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Semana passada foi a vez de achar que Dead Cells era o melhor indie de 2018 e durante um bate-papo que tive com o Renato Moura Jr., outro colega e colaborador do Gamerview, pontuei os motivos de ainda ter espaço para um bom jogo independente esse ano. E pelo visto ele apareceu!

The Messenger, desenvolvido pela Sabotage Studio e distribuído pela Devolver Digital, chega para ocupar não só o lugar de “o melhor” como também oferece uma experiência de gameplay inusitada e diferente. Além de tudo isso e com o que mais que você poderá ler abaixo daqui a pouco, esse lançamento é o responsável por resgatar Ninja Gaiden para uma geração gamer totalmente nova. Com elegância e competência nós viajaremos no tempo entre gerações para aproveitar um game que vai além de uma simples tentativa de reproduzir um sucesso dos anos 80, mas que consegue criar um mundo novo e com uma identidade própria sem depender em nada das suas referências e inspirações do passado.

Viajando no tempo

Despretensiosamente, o jogo começa com você no comando de um jovem aprendiz no caminho ninja, em uma vila rodeada por lendas. Em uma delas, um ninja lendário virá do oeste com um pergaminho sagrado para evitar o ataque do exército de um demônio. Já contando com o humor inerente dos jogos da Devolver, esse ataque acontece logo no começo do jogo e esse Mensageiro (entenderam o título de tudo agora?) do oeste chega atrasado para evitar o massacre da vila.

Uma imagem do jogo The Messenger
Já com muito humor e sem grandes explicações, sua jornada começa

Como se não bastasse, ele entrega o pergaminho para o seu personagem e faz de você o mensageiro que deverá ir até o topo de uma montanha para descobrir o poder selado naquele artefato mágico que carregaremos por toda a aventura. Essa é a premissa básica de narrativa do jogo, se desenrolando com o passar de fases pelas cinco primeiras horas do jogo. Todo trabalhado no estilo pixelado da geração 8-bit, The Messenger cria labirintos interessantes e repletos de inimigos para você enfrentar, sem contar os chefões dessa primeira parte do jogo. Talvez eles não sejam os mais desafiadores, mas com certeza possuem ideias muito boas colocadas na movimentação e ataque para você morrer uma ou duas vezes até entender como vencê-los.

Sobre as mecânicas na primeira parte do jogo, você tem habilidades disponíveis para serem compradas e, para isso, precisa coletar os cristais que estão pelo cenário ou são derrubados ao derrotarmos os inimigos. Essa etapa do jogo em que você precisa entrar na loja (que também funciona como checkpoint) é uma das melhores; você conhecerá o Shopkeeper (lojista), um ser estranho azulado e encapuzado que não mostra o rosto a não ser pelos olhos brilhantes.

Ele venderá os upgrades e também terá as melhores opções de conversa para você, sempre com muito sarcasmo e humor, além de fazer referências aos jogos em que o próprio The Messenger se inspira. Ironicamente ele possui um armário e, ao tentarmos abrí-lo, teremos o melhor “textão gamer de Facebook” até hoje já escrito, porém não se engane achando que esse NPC é descartável, pois ele e o seu armário são fundamentais para o plot twist na história.

Uma imagem do jogo The Messenger
Essa lojinha reserva grandes surpresas para você

Ainda comentando sobre a jogabilidade e o que temos disponível, o Mensageiro possui controles simples e que vão complicando ao longo do jogo. Tudo contribuindo para uma curva de aprendizado muito tranquila e fácil de ser assimilada. Como novidade, você não terá um pulo duplo, porém após pular e acertar itens do cenário, inimigos ou projéteis, você conseguirá dar um segundo pulo seguido.

Essa nova mecânica expande muito as maneira de combater os inimigos, até mesmo sobreviver aos ambientes mais difíceis e que exigirão habilidade para se manter longe do buraco que espera você para a morte. Como evolução do personagem, você também terá garras para se segurar nas paredes, capa para planar e um gancho, todos eles apresentados de maneira cômica e leve.

8 ou 80, não… 8 e 16!

Sem dar muitos detalhes sobre a progressão e o que acontece de inesperado, apenas posso afirmar que num determinado momento do jogo você será enviado ao futuro. Essa viagem do personagem também acontece no visual e trilha sonora, deixando de lado o 8-bit para apresentar um novo jogo em 16-bit.

O melhor dessa mudança é que o jogo vai caminhando e mostrando como se estivéssemos indo para o seu final, para quando menos esperarmos, revelar algo muito impactante e fazer essa virada na história, no visual, na trilha sonora e no gênero. A construção da narrativa depende muito dos estilos de jogabilidade propostos pela Sabotage; inicialmente apresentado apenas como plataforma e com diversos labirintos horizontais e verticais para você explorar e derrotar diversos inimigos.

Na segunda metade, The Messenger sofre uma mudança drástica e passa a ser um metroidvania, muito competente por sinal, para complementar tudo o que já exploramos e enfrentamos.

Uma imagem do jogo The Messenger
Esse é um dos, senão o chefe mais legal de enfrentar

Serão mais algumas boas horas de jogo indo e voltando através dos cenários já visitados, porém agora com uma exploração diferente: os jogadores poderão alternar entre os cenários em 8-bit e 16-bit em tempo real enquanto jogam. Essa mudança de jogabilidade favorece uma nova e terceira experiência de gameplay, que confesso ter sido uma surpresa muito boa e gratificante, renovando completamente a minha vontade de continuar jogando.

Foram quase seis a sete horas para chegar nesse ponto, fazendo com que um novo The Messenger abrisse para mim e deixasse tudo ainda mais interessante e mais complexo. Novas habilidades, novos inimigos e as fases, que antes eram mais lineares horizontalmente, agora ganharam novas áreas e desafios. Os desenvolvedores tiveram o cuidado de amarrar essas mudanças com a história, deixando tudo muito bem explicado para que um ciclo de início, meio e fim fosse concretizado, sem apenas um reset gratuito.

Uma imagem do jogo The Messenger
8 e 16-bit rodando ao mesmo tempo num mesmo cenário

O que não me agrada muito no jogo é o sistema criado para penalizar a morte do personagem. Um diabinho vermelho acompanhará você por alguns instantes para coletar os cristais, como um pagamento por reviver você, ao invés do seu personagem acumular essa quantia.

No entanto se ficamos parados ou se enfrentamos algum chefão, esse NPC simplesmente desaparece. Aliado à falta de vidas, o jogo acaba ficando um pouco mais fácil do que os jogos que serviram de inspiração. Nada que comprometa a diversão e a jogabilidade, pelo contrário, facilita e funciona como atrativo para os mais curiosos ou menos habilidosos tentarem ir até o fim da história.

Uma mensagem dos indies

Ao final, o que fica é a mesma sensação gratificante que sentimos quando Shovel Knight foi lançado, resgatando o sentimento nostálgico e adicionando a ele uma carga completamente nova ao propor um jogo diferente ao mesmo tempo em que nos é familiar. The Messenger se preocupa não só com a jogabilidade e a história, mas aos detalhes para passar uma experiência gratificante, repleta de desafios e bom humor.

Uma imagem do jogo The Messenger
Só mesmo o bom humor da Devolver para salvar a existência desse NPC

O visual é impecável e muito bem representado, seja nas duas gerações pela qual o jogo passa, com a trilha sonora seguindo o mesmo caminho e sendo MUITO viciante e agradável; apenas como detalhe interessante, a trilha sonora foi composta pelo Rainbowdragoneyes, com diversos trabalhos disponíveis no Spotify, e utilizando o Famitracker, para dar aquela sensação ainda maior de nostalgia.

Detalhes como os diálogos com o Shopkeeper, alguns chefões que contribuem para o seu avanço, a leveza nas conversas com demais personagens pelo caminho que nos fazem parar para ler todos os textos, o plot twist na metade e a mudança de visual e estilo, fazem desse o melhor jogo indie do ano.

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