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A King Art Games é um estúdio alemão com poucos anos na indústria se comparado com tantos outros, mas que sempre vem tentando construir uma identidade própria em seus jogos. Tendo foco principalmente nos adventure point and click, você já deve ao menos ter ouvido falar de alguns dos títulos do estúdio, como The Book of Unwritten Tales e o controverso Black Mirror, onde você que leu o nosso review sabe que não é a melhor experiência point and click que você terá na vida.

Mas o jogo que falaremos aqui hoje pode até ser chamado de cult, porque passou batido por muita gente, e ainda assim consegue ter uma essência que de longe o torna o melhor jogo da King Art Games. Em 2013 eles estavam lançando The Raven: Legacy of a Master Thief, um game que aborda investigação, reviravoltas e a eterna perseguição de gato e rato no melhor estilo Agatha Christie. Parece que a King Arts realmente não quer esquecer do seu queridinho, e agora temos essa versão remasterizada para a atual geração de consoles, para assim quem sabe um novo público consiga ser atingido.

O legado do ladrão dos ladrões

O jogo se passa em diversos países, indo desde a Europa até o Egito, mas tudo gira em torno de uma pessoa: o famoso ladrão de joias históricas, o Corvo. Famoso por roubar diversas pedras preciosas de vários museus pela Europa, o ladrão foi dado como morto após ser baleado por um policial, chamado Legrand – esse que entrou para a história como o homem que derrotou o Corvo. Alguns anos se passaram e sem mais nem menos uma misteriosa figura aparece e rouba um valiosíssimo diamante chamado Olho da Esfinge, e o modus operandi é o mesmo do Corvo, fazendo com que uma nova investigação se inicie. Você é o policial Anton Jakob Zellner, um homem de meia-idade que sente que nunca fez nada de grandioso na vida, e agora vê uma oportunidade de ter o seu momento ao encontrar e capturar o Corvo.

Imagem do jogo The Raven Remastered
Prepare-se para fofocar muito.

O jogo é um point and click bem básico, porém ele não segue esse modelo moderno da Telltale e sim o dos clássicos da LucasArts. Você tem todo um ambiente para explorar e pessoas para conversar, deve explorar cada cantinho em busca de itens, e depois deve encontrar o momento exato de usar aquele item. É aquele tipo de jogo que você se perde o tempo inteiro e passa um bom tempo andando pra lá e pra cá tentando descobrir o que fazer, mas sua dificuldade não chega nem perto dos jogos da LucasArts, que tinham puzzles muito mais complexos.

Dividido em três capítulos, você só visitará três locais no jogo inteiro: um trem, um cruzeiro e um museu. Pelo foco desse tipo de game ser na história, você vai passar o tempo inteiro conversando com NPCs para coletar informações, então pode se preparar que mesmo estando interessado na trama, uma hora ou outra vai te dar sono. Os momentos de exploração não se salvam muito dessa monotonia também, onde os personagens fazem questão de andarem na menor velocidade possível e o jogo insiste em ter loadings razoavelmente longos em cada transição de cenário.

Imagem do jogo The Raven Remastered
Nunca encare alguém dessa forma, pro seu próprio bem.

Ainda assim, o enredo de The Raven é o real motivo que fará você jogá-lo até o final, pois muito provavelmente se você não se interessar logo de cara, vai parar ali mesmo. Para os fãs do bom e velho Sherlock Holmes (ainda mais se você jogou e gostou dos jogos mais recentes do personagem), é sempre muito divertido jogar esses jogos com pegada de investigação, e The Raven te proporciona uma experiência bem considerável nesse ponto, mesmo que tudo seja do mais clichê possível. Admito que mesmo com tudo sendo previsível demais, não pude evitar de me surpreender com os plot-twists do jogo, que conseguem brincar com a mente do jogador e fazer você pensar uma coisa quando na realidade é outra totalmente diferente.

Remaster?

Ultimamente estamos recebendo uma onda de remasterizações totalmente simbólicas, onde você mal nota alguma diferença do original para o polido e se nota, ela é mínima. Esse tipo de remasterização “fake” não vem de agora, já que faz muitos anos que a indústria de games se empolgou na arte de remasterizar jogos e vender a preço de jogo novo. No caso de The Raven, considero que o Remastered está lá só para indicar que é a versão da atual geração, porque ele mais parece um port do que uma remasterização.

Os gráficos continuam idênticos com a versão de PS3 e 360, nem sequer um contraste maior foi inserido, e os bugs da engine continuam lá, fazendo personagens atravessarem coisas sólidas, se moverem abruptamente e agindo como os bonecos mal programados que eles são. É até estranho de pensar que nem mesmo os loadings foram melhorados nessa versão, porque o mínimo que podia ser feito era uma melhor otimização nos consoles de hoje, que obviamente são muito mais potentes e conseguem processar as coisas muito melhor.

Imagem do jogo The Raven Remastered
Isso aqui não é Grim Fandango?

Se você lembra do review do Black Mirror, então saiba que os personagens em The Raven são tão mortos quanto os de Black Mirror, pois a engine dos dois jogos é a mesma. Não existe expressão facial, eles nem sequer mexem uma sobrancelha, apenas piscam e mexem a boca para falar. No caso desse game acho que o peso disso foi muito menor, pois como Black Mirror era um jogo de terror, esse tipo de coisa era muito mais necessário, mas aqui seria legal ter por mero capricho. Ao menos a dublagem é excelente e todas as vozes combinam muito bem com seus personagens, e é isso que transmite toda a vida e emoção nos diálogos, que felizmente nesse caso são muitos, então essa parte foi bem explorada.

As músicas do jogo são todas instrumentais e muito relaxantes. É aquele tipo de música que você só escuta em filme indie europeu e de alguma forma consegue se encaixar bem no game. Ainda assim, a trilha sonora não é nada impactante ou memorável, ela só está lá desempenhando seu papel e você provavelmente não terá problemas com isso, então ao menos nesse ponto não houve falhas.

Imagem do jogo The Raven Remastered
Museus conseguem ser legais até nos jogos.

Se você foi uma das poucas pessoas que jogaram The Raven antes disso, saiba que caso você queira adquirir essa versão será apenas para jogar em um console diferente, porque está tudo idêntico. Caso você esteja no time da maioria que nem sequer sabia da existência desse jogo, ele é recomendado pra quem curte uma boa investigação com uma historinha clichê e descontraída.

Infelizmente poucas empresas dão tanta atenção aos remasters como algumas outras, como é o caso da Square Enix que ao remasterizar a saga Kingdom Hearts para o PS3 refez o jogo inteiro basicamente, com adaptações na jogabilidade e trilha sonora completamente renovada. É isso que define a qualidade de um remaster, não só uma pincelada leve nos gráficos, mas sim toda uma correção de problemas antigos e uma inserção de elementos que faziam falta na primeira versão. Vamos esperar que um dia todas as desenvolvedoras aprendam isso.

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