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A cada dia surgem novos “filhotes” que bebem diretamente da fórmula de sucesso criada por Dark Souls. Depois de Nioh ter surpreendido o mercado no início deste ano, chegou a hora de The Surge ter sua chance. Contextualizado entre as melhores referências sci-fi existentes em outras obras, o jogo desenvolvido pela Deck 13 tenta criar sua própria identidade e estilo de RPG de ação em meio a acertos e muitos erros.

Três anos após Lords of the Fallen ser bem recebido pelos jogadores e imprensa do mundo todo, a desenvolvedora alemã consegue inovar e criar mecânicas interessantes, porém não usa todo o potencial do plot principal e cria uma história fraca e problemas em dois dos principais pontos desse estilo de jogo.

Ponto forte: finalizar o combate desmembrando seus inimigos

Inovando um sistema já conhecido

Quando se tem um jogo com o estilo da série Souls, a mecânica de combate pode ser resumida em qualquer gif engraçado sobre atacar e esquivar com rolamentos. Este é mais um título que replica essa fórmula, mas que não conta com inimigos fracos, já que todos os outros funcionários da CREO, agora transformados em zumbis, podem te levar à tela de “Nenhum Sinal Vital Encontrado” que substitui a de “You’re Dead”.

Para dificultar ainda mais, matar um inimigo sem finalizações dificilmente te darão itens para upgrade e criação de armadura ou armas. Com certeza o desafio estará em você escolher uma maneira rápida e menos difícil de vencer um inimigo, mas sem a recompensa de itens que serão valiosos para você. Isso sem contar que a fórmula de morrer e voltar no local para recuperar o seu XP agora tem tempo, caso contrário toda a sucata será perdida mesmo se você não morrer no caminho de volta!

Acostume-se! Você vai cansar dessa tela

Simplificando o upgrade, sem a divisão costumeira entre constituição, força, stamina, destreza e inteligência, nesse jogo você usará a sua experiência entre subir de nível, o que automaticamente aumentará o seu ataque, defesa e a quantidade de energia capaz de suportar seus armamentos, implantes neurais e componentes mecânicos, e a criação de armas. A sucata obtida a cada inimigo derrotado será sua experiência e moeda de troca.

Filosofia de mais e história de menos

The Surge explora uma fórmula já conhecida: a guerra entre trabalhadores e grandes corporações, além de beirar a discussão entre ciência, tecnologia e humanidade. O grande potencial que o universo de ficção científica cria para esse título, ao invés da fantasia medieval que jogos no estilo Souls sempre carregam, acaba sendo desperdiçado por explorar muito superficialmente durante os sete cenários e os seis chefes que você encontrará.

Sua mira agora terá 6 novos pontos de ataque

No controle de Warren, um cadeirante que se candidata à uma vaga de emprego na CREO, corporação responsável por salvar a humanidade de problemas climáticos e outros que não estão num futuro tão distantes da nossa realidade, você acordará após uma cirurgia agonizante em um local devastado por uma catástrofe misteriosa.

Como se Elysium, aquele filme com Wagner Moura, encontrasse Demon’s Souls, pelo peso que cada armadura e arma possuem nesse universo, The Surge não se aprofunda no lore do jogo como seus antecessores de gênero, por meio de itens, e escolhe a mediocridade de audiologs e personagens secundários. Ambos não contribuem para a melhoria da história e apenas esbarram em clichês já conhecidos dessa temática sci-fi; a ética pelo hibridismo de humanos com máquinas, exploração da Terra a favor da tecnologia, a decadência humana a favor do avanço científico, etc. Quase como um livro barato que poderia se chamar “The Surge e a Filosofia”, não espere saber muito mais sobre o que você está vendo.

O futuro distópico tem seus problemas

Seja pelo visual sujo e decadente das instalações industriais e laboratórios vazios com sua iluminação sombria, a exploração nos revela fotografias belíssimas. O jogo da Deck 13 foge do mundo aberto que outros jogos prezam para apostar em cenários limitados e interligados. A beleza do visual de todas as instalações e a noção distópica de um futuro não tão distante impressionam, porém se não fosse pelo New Game+, com certeza você não voltaria nos locais já visitados.

O combate contra os chefes sempre é difícil e agradável

Se tratando de level design, The Surge segue com os mesmos problemas de Lords of the Fallen e mostrou que ainda não foi dessa vez que a desenvolvedora conseguiu trabalhar eficientemente a construção de cenários inteligentes e que dependem de cortes de caminho bem localizados para facilitar a exploração. O segundo cenário do jogo é prova disso: uma instalação gigantesca que fazem com que apenas um corte de caminho nos leve aos outros, depois de quase 1h de exploração. Nada de áreas opcionais, mas sim a obrigatoriedade de uma volta completa no estágio para iniciarmos as descobertas dos atalhos.

Não se sinta culpado se estiver perdido a cada cenário novo. Esse jogo não disponibiliza mapas, mesmo com tanta tecnologia à disposição. Você precisará prestar atenção em displays pelo jogo para decorar (ou salvar uma imagem) e usar sempre que não souber para onde ir.

Isso é o máximo de mapa que você terá no jogo

E se tratando de um cenário tão peculiar, com escadas, laboratórios, corredores de fábricas, túneis e dutos, este jogo é mais um exemplo de que a proposta de combate não foi pensada para a realidade da temática explorada no level design. Seus golpes não colidem com objetos ou paredes, o que também levam aos erros de movimentação e combate, afinal imagine personagens usando exoesqueletos e armas gigantes em um corredor ou sala de peças. O mesmo acontece com a área de hit dos personagens, que com certeza vão te iludir achando que você conseguiu se esquivar de um golpe, mas vão te acertar no último segundo te levando à morte ou cancelando seu ataque de finalização do combate.

A beleza do universo distópico causado pela CREO não teve coragem de criar elementos que dificultassem a exploração durante a jornada de Warren. Dificilmente você vai se sentir enganado pelo visual e acabará caindo em algum buraco, porém a Deck 13 preparou armadilhas ao colocar inimigos em posições estratégicas para te surpreenderem quando você menos esperar.

A surpresa e frustração do ano

The Surge ao mesmo tempo que surpreende pelas evolução nas mecânicas do jogo, mira e upgrade, acaba frustrando pela expectativa de um jogo que pudesse seguir os caminhos de Nioh. Com level design que não contribui para o combate e que reservam apenas aos chefões novas formas de combate, exigindo leitura e aprendizados rápido, o jogo falha ao insistir no combate pesado e difícil a cada corredor, ignorando a história e contando apenas com a jogabilidade para agradar os fãs do gênero.

O cavaleiro de aço em um mundo distópico e seu drone

Diferente da temática dark fantasy de outros jogos que seguem o estilo da série Souls, este não apresenta motivo para os inimigos retornarem da morte a cada visita ao centro médico. Da mesma maneira, o esperado catálogo vasto de armas acaba sendo resumido à poucas opções pela dificuldade de upgrade ou até mesmo sincronia com o estilo do armamento.

A simplicidade de mecânicas que contribuem para a evolução do jogo tem seu preço por banalizar a história e focar apenas no desafio do combate corpo a corpo. Ao final, as novidades acabam perdendo espaço para o pontos fracos e, assim como o drone que te acompanha na história e não acrescenta muito na jogabilidade, se torna irrelevante em um ano repleto de excelentes títulos já lançados e que ainda estão por vir.

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