Olhe! É aquele corredor de novo!

Por outro lado, o formato repetitivo dos episódios provavelmente gerará tédio em uma jogatina direta, como um jogo completo. Batendo na mesma tecla de antes, Louis se move muito lentamente e o ambiente da mansão, por mais que tenha algumas vistas bacanas aqui e ali, é no geral desinteressante. Portanto, passear pelos mesmos corredores, de novo, de novo e de novo, acaba não sendo a coisa mais empolgante do mundo quando se quer resolver uma conspiração metafísica.

Peço desculpas se soei repetitivo nesses últimos meses, enquanto avaliei a primeira temporada de The Council. No entanto, é isso que o game é, repetitivo, inclusive em seus tropeços, aprendendo muito pouco a cada episódio. Ainda valorizo o esforço da Big Bad Wolf em oferecer uma experiência que atiçasse a inteligência e renovasse um pouco do formato adventure, mas a decepção é inegável. Torço para que o jovem estúdio execute melhor suas ideias da próxima.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024