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Durante a conferência da Square Enix na E3 2018, um título em específico conseguiu intrigar a todos: The Quiet Man. No pouquíssimo que havia sido mostrado, tudo que podíamos deduzir é que o jogo mistura live action com trechos de gameplay, que seria focado em narrativa e que o protagonista era surdo. Como apenas quatro meses se passaram no intervalo de tempo entre a E3 e seu lançamento, vimos só alguns trailers focados nas cenas live action, ficando difícil de imaginar como a experiência realmente seria.

The Quiet Man possui uma proposta no mínimo interessante. Afinal, foi dito pela Square Enix que o fato do protagonista ser surdo tornaria o jogo quase que completamente mudo, onde não escutaríamos nada, apenas as vibrações ao redor. Não satisfeitos em serem ousados o bastante com essa ideia, eles ainda optaram por misturar live action com trechos in-game, o que não costuma ter um bom histórico nos videogames. Enfim chegou o momento de descobrirmos se a Square Enix e a Human Head Studios realmente conseguiram revolucionar a narrativa de games ao seu próprio modo.

Bizarramente conceitual

Como dito na introdução, quando jogamos pela primeira vez não escutamos um único diálogo do início ao fim. Assistiremos cerca de 2 a 3 horas de filme (já incluindo o gameplay) e tudo que veremos será um elenco desempenhando seus papéis da maneira mais desmotivada possível e abrindo e fechando a boca sem emitir nenhum som. A trilha sonora também é ausente, mesmo que vez ou outra uma música muito tímida apareça ao fundo – mas nada que tire a nossa experiência de estar na pele de uma pessoa surda.

Será que vou poder explorar tudo isso? Acho que não…

Na primeira jogatina, você terá que ir adivinhando todo o plot do jogo baseado no que se está vendo, já que não contaremos com diálogos nem nada que explique o que está acontecendo ali. Tudo que posso dizer (sem dar spoiler) é que nosso protagonista teve a mãe assassinada na sua frente quando era criança e agora ele busca vingança. É simplesmente impossível conseguir adivinhar o resto, já que tudo é muito confuso e nitidamente forçado, com traições acontecendo a todo momento e um misticismo que surge repentinamente sem mais nem menos.

Não tenho nada contra o fato de terem usado atores reais para contar a história, desde que fosse bem balanceado com o gameplay e que houvesse cuidado na criação de ambas as partes. Infelizmente, não é esse o caso. Primeiramente, é evidente que a proposta do game saiu pela culatra, pois deixar um jogo mudo é torturante demais para o jogador. No começo você pode até estar conformado com a ideia, mas passado 1 hora de gameplay é bem provável que você tenha perdido o interesse na trama e queira parar de jogar.

É válido enfatizar que a atuação dos atores escolhidos é realmente lamentável. Eu não conseguia parar de pensar na abertura do primeiro Resident Evil, que até hoje é vítima de chacota pelos fãs. É claro que não era de se esperar que colocassem atores e atrizes famosos para atuar em The Quiet Man, e não tem muito do que reclamar se tratando da produção das cenas live action, que não são absurdas mas também não pecam. O que incomoda é que essas cenas compõem 75% do jogo, e ficar assistindo aquela gente (sem som algum, ainda por cima) se torna uma tarefa ingrata.

Isso aí é o vilão do jogo… Pelo menos era pra ser.

O próprio jogo não consegue sustentar suas próprias ideias, já que em todas as cenas as pessoas se comunicam com o protagonista por meio da linguagem verbal e não usando a linguagem de sinais, que chutando alto aparece apenas em umas três cenas no jogo inteiro. Até mesmo o garoto surdo se comunica verbalmente, o que não faz nenhum sentido! Se o protagonista consegue “escutar” tudo que lhe é dito e responder do mesmo modo, por que diabos nós não conseguimos?

Se serve de consolo, após terminar a história uma vez liberamos todos os diálogos e sons da campanha, então você poderá rejogar escutando tudo para que assim, quem sabe, consiga entender o enredo do game. O único problema é que, muito provavelmente, se você teve coragem e paciência de jogar até o final, o jogo já estará tão queimado no seu conceito que você nem se dará o luxo de jogar novamente.

Esmagando botões

Se você está pensando que o gameplay pode ser o que salva The Quiet Man, aqui vai outra decepção. O jogo é um beat ‘em up, então tudo que faremos é sair espancando vários inimigos que surgem no nosso caminho. Mas não é isso que o torna ruim: todos os trechos são extremamente curtos, onde passar dos 5 minutos de jogatina antes de entrar em outra cena live action é raridade.

O cara da esquerda nem sabe o que está acontecendo.

Não há exploração, não há interação com o cenário, você literalmente só anda e bate nos inimigos. O combate é super limitado e entediante: você soca, chuta, esquiva e agarra, não podendo misturar botões e criar combos, nem nocautear usando elementos do cenário. Tudo que você faz é esmagar o mesmo botão do início ao fim do conflito. Ainda existe um modo Foco, que funciona como um limit break onde seu personagem desfere vários golpes rápidos e consecutivos no oponente, finalizando com um nocaute sem graça.

O que realmente impressiona é a preguiça dos desenvolvedores, ainda mais por carregar o nome da Square Enix, que não só publicou como também participou do desenvolvimento. Em todos os combates você enfrentará vários inimigos iguais, sendo muito comum você ter até três personagens com a mesma aparência ao mesmo tempo no cenário.

Em pleno 2018, com a capacidade das plataformas atuais de carregar tantos personagens diferentes simultaneamente, esse tipo de coisa é inadmissível. Chega a ser engraçado o fato de que apenas os personagens envoltos à trama tem cabelo, sendo todos os outros NPCs carecas. Pelo jeito os desenvolvedores resolveram economizar tempo na modelagem dessa galera. Pelo menos não dá pra reclamar dos gráficos, que mesmo não sendo espetaculares ainda são bonitos.

Ninjas, mal posso ver seus movimentos.

A parte técnica também é deplorável. Não pude experienciar um único trecho de gameplay sem ver inimigos atravessando elementos do cenário, paredes ou até eles mesmos. Parece que nada é sólido nesse jogo, inclusive seu protagonista, que por vezes ao golpear tem o braço ou a perna atravessando o inimigo como se fosse um fantasma. Os adversários também congelam com muita frequência, o que pode acabar te impedindo de concluir a luta e te obrigando a voltar do início do capítulo, já que o game só salva entre um capítulo e outro.

The Quiet Man tem uma proposta interessante, mas que infelizmente foi muito mal executada. Nem o patch intitulado Answered, que adiciona som ao game, salvou o estrago já feito. Se ainda assim você tiver interesse no game, o conselho que dou é esperar ele ser oferecido gratuitamente na PlayStation Plus (e será, pode anotar) ou uma promoção que o deixe bem barato. Enquanto isso não acontecer, passe longe deste título.

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