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Haverá um dia onde nem mesmo nossas mentes poderão esconder os segredos do passado. Assim em The Signifier, o projeto Dreamwalker toma forma e guia os passos de nosso protagonista Frederick Russell. Frederick é o responsável por criar uma tecnologia capaz de acessar os sentidos registrados e reinos inconscientes da mente, além de poder explorar os estados objetivos e subjetivos da mesma, abrindo assim um dialogo com o jogador sobre até aonde se deve permitir a introdução da tecnologia.

Desenvolvido pela Playmestudio e distribuído pela Raw Fury, The Signifier é mais um dos excelentes títulos que chega a nós. Com uma excelente escrita e escolhas que podem mudar o rumo da investigação, na qual Frederick se vê em meio o jogo, o título realmente nos faz pensar sobre aonde a busca por informação deve ir. É correto examinar a mente toda de um ser humano? Assim abrindo novamente antigas feridas e expondo ao mundo o cerne da alma?

Aqui está a semente

Assim como um livro, a mente humana pode ser dividida em inúmeras seções e capítulos que são escritos durante anos. Momentos alegres, perdas, sangue, risos e lágrimas permeiam e colorem as nossas memórias, trancadas dentro de nossa massa cinzenta. Algumas vezes podemos acabar maquiando memórias, as esquecendo ou simplesmente muda-las completamente. No entanto, esta é a beleza da nossa CPU enrugada, permitindo que momentos não se percam no tempo.

Imagem do texto de The Signifier
Oculi animae fenestram

The Signifier nos trás a história de Johanna Kast, a vice-presidente da maior companhia de tecnologia do mundo que é misteriosamente encontrada morta em seu apartamento. Assim que encontra Johana morta, seu marido entra em contato com a polícia que, por sua vez, resolve manter o caso em sigilo. A policia aciona o TSB, órgão responsável pela regularização da tecnologia no dia-a-dia da sociedade.

A TBS entra em contato com Frederick Russell, a mente por trás do projeto Dreamwalker. Com esta incrível tecnologia, Frederick, auxiliado por sua I.A, consegue acessar o “cérebro” de uma pessoa já morta. Desse modo as pessoas podem ter suas mentes transferidas para HDs, permitindo a Frederick acesso ao núcleo da mente das vítimas.

Caixa de brinquedos

A grande sacada de The Signifier é além deste diálogo de até onde é aceitável se explorar a mente de uma pessoa. Também é a de que nosso cérebro não registra tudo de maneira 100% cristalina, desta maneira, quando exploramos as memórias de Johanna, tudo parece um grande borrão, misturando-se paredes, móveis e cenários. Criando um visual semelhante as obras de Salvador Dali, no qual locais parecem estar derretendo ou em constante mutação.

Imagem do texto de The Signifier
Explorar uma mente, é como explorar um planeta alienígena.

Com isto, o jogador deve explorar tanto o estado objetivo e subjetivo da mente de Johanna. No estado objetivo da mente, vemos uma representação mais fiel e “real” dos cenários e eventos ocorridos na vida da jovem empresária. Já no estado subjetivo de sua mente, vemos um mundo “pessoal” de Johanna, aonde os fatos podem e estarão muitas vezes mais íntimos ou destorcidos. Dentro destes estados o jogador deve explorar e interagir com elementos presentes nas memórias.

Muitas vezes o jogador terá que “rebobinar” as memórias  afim de encontrar alguma fala pertinente ao caso. Usar algum ser presente dentro da memória para poder se locomover de maneira semelhante aos órgãos ali presentes. A mente em The Signifier funciona como um organismo, tendo até mesmo seus glóbulos brancos, que irão atacar o jogador. Assim certas áreas só podem ser atravessadas se utilizando um avatar criado a partir de algum humano ou animal presente no local.

Imagem do texto de The Signifier
Você deveria estar descansando no escorredor.

Além disto, os jogadores precisarão encarar o mundo do jogo com a mente aberta, pensando e repensando suas ações para poder atingir os objetivos necessários, assim como também precisam seguir a narrativa fora da mente de Johanna. Bem como é de se esperar, muitas pessoas irão se intrometer e tentar mudar o rumo das investigações e ações de Frederick. Frequentemente indagado pelo agente da TBS responsável pela investigação e antigos colegas da vítima, Frederick anda por uma corda bamba.

O Cavalo é o branco dos olhos

O gameplay de The Signifier é em primeira pessoa com alto foco em solução de puzzles e investigação, tanto no mundo da mente de Johanna quanto no mundo real. O jogador se verá visitando diferentes locais através do Dreamwalker e na cidade como, por exemplo, quando visitamos as lembranças da jovem em sua casa quando criança. Logo depois vamos ao mesmo local, na atualidade, aonde vemos que o que antes era um lar acolhedor, agora é apenas uma pocilga.

Psicólogo dedicado, pai ausente.

Com a ajuda de Laura a I.A, Frederick vai desdobrando as rugas das memórias de Laura. Os gráficos do jogo são incríveis, dando a sensação de realmente estarmos explorando um sonho como, por exemplo, em um dos segmentos onde um corredor se estende desde a porta de entrada da casa até a porta de um carro em uma única reta, na qual paredes, portas e piso se unem em um vórtice de cores e texturas.

A trilha sonora é pouco presente em muitos segmentos, dando espaço aos sons da memória de Johanna, algo que achei extremamente perspicaz e interessante. Um exemplo: quando investigamos as memórias de infância no Dreamwalker, quando vamos à cozinha podemos ouvir a mãe de Johanna chamando a para jantar, mas quando avançamos para outros níveis subjetivos da mente, a voz da mesma está distorcida e irreconhecível.

Totalmente subjetivo.

The Signifier é um ótimo jogo de mistério e suspense, mergulhando os jogadores em um diálogo sobre até onde deve se permitir olhar dentro da mente de alguém e se o que lembramos é realmente como lembramos. É uma visita no íntimo de cada jogador, que faz com que o título possa acabar sendo um pouco confuso para certas pessoas, mas ainda assim uma ótima adição a coleção.

Review – Unicorn Overlord

Renato Moura Jr.Renato Moura Jr.16/03/2024