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The Surge 2, a continuação do game souls-like de 2017 desenvolvido pela alemã Deck 13, sugere que o subgênero criado e popularizado pela From Software está se esgotando. Antes que pensem que se trata de um game ruim, devo esclarecer que não: está longe disso.

No entanto, a sequência também desenvolvida pela Deck 13 e distribuída pela Focus Home Interactive pouco faz para acrescentar ao formato souls-like algo de novo, ou mesmo ao que o primeiro game havia introduzido, com sua ambientação futurista e mecânicas de esquartejamento.

Ruína cyberpunk

A única diferença notável está na tônica dos ambientes, que trocam os laboratórios fechados pela cidade grande e florestas, além de outros cantos. Como era de se esperar, The Surge 2 aborda o impacto dos acontecimentos do primeiro game sobre o resto da sociedade, agora uma ruína cyberpunk.

Imagem do jogo The Surge 2
Dubstep ainda está na moda.

É interessante pensar, no entanto, que este pós-apocalipse cibernético ainda tenha espaço para um pouco de humor e leveza, já que agora vemos muitos mais personagens espalhados pelos cenários e ocasiões inusitadas como uma festa com música eletrônica que ocorre sem parar no topo de um prédio.

O que guia a trama, no entanto, é a conexão entre o protagonista e a garota Athena. Ambos estavam a bordo de um avião que cai misteriosamente nos arredores da cidade de Jericho, que depois torna-se um lugar caótico. Para desenvolver esta conexão, encontramos diversos hologramas pelo mapa.

Estes hologramas também indicam uma pequena diferença entre The Surge 2 e o game anterior: o ritmo, ao menos de início. A cada descoberta, o jogador também desbloqueia novas armas, não dependendo apenas da derrota dos chefes para expandir seu arsenal. Nas primeiras cinco horas, tudo corre de forma suave.

Que bom que não foi no Whatsapp.

Não só estas armas indicam uma maior variedade de equipamentos, como outras peças de armadura coletadas de inimigos são surpreendentemente diversas, quase firmando este como um jogo baseado em loot. O problema, no entanto, está na inconsistência que assola este ritmo inicialmente agradável.

Assim que o jogador já descobriu uma boa variedade de áreas iniciais, não dá para evitar o sentimento de que tudo acaba empacando a uma certa altura. Agora, a sensação de progresso horizontal e livre – como aquela em Sekiro: Shadows Die Twice – é substituída por portões na forma de chefes e níveis altos de oponente nas horas seguintes.

Batendo de frente com uma parede

Se antes The Surge 2 passava a remeter um metroidvania sob o formato souls-like, com ferramentas adicionais como o PEM e o gancho de força para acessar diferentes áreas, agora apenas existem becos sem saída, e a única maneira de avançar é enfrentar os chefes, o que de início parece razoável.

I’m Batman.

Infelizmente, apesar de muito superior ao combate em Dark Souls e Bloodborne, com sua dinâmica redonda de hack and slash, o game da Deck 13 já não impressiona após o que foi visto em Sekiro, que mesmo sendo mais desafiador que seus precursores, contava com um excelente e robusto sistema de defesa, esquiva e habilidades.

Falo de Sekiro pois, de certa forma, aquele game deixou aparente que, independente da dificuldade do oponente / chefe, a solução pode ser encontrada pela experimentação de diferentes abordagens de combate. Em The Surge 2, sinto que, como os games pré-Sekiro, há poucas alternativas para a vitória.

É praticamente tradição ter de se adequar ao chefe específico, mas assim o game não deixa de soar um pouco antiquado em 2019. Porém isto se torna um empecilho, de fato, pelo design inegavelmente falho de certas batalhas e da interação do jogador – e a câmera – com o cenário.

Imagem do jogo The Surge 2
Tamanho com certeza não é documento.

Por mais inesperado que seja, a primeira grande batalha de chefe do game, com um enorme robô com tentáculos, é a que menos se confunde visualmente, já que estabelece um ângulo de câmera distante e resolve bem a questão do lock-on nas partes em movimento da máquina.

É nas batalhas seguintes, como aquela do Capitão Cervantes e a criatura que surge logo em seguida, o Escavador, que os sistemas revelam suas falhas. Em ambas, a trava da câmera costuma perder o oponente de vista, e mesmo que em certas ocasiões isso seja proposital, o ângulo padrão apertado já não ajuda.

Perspectiva importa

O problema, portanto, não é o tamanho dos oponentes, e sim suas velocidades respectivas e os ambientes nos quais se encontram. Visto que o sistema de lock-on em alta velocidade já foi aperfeiçoado por Sekiro e funcionava muito bem no primeiro The Surge, aqui é decepcionante constatar seu mau-funcionamento, que ainda inclui curtos instantes de pouca responsividade dos controles.

Um chefe que gera dor de cabeça com a câmera.

Outro problema, que nos leva de volta ao fato de que chefes possuem soluções específicas, está na separação de classes de combate. Golias são os mais pesados e lentos, Sentinelas são o soldado padrão, Operador leva jeito com drones e máquinas, e assim em diante. Já os Implantes, que são habilidades complementares, ajudam a incrementar seu personagem.

Não há restrição para usar equipamentos de cada classe, mas esta distinção sempre força o jogador a avaliar os números dos equipamentos para cada chefe e não incentiva o encontro – e o funcionamento – de uma abordagem própria independente deles. Certos chefes só podem ser derrubados com uma estratégia, então selecione os implantes mais úteis e boa sorte.

Ao menos o loop de cortar membros dos oponentes para coletar peças específicas de armadura e novas armas continua plenamente satisfatório, embora não ganhe aqui uma nova utilidade. É dito que “não se conserta o que não está quebrado”, mas era possível acrescentar novas peças, não? A falta de um mapa, marcadores e viagem rápida, por exemplo, é um tanto inesperada.

Implantes ajudam a quebrar o galho.

Mais flexível que o game em si são suas configurações técnicas, que tem altos e baixos. A melhor parte está na opção de selecionar entre um modo de qualidade (4k a 30fps) e outro de performance (1080p a 60 fps), priorizando resolução e sacrificando taxa de quadros e vice-versa. Efeitos de pós-processamento podem ser removidos também.

A pior parte disso, no entanto, está em ter que fechar o game e abri-lo de volta para efetuar quaisquer alterações, o que deve levar três minutos em média. Ou seja, decida-se quanto ao modo de sua preferência e tente não mudá-lo muitas vezes. Ainda assim, há outras falhas visíveis em ambas as opções.

Visual sucateado

Sem mais enrolação, The Surge 2 não é um game bonito. Dando alguns passos atrás do título anterior, este apresenta problemas variados como screen-tearing, serrilhados, pop-in de texturas e até mesmo algumas engasgadas pontuais. Nisso, o game aparenta ter se originado da geração passada, e se segura apenas por sua direção de arte inspirada.

Imagem do jogo The Surge 2
Se olhar mais de perto… verá que o game não é bonito e aquela estátua não é bem uma estátua.

Em compensação, o departamento sonoro é competente, trazendo de volta aquela mesma sonoplastia satisfatória de metal chocando-se contra metal, lâmina chocando-se contra pele e carne, e tudo mais que ajude a tornar a brutal violência do game convincente. Sua trilha sonora, embora discreta, ainda evoca a atmosfera certa de cyberpunk.

Em suma, se a fórmula do The Surge original te agrada, fazendo passar horas mutilando oponentes para conseguir aquelas desejadas partes de armadura ou encontrando corta-caminhos para o centro médico mais próximo, não há erro neste aqui, que apenas representa mais do mesmo em uma nova ambientação.

Porém não deixo de acreditar que este game, que é sem dúvidas um título suficientemente funcional, poderia ter me surpreendido como os melhores souls-like são capazes. The Surge 2 pode ser um bom ponto de partida àqueles que não conferiram o primeiro ou outro game do gênero, mas não levará os viajantes de longa data a um curto circuito.

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