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Os seres humanos são uma das mais curiosas e fascinantes espécies. Assim como muitos mamíferos, somos criaturas sociais e que prezam pela convivência em grupos e em liberdade. No entanto, começamos a nos confinar cada vez mais com o avanço da tecnologia. Ainda podemos ser livres, mas existe uma prisão da qual muitas vezes se é impossível fugir, e The Shattering nos oferece um tour por uma destas prisões.

Com um lindo visual monocromático, The Shattering nos traz uma aventura por dentro de uma das mais intricadas máquinas: a mente humana, com seus infinitos corredores, acervos de memórias e fantasmas não enterrados vagando por aí. Por outro lado, The Shattering vem para nos mostrar que, independente do quão fundo acreditamos estar dentro de nossas próprias celas psicológicas, nós podemos sair.

Você não sabe de nada

The Shattering conta a história de John, um homem atormentado pelos acontecimentos de seu passado. Envolto em mistério e preso na constante tortura entre as idas e vindas de sua psique, John busca ajuda – ou será que busca mesmo? Preso em uma sala toda branca, com um grande relógio que parece não obedecer nenhuma lei e duas poltronas, ele permanece sentado. Até que o gravador à sua frente começa a conversar com ele, dizendo que a cura só virá caso o protagonista se abra e faça as escolhas.

Imagem do review de The Shattering
Muitos mistérios se escondem nos detalhes das nossas mentes.

Com isso começamos uma viagem introspectiva pela mente fragmentada do homem. Teria ele sofrido algum trauma durante a infância? Por que ele já não consegue escrever? E o que é este acidente que persegue suas noites de insônia e preocupações? Tudo isso será respondido através de uma narrativa de suspense muito bem feita, algo como um encontro de The Stanley Parable com O Iluminado.

Com essa teatralidade febril, The Shattering bombardeia os sentidos do expectador de todos os lados, trazendo um passeio pelo subconsciente. O maior exemplo disso se dá logo no começo do jogo, onde vemos John chegando ao hotel no qual se hospedou no passado e local onde muitos dos seus problemas saíram de controle. Durante a nossa exploração pelo local, podemos ver inúmeros acontecimentos bizarros, como corredores infinitos, garrafas de vinho que se multiplicam e o tempo simplesmente escorrendo de horas para dias em questão de minutos.

Seguindo por esta confusa narrativa, o jogador deve utilizar o mouse para analisar o cenário e poder interagir com itens e objetos nos locais onde as memórias se passam. O que é interessante, pois em alguns momentos você terá de fazer escolhas entre quais itens e objetos irá escolher. Um exemplo disto é quando o doutor nos pede para pegar algo que nos fará ver melhor, com isso podemos escolher entre um par de óculos ou um frasco de comprimidos. Uma vez que a escolha por um objeto tenha sido feita, o outro irá desaparecer.

Imagem do review de The Shattering
All work and no play makes John a dull boy.

Ou seja, o game não transpira cenas de alta emoção ou cheias de adrenalina. É um jogo cadenciado de mistério todo focado em uma narrativa fantasticamente arquitetada pelo subconsciente de um homem em pedaços, assim justificando o nome do jogo, The Shattering. O jogo conta com belos gráficos monocromáticos que servem para dar um tom ainda mais impactante nas cenas que assim se retratam, como quando acessamos as memórias reprimidas de John quando ainda criança.

Em seu pequeno quarto, o garoto parece ser o rei daquele mundo, vivendo inúmeras aventuras com seu ursinho de pelúcia. Nas cenas onde existem cores, ainda que em objetos pequenos, elas se destacam com tanta força que nos fazem parar para perceber como muitas vezes a poluição visual em outros jogos pode tirar a atenção de pequenos detalhes. Os gráficos, ainda que simples, funcionam muito bem para o jogo, trazendo uma experiência intimista para o jogador.

imagem do review de The Shattering
Combustível para pesadelos?

Mente sobre a matéria

Claro que o jogo possui alguns problemas, como muitas vezes a história acabar por dar um nó em si mesma, ou algumas pequenas quedas de frames aqui e ali. Ainda vai exigir um pouco de conhecimento da língua inglesa, já que ele não possui localização em Pt-Br, mas não é extremamente desafiador como em Du Lac and Fey. Mas no quadro geral, the Shattering entrega uma ótima história, que é capaz de fazer com que o jogador se sinta imerso nesse mistério.

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