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The Evil Within 2 é um dos jogos que eu mais aguardava este ano. E quando saiu, durante a semana da Brasil Game Show, dei um jeito de jogar entre dias intensos de trabalho e algumas horas beirando a madrugada – sempre com a luz apagada e fone de ouvido, claro! Mas só fui jogar pra valer, totalmente dedicado, depois do turbilhão da feira. Foram mais de 22 horas de pura tensão, sustos e muita satisfação.

Quando The Evil Within (2014) foi lançado, eu estava animado com o retorno de Shinji Mikami (o pai da franquia Resident Evil) e gostei demais do game, especialmente pela estética e criatividade. Não dá pra negar a semelhança com Resident Evil 4, o que inclusive não agradou todo mundo, mas creio que o principal “problema” do jogo esteja na história super complexa e densa – à moda dos japoneses. Conheço muita gente que boiou forte na história e não curtiu a experiência, além de uma parcela que foge de jogos assim por medo.

The Evil Within 2 não tem Shinji Mikami na direção, mas seu dedo na produção da Tango Gameworks garantiu mudanças relevantes. A sequência entrega uma história mais compreensível, oferece um mundo semiaberto para explorar e se inspira fortemente em The Last of Us e Silent Hill. O resultado é um jogo maior e muito mais acessível, porém é imprescindível que você tenha jogado o game original e DLCs para aproveitar ao máximo essa continuação.

Tem medo de jogos assim? Então é melhor correr mesmo.

De volta ao STEM

No game anterior, o detetive Sebastian Castellanos visita o hospital psiquiátrico Beacon, em Krimson City, para investigar um assassinato em massa. Após confrontos com criaturas bizarras e muita correria em situações pavorosas, Sebastian descobre estar conectado ao STEM, uma espécie de Matrix criada pela poderosa organização Mobius, capaz de unir as mentes das pessoas com uma só (chamada de núcleo). The Evil Within 2, que acontece três anos depois, abre com Sebastian se embebedando num bar enquanto lamenta o sumiço da esposa e a morte da filha Lily. Até então, o passado do protagonista nunca havia sido explorado a fundo.

Após muita procura, a detetive Juli Kidman encontra Sebastian no bar e lhe dá uma informação bombástica: sua filha está viva, conectada ao STEM como núcleo, mas desaparecida. Relutante contra a ideia de voltar ao STEM, ele acaba mudando de ideia quando Kidman informa que a própria Mobius perdeu o controle da situação e seus agentes da Alpha Team desapareceram no STEM. Pensando na filha, Sebastian aceita a missão e o pesadelo começa tudo de novo.

A aventura agora acontece em Union, uma pacata cidade que passa a desmoronar com a instabilidade do STEM. Partes inteiras da cidade flutuam no ar, em ângulos impossíveis, e imensos buracos dividem ruas impedindo a exploração completa – eis aqui a primeira inspiração em Silent Hill. A segunda vem com o rádio, usado para sintonizar sinais de ressonância e assim seguir para a missão principal e secundárias, como encontrar agentes caídos da Mobius e memórias residuais, que revelam eventos passados. E tem mais uma inspiração clara: os efeitos sonoros dos menus.

Uma das várias inspirações em Silent Hill.

Sobrevivendo em Union

The Evil Within 2 oferece um mundo semiaberto para explorar, embora alguns momentos – especialmente na segunda metade do game – levem à sequências lineares. Union possui o tamanho ideal para o jogador não se distrair, instigando a curiosidade na medida certa enquanto recompensa com itens importantes, revelações sobre os moradores da cidade e as atividades da Mobius. Outra novidade são as zonas seguras, destravadas ao encontrar ou salvar um agente. Além das opções de diálogo com eles, estas áreas possuem um computador que interliga pontos do mapa por um labirinto subterrâneo chamado Medula, uma bancada para criação e aprimoramento de armas, uma máquina para salvar o jogo, uma cafeteira (pra recuperar a saúde) e um espelho quebrado. Porém, diferente do primeiro jogo cujo a interação com o espelho o leva para uma ala do hospital psiquiátrico, desta vez você vai parar no escritório de Sebastian, no Departamento de Polícia de Krimson City. Os espelhos também podem ser encontrados em outras áreas do jogo, posicionados em lugares estratégicos.

No antigo ambiente de trabalho, Sebastian terá à sua disposição um mural com informações sobre os agentes desaparecidos e os vilões, um projetor pra conferir os slides que encontrar (cada slide revela mais detalhes sobre a família e traumas do protagonista), um gato (!), a bancada, a máquina de salvamento e, por fim, a famosa cadeira que o leva até a enfermeira Tatiana. É através dela, assim como no game anterior, que você aprimora suas habilidades: saúde, atletismo, combate, furtividade e recuperação. Basta juntar gel verde ao eliminar os inimigos e usar nas habilidades que você preferir. Eu, particularmente, sugiro gastar tudo primeiro em furtividade. Não há nada melhor que matar os inimigos sem gastar sua valiosa munição.

Aprimore primeiro as habilidades de furtividade para não sofrer depois.

O gel vermelho também continua presente, usado para destravar as habilidades mais avançadas, bem como o armário onde você gasta as chaves (encontradas dentro de santinhas de gesso) para abrir portas contendo itens extras. Por fim, após alguns capítulos, uma nova porta aparecerá na delegacia permitindo participar de dois minigames: um de tiro ao alvo, com cinco níveis de dificuldade, e um outro de quebra-cabeça com alvos coloridos, ampulheta de tempo etc. Estes desafios também dão itens extras a cada recorde alcançado, como chave pro armário e gel verde em grande quantidade.

Quanto às armas, o jogo oferece variações de pistolas e escopetas, um rifle, uma metralhadora e a famosa besta Agony, agora com apenas cinco tipos diferentes de virote (arpão, congelante, explosivo, de choque e de fumaça). O virote de fumaça entrou no lugar do virote de flash, antes usado para cegar os inimigos, e os virotes de veneno e incendiário (acessíveis pra quem fez a pré-compra na época) não existem mais. A granada de mão, o lança-míssil e o soco inglês também foram excluídos, dando espaço à uma única novidade no arsenal: o lança-chamas, obtido próximo do final do game. Para aprimorar as armas, você usa peças encontradas nos cenários para melhorar as armas em quatro características: poder de fogo, tempo de recarga, capacidade de munição e cadência de tiros. Assim como as habilidades, gaste seus recursos nas armas que mais utiliza. A bancada também exige peças de alto nível para destravar as melhorias mais avançadas.

Peças de armas dão trabalho de achar, portanto gaste com cautela.

O fotógrafo, o padre e suas criaturas

Vamos à melhor parte do game: os inimigos e vilões. Os primeiros inimigos são chamados de Os Perdidos; são pessoas que se transformaram em criaturas purulentas e furiosas (muito parecidas com os Infectados de The Last of Us), que além de rápidas possuem uma boa inteligência artificial. Aliás, o jogo conta com um medidor de visibilidade que informa ao jogador (através de um olho na tela) se o inimigo está te vendo ou te procurando. Ao ser avistado, você pode correr e se esconder em algum lugar até ele desistir de procurar. Desta forma, o jogo garante boas táticas de furtividade para matar os inimigos com uma facada só, seja pelas costas ou quando desbloquear a habilidade de matar enquanto estiver de costas pra parede, por exemplo.

Há uma variação dos Perdidos chamada Histérica, uma mulher vestida de branco que mete medo em qualquer jogador, além de ser mais pentelha de enfrentar. Destaco também o Lamento, uma criatura pavorosa e deformada com vários braços e que cospe ácido verde. Agora, se tratando de criatividade máxima, há inimigos mais cabulosos e chefões que dão um show a parte. Como são vários e eu não quero dar spoilers, vou citar apenas três: a Guardiã, uma monstruosidade gigante formada por restos de corpos e que ataca com uma serra; Obscura, uma mulher cujo a cabeça foi substituída por uma antiga câmera fotográfica e possui três pernas (tripé, sacou?); e Anima, uma assombração que o mata instantaneamente sugando sua alma.

Anima é rápida e imune a dano, portanto não deixe ela te ver.

Tais criaturas, em sua maioria femininas, são criações da mente deturpada do fotógrafo Stefano Valentini. O vilão arrumou um jeito de usar o STEM para moldar tudo à sua maneira e assassinar pessoas para seu próprio deleite artístico, uma vez que ele fotografa o momento exato da morte de suas vítimas. Stefano é o vilão da primeira metade do game, que depois cede espaço para outro psicopata: o padre Theodore Wallace. O fanático religioso também consegue transformar STEM, criando suas próprias criaturas. O que ambos tem em comum? Além de uma excelente personalidade, eles buscam o mesmo objetivo: achar Lily antes de Sebastian e usá-la para expandir seus poderes.

Visualmente, The Evil Within 2 tá bem bonito e não possui mais letterbox (aquelas faixas pretas de cinema). Pra quem curte, após terminar uma vez a opção é desbloqueada pra quem quiser jogar desta maneira. Eu não curto, tanto que usei um aplicativo chamado Flawless Widescreen pra retirar as faixas no game de PC. Aliás, fiz questão de jogar a sequência também no PC e num monitor ultrawide. O jogo rodou lindão e sem travadas, provando que a nova engine proprietária da Tango Gameworks, chamada Stem Engine (uma modificação da id Tech), dá conta do recado.

Jogando em resolução ultrawide (PC), o aproveitamento de tela é muito melhor.

Encarando o Pesadelo

Sobre a dificuldade, uma dica valiosa: jogue no Pesadelo. Do contrário, escolhendo a dificuldade Sobrevivente (Normal), você não usufruirá de todo o potencial do jogo. Eu fiz essa burrada, mas só percebi o quanto esta sequência está mais fácil (ou acessível, como dizem por aí) quando estava no capítulo 6. Na hora não tive coragem de refazer tudo, mesmo tendo 11 capítulos pela frente (são 17, ao total), e ainda assim me arrependo. Após 22 horas de jogatina, eu havia morrido apenas quatro vezes. Mesmo com a escassez de itens para criar munições, a quantidade de ervas (para fabricar seringas que recuperam saúde) é muito grande. Kit médico então, nunca usei.

Após terminar o jogo, é desbloqueado a famosa opção Novo Jogo+ e o Modo Clássico. Esse sim eu não tenho coragem de encarar: não há salvamento automático, o número de salvamento é limitado e as armas e habilidades não podem ser melhoradas. A Magnum (do primeiro game) e três trajes para Sebastian também são liberados após concluir o game uma vez na dificuldade Sobrevivente.

Olha o bicho vindo, moleque.

The Evil Within 2 apresenta, de fato, uma história muito mais clara, mesmo com a quebra constante de regras no mundo de fantasia do STEM. Sebastian também é melhor explorado na trama, fortalecendo o vínculo emocional com o jogador. Você se importa com ele a todo momento, inclusive reagindo fisicamente à situações de vida ou morte no game. Em muitos momentos eu apertei forte os dedos do pé ou me inclinei pra trás como reflexo do medo proporcionado. É também muito gratificante perceber que, do começo ao fim, os inimigos são capazes de te surpreender. Da mesma forma, você pode surpreendê-los usando elementos do cenário para escapar ou criar armadilhas, como atear fogo numa poça de gasolina. É só uma pena que eles são indiferentes à luz da sua lanterna: pode piscar que nem doido que eles não irão suspeitar de nada.

O game conta também com uma ótima dublagem em português feita pela Maximal Studio, que possui no currículo jogos como Gears of War 4 e Rise of Tomb Raider. Escolheram muito bem o elenco de vozes, principalmente para o protagonista, Kidman e o vilão Stefano (assista ao comparativo). Sou fã dos caras e deixo aqui mais um elogio pro estúdio. Por fim, só tenho a agradecer pela experiência toda: o final é incrível e me deixou emocionado. Sim, há uma ponta solta pra continuação e, num mundo onde Silent Hill não existe mais (graças às cagadas da Konami), eu só tenho a agradecer a Bethesda por apoiar franquias como esta.

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